Quarenta e cinco centímetros de distância.
45 centímetros de distância entre Julie e Luke. Eles estavam no mesmo sofá, um sofá laranja desbotado, enquanto assistiam Johnny Bravo, que Luke colocou por causa de Julie, e comiam pipoca, que foi Luke quem fez, é claro. Julie Molina em uma cozinha era perigo constante.
Era uma imagem discrepante da realidade que os cercava, pareciam quase amigos, quase próximos. Como se convivessem diariamente, como se sorrissem um para o outro e converssassem um com o outro, sobre passado, presente, futuro e tudo que há no meio. Como se pudessem falar sobre quando Julie foi embora, sobre o que Julie havia dito no estúdio de Willie, sobre o que fizeram no celeiro. Sobre o tão, tão esquisito jeito que Julie se lembrava de um Luke que respirava arte, que vivia pela arte, que não passava um dia sem desenhar, pintar, cantar e como ele parece ter deixado tudo de lado.
Talvez ele não estivesse brincando quando disse à ela que era outra pessoa agora.
Mas ela tinha dificuldade de acreditar nisso, não que ela não acreditasse que as pessoas mudassem, ela sabia que sim. Ela havia visto de perto, como Carrie Wilson passou de uma menina tímida, para a super estrela com mais desenvoltura da TV mundial. Ela se lembrava um pouco de como ela era antes de tudo, antes que sua mãe os deixasse, antes que Marian se prendesse em seu mundinho de tristeza, antes que seu pai voltasse a afogar as mágoas nas bebidas, antes que começasse a prestar atenção nas palavras das pessoas da cidade. Ela era diferente, um pouco mais leve, um pouco mais feliz... Um pouco mais aberta. Ela ria, sorria, falava e escrevia e corria e brincava e acreditava em si mesma, no mundo, em seus pais e ela tinha esperança. Esperança de que tudo ficaria bem, esperança de que as brigas entre seus pais não passassem de maus entendidos, esperança de que os sussurros sobressaltados pela cidade acabassem eventualmente.
É, ela tinha mudado.
Ainda assim... Ainda assim parecia ridículo o fato de Luke não gostar mais de arte, porque não era uma parte da sua personalidade, não era um simples traço em seu caráter, era ele inteiro. Ele era arte, acreditava em arte, vivia arte, lia sobre arte, assistia documentários sobre arte.
Ele dizia que ela era arte. Antes de tudo.
E agora nada acontecia, ela se lembra de como ele parecia defensivo, quase magoado quando perguntou se ele ainda desenhava. Agora ele cuidava da fazenda e tirava sua renda de lá.
E ela queria perguntar porquê ele não pintava mais, e o que havia acontecido com o pai dele, e se ele namorou outra pessoa entre ela e Kayla, e quem havia decorado sua casa, e porquê ele havia escrito todas aquelas cartas e nunca enviado, e porque ele não estava mais sendo tão grosso, tão desprezível...
E, ela queria perguntar porquê ele não procurou contatar ela depois que ela foi embora. Porquê não mandou uma mensagem e o porquê dele não a ter pedido para ficar antes.
Antes quando ela comentava com ele que queria desesperadamente sair dali.
Não que fosse fazer diferença, ela iria embora de qualquer maneira. Nenhuma súplica a faria ficar, nenhum pedido a faria olhar para trás, nem o mais doce dos por favor conseguiria detê-la. E ainda assim ela queria ouvir um pedido dele.
O coração humano é enganoso, misterioso e deturpa nossos desejos, até que queiramos ir para esquerda e direita ao mesmo tempo, até que queiramos ficar e ir, quebrar e reconstruir, chorar e rir.
Não há explicação.
Mas ela não tinha direito de perguntar nada disso, porque eles não eram amigos, eles não eram nem colegas e seria ridículo dizer algo assim em voz alta. Ela sabia disso racionalmente, ela sabia que não era justo perguntar porquê ele não ligou ou enviou as cartas, quando ela mesma não fez nada disso.
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Deja Vu ️🌈⃤ Juke (Julie and the phantoms)
Fanfiction❝ - Vai embora! Você parece ser boa nisso. - As palavras cheias de mágoa e amargura saem da boca dele. - Você não tem o direito de jogar tudo nas minhas costas, não tem o direito de me chamar de egoísta. Não tem o direito de dizer que eu fui embo...