38● Prima de segundo grau

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Se olhou no espelho, estava acabada e não queria ir na festa de Flynn e Nick, mas Nicolas havia deixado bem claro que ela não tinha opção. Inspirou fundo encarando seu reflexo, os olhos grandes e escuros a encaravam de volta. Apoiou o rosto na mão e usou o momento só para lembrar de sua própria aparência. A pele marrom, os lábios cheios, o nariz bem desenhado e os cílios grandes, tudo isso emoldurado por inúmeros e delineados cachos que caíam por suas costas.

— Vai alisar seu cabelo? — Ela levou um susto com a voz, e virou-se desnorteada. Luke estava parado na batente da porta do quarto dos amigos que estava sendo usado por ela.

Os olhos dele mirando a prancha que já estava ligada. Julie não soube o que responder. Eles não estavam se falando desde o incidente das cartas, há uma semana atrás, nem mesmo para se atacarem como de costume.

— Não faça isso. — Disse suavemente, Julie apertou os lábios contrariada. — Seu cabelo é muito bonito.

E então, ele foi embora, deixando para trás uma Molina com a cabeça confusa.

— Garoto muito, muito estranho. — Ela sussurrou enquanto se levantava para fechar a porta do quarto.

Estava esperando Carrie chegar, pois não era uma boa maquiadora, diferente da amiga. Ela colocou os pés sobre a cadeira, deixando os joelhos perto do rosto e apoiou o rosto ali, sobre o tecido quadriculado de sua calça macia de pijama.

Abriu a gaveta da escrivaninha e encarou as cartas ali, até agora só havia tido coragem de abrir uma, e ela já tinha o suficiente para mexer com a mulher. Era tão idiota, desejava nunca ter derrubado aquela caixa, desejava nunca ter ido a casa dele, desejava nunca ter voltado para aquela cidade maldita em primeiro lugar.

Desejava nunca o ter conhecido. Sim, isso resolveria todos os problemas dela: Uma vida sem Luke Patterson. Uma vida sem aqueles olhos verdes, aqueles braços torneados, e aquele sorriso torto. Uma vida sem as palavras gentis, sem os abraços acolhedores, e sem alguém para defende-lá de velhas louras e católicas que são primas de segundo grau do capeta.

Ela agarrou a prancha com raiva, se Luke gostava do cabelo natural e cacheado dela, ela iria alisa-lo até não sobrar nem uma onda sequer. Chegou com ela bem perto de seu cabelo, mas não o alisou, ela não poderia, também preferia seu cabelo natural. Puxou o fio da tomada, dizendo para si mesma que estava fazendo aquilo por ela, e não pela opinião de nenhum fazendeiro intrometido.

Carrie chegou 20 minutos depois, com uma maleta de maquiagem e um vestido vermelho.

— Eu não vou usar isso. — Resmungou, fazendo uma careta em direção ao vestido.

— Vai sim. — Rebateu Carrie, Julie revirou os olhos. Carrie observou ela por um momento. — Você está estranha.

— Não estou.

— Está sim

— Não estou não.  — Ela desviou o olhar.

— O que aconteceu? — Perguntou a Loira, mas Julie manteve o olhar ao longe. — Você está estranha sim. Não fez nenhuma piadinha, nem foi tremendamente grossa nos últimos quinze minutos. Isso é preocupante.

— O que é preocupante é o quanto vocês cuidam da minha vida. — Encarou Carrie irritada, ela abriu um sorriso.

— Ah, aí está a Julie que todos conhecemos e amamos — Ela deu uma piscadela para mulher, que devolveu o dedo do meio.

Passou a meia hora seguinte maquiando Julie, e depois foi se auto maquiar.

— Experimente o vestido. — Carrie pediu, Julie franziu o nariz e negou com a cabeça.  — Se você experimentar e mesmo assim odiar, não precisa usar.

— Eu vou experimentar, mas apenas porquê estou entediada, e não porquê você pediu. — Disse ela com um sorriso enquanto pegava o vestido.

— O que você tiver que dizer para si mesma. — murmurou enquanto passava a sombra brilhante sobre os olhos.

Julie vestiu a peça de roupa e foi procurar um espelho pela casa, achou um no estúdio de gravação de Alex. Observou como o vestido vermelho sangue se encaixava em seu corpo, uma faixa fina de tecido sobre seus ombros, a saia esvoaçante, e um corpete transparente.

— Não é horroroso. — Gritou, sabia que apenas Carrie iria ouvi-la, Alex e Willie estavam se arrumando na casa de Flynn, para gravarem toda a decoração da casa enquanto ainda estivesse vazia, para o canal do YouTube do loiro, Julian estava preso no escritório do primeiro andar em ligação com sua mãe, e Luke estava sabe-se lá deus onde.

— Eu sabia que você ia gostar, assim que vi no display achei sua cara. — Gritou Carrie de volta. Julie correu de volta para o quarto, colocou brincos pequenos de pérolas falsas, e um colar dourado com pingente de estrela em volta do pescoço.

— Você pode fazer um coque no meu cabelo, por favor? — Pediu Julie, Carrie assentiu e se aproximou arrumando o cabelo da amiga em um coque elegante, com alguns cachos teimosos fugindo.  — Obrigada.

Julie se levantou para procurar seus saltos vermelhos, ia ser a dama de vermelho aquela noite, pois além do vestido e dos sapatos, seus lábios também estavam pintados de um  escarlate vivo e vibrante.

Desceu as escadas, decidida a ir para festa sozinha, já que Carrie havia dito que não precisava espera-lá. Ela entrou em seu carro, apesar da casa de Flynn e Nick não ser distante de onde ela estava no momento. Chegou às oito em ponto, atrasada meia hora, mas não se importava. Ela deu uma boa olhada na fachada da casa, linda e grande. Pelo menos seis vezes maior que seu apartamento em Nova Iorque.

A casa era branca e verde água, elegante e contido, como Flynn. Ela estacionou e saiu, passando a mão nervosamente pela saia do vestido, foi até a porta e a abriu, sem bater, porque em dias de festa, o local do evento sempre ficava destrancado, os moradores de May Far tinham uma confiança questionável uns nos outros. Logo todas as luzes amareladas e esbranquiçadas cegaram-na temporariamente. Ela deu dois passos para frente antes de subir o olhar para o topo da grande e imponente escada no meio da casa.

No segundo andar, Luke Patterson tinha os olhos presos nela, parou no lugar sustentado o olhar do homem, enquanto Eminem soava ao seu ouvido. Ela não acreditava que Patterson poderia ficar mais atraente, mas isso se devia ao fato de nunca ter o visto de terno antes, um terno preto, uma blusa branca por baixo, e uma gravata verde, a cor favorita dela.

Luke levou o copo pequeno de vidro aos lábios, sem tirar os olhos dela. Julie sentiu o sangue correr pelas veias, e um arrepio descer por sua coluna, seus lábios separaram-se, e ele lambeu os dele, e então, Nicolas entrou em sua frente com Flynn.

Julie piscou e desviou o olhar, e enquanto conversava e parabenizava seus amigos pela festa e pelo o aniversário, podia jurar sentir o olhar de Luke queimar seu corpo.

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Eu nem demorei muito dessa vez, né?

Bisous
D.

Deja Vu ️‍🌈⃤ Juke (Julie and the phantoms)Onde histórias criam vida. Descubra agora