18● Feiticeira amarela.

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Encostou suas costas na cerca e olhou para Flynn.

- E depois você coloca a última camada de queijo. - Concluiu Flynn, Luke concordou com a cabeça. - E, é assim que se faz uma lasanha.

- Vou tentar fazer essa semana para Kayla. - Ele disse, Flynn assentiu.

- É aniversário de namoro ou algo assim? - Perguntou desviando o olhar para as vacas ao longe.

- Não, eu só quero agrada-la. - Ele se desencostou da cerca e caminhou para porta da casa.

Ele não morava ali mais, morava perto do centro da cidade, mas parecia estar o tempo todo ali. Alimentando os porcos, cuidando das vacas, conversando com as galinhas... Sua mãe é quem morava ali, teoricamente, mas a verdade é que ela nunca estava lá, ela estava sempre na casa de alguém fazendo alguma coisa.

Mesmo não estando naquela casa, ela se esforçava pelo filho. Sempre estava ligando, querendo saber o que estava acontecendo, vinha visita-lo e etc.

O pai de Luke, morava em outra cidade, perto de May Far. Seus pais haviam se divorciado quando Luke tinha 17 anos, e atualmente ele já estava acostumado. Não incomodava mais. Principalmente porquê seus pais eram pessoas muito melhores quando estavam separados.

Ele não era tão próximo do pai, sempre tiveram problemas. Durante o fim da adolescência eles passaram a conversar mais, porque Julie se dispôs a ajuda-los, mas assim que a garota se foi, também se foi a trégua. Luke se recusava a dar o primeiro passo, porque seu pai era um viciado em apostas que acabou com todo o dinheiro da família e por mais que ele fingisse que aquilo não o machucava mais, ainda machucava.

- Luke, você lembra da conversa que aconteceu na pizzaria? - Flynn seguiu-o para cozinha da casa pequena.

- Aquela conversa super confortável onde me obrigaram a conversar sobre o relacionamento com a minha ex na frente da minha atual? - Luke lavou as mãos na pia. Flynn sentou-se na cadeira atrás da mesa de madeira. - Claro.

- Sarcasmo não cai bem em você. - Observou, Luke olhou para ela secando a mão em um pano de prato e sorriu.

- Perdão. - se desculpou. - É só que lembrar desse dia me deixa irritado, eu não queria ser grosso.

- Ela te deixa irritado. - Flynn murmurou, mas ele não a ouviu.

- O que tem sobre esse dia? - Perguntou Luke, voltando os olhos a menina que brincava com suas trancinhas.

- Você se lembra quando a Julie disse "Nós não combinamos, somos peças de quebra-cabeças diferentes, por assim dizer."? - Flynn recitou, Luke arqueou as sobrancelhas.

- Você lembra das exatas palavras que ela usou? Você tem memória fotográfica e esqueceu de contar? - Ele perguntou. Estava tentando com todas as forças esconder o que a simples menção do nome dela fazia com ele, tentando esconder o jeito que a ansiedade tomava conta dele.

- Não. - Ela juntou as mãos pensando se deveria contar à ele. - Eu percebi que eu já tinha ouvido isso antes, com essas exatas palavras.

Luke segurou o pano de prato en apenas uma mão e esperou em silêncio pelo desfecho.

- Isso tá escrito no livro da Julie. Aquele que ela deu de presente para metade de May Far. - Ela terminou. Luke ficou parado sem saber o que fazer.

- Aquele da feiticeira amarela?

- Dourada. - Corrigiu. - A última feiticeira dourada. Ela te deu um também.

- E o que tem? - Ele se afastou um pouco da pia. Ela respirou fundo decidindo contar de uma vez.

- Eu só achei curioso ela usar para descrever você e ela, as mesmas palavras que ela usou para descrever dois personagens do livro dela. - Flynn pausou por um momento esperando Luke digerir a frase. - Isso pode ser só uma coincidência, é claro. Como o fato de Carrie te chamar apenas de Lucca, e do personagem principal de Julie também se chamar Lucca, pode ser só uma coincidência.

Luke travou. Ficou paralizado.

Julie havia escrito sobre ele? tinha transformado ele em um personagem fictício? E, o mais preocupante, Julie transformou seu nome em Lucca?

Ah, como ele odiava o nome Lucca. Era tão sem graça! Luke tinha muito mais charme, com certeza.

- Bom, tenha um bom dia, tenho que ir fechar a floricultura. - Flynn se levantou da cadeira e saiu da casa.

Luke fechou a porta atrás dela e correu para sua camionete velha, queria chegar na casa de Alex o mais rápido possível. O livro que Julie deu à ele estava em alguma das caixas jogadas em seu quarto. Tinha levado quase todos os itens da sua casa para casa de Willie, desde a infestação de cupins, então tinha que estar lá.

Ele digitiu rapidamente até lá, entrou na casa e subiu direto para o quarto. Fechou a porta atrás de si, e começou a revirar as caixas.

Achou uma gaita pequenina que não via há anos, achou uma blusa verde horrorosa que Kayla havia o dado de presente, e eventualmente, no fundo de uma caixa empoeirada, achou uma foto manchada de Julie e ele.

Ela sorria para câmera e estava com ambos os braços erguidos para cima, Luke olhava para ela rindo como um idiota. Luzes coloridas brilhavam sobre suas peles.

Pareciam tão felizes. tão jovens.

Luke lembrava daquele dia, foi no dia em que ela ensinou à ele o significado da palavra irrevogável. Foi no dia em que correram pela fazenda, naquela época de Emilly, um atrás do outro até julie tropeçar e quebrar uma chaleira super cara. Luke assumiu a culpa por isso, ele queria protegê-la de alguma forma.

Ele a odiava agora, tinha certeza disso. Ela era arrogante, egoísta, mesquinha e malvada. Ela era imoral, babaca e totalmente indisponível emocionalmente. E, fato não menos importante, ela havia destruído seu coração.

Ele era averso à ela, mas no final das contas, não podia negar que ela o fez muito feliz no passado. Ela era a única coisa que tirava a cabeça dele dos problemas que ele passava em casa, de toda a pressão em cima dele.

Luke Patterson, o garoto de ouro! Até cometer o primeiro erro, até cometer algum deslize. May Far tinha o colocado em um pedestal que nenhuma criança de 14 anos queria estar, ainda assim, Luke não achou na época e não achava agora que ele tinha direito a reclamar.

Havia pessoas passando por coisas muito piores.

Julie havia feito todas as situações insuportáveis que ele passara, suportáveis apenas com sua presença.

Você ficaria surpreso com a frequência que aversão se transforma em desejo.

A voz de Kayla sussurrou em sua cabeça, ele afastou os pensamentos rapidamente, e jogou a foto de volta na caixa.

Ele voltou a procurar o livro em meio às suas caixas desorganizadas. Achou-o duas caixas depois, ele só ia conferir se o que Flynn falou era verdade. Esse era o plano.

Luke passou a noite lendo, e só percebeu que o tinha feito, as seis da manhã quando olhou pela janela e viu que já estava claro de novo.

Deja Vu ️‍🌈⃤ Juke (Julie and the phantoms)Onde histórias criam vida. Descubra agora