66● E, maldito seja você, Luke!

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Ele não planejava dizer aquilo, mas o pensamento escapou por seus lábios antes que ele pudesse impedi-lo.

Julie se virou lentamente com uma expressão engraçada no rosto, engraçada apenas porque Luke não a sabia decifrar, parecia um estado avançado de estupor, descrença e puro... ódio?

- Não faça isso - ordenou, com a voz soando irreconhecível até mesmo aos próprios ouvidos - não diga isso... não... NÃO!

Luke estava completamente atônito, não entendia o porque da animosidade repentina dela. Ora, talvez nem tanto repentina, já que ela parecia extremamente arisca há alguns momentos, ainda assim ele não estava disposto a recuar agora, ele duvidava que um dia estaria disposto a se afastar dela.

- Estou falando a verdade, não vou me desculpar por isso - as palavras saíram bem lentamente dos lábios dele. As sobrancelhas dela se juntaram, seu rosto virou uma mancha de mágoa, e Luke sentiu um aperto no peito.

- Eu tive muitos problemas com você desde que voltei. Você foi infantil, insolente, teimoso, irritante e muitas outras coisas, mas eu nunca pensei que você fosse mentiroso - as palavras pareciam sair com dificuldade de sua boca, e ela parecia evitar os olhos de Patterson, ele percebeu com desgosto - Não está falando a verdade e não deveria agir como se estivesse.

Ele se sentia meio perdido, sem entender direito o que ela estava dizendo, e incerto se ao menos queria saber. Ela parecia tão machucada, uma criança ferida, e mesmo sem entender a razão, ele sentia que de alguma forma a culpa era dele.

- Você não gosta de mim, eu sei disso, eu sei disso - repetiu dando ênfase - e não adianta dizer o contrário, visto que eu não sou idiota.

Luke abriu a boca para dizer, para gritar em plenos pulmões que ela só poderia ter ficado louca. Ele era absolutamente, exageradamente e irrevogavelmente apaixonado por ela, e era tão óbvio, tão ridiculamente óbvio que não fazia sentido que ela não soubesse. Não tinha como ela não ter percebido como ele volvia em volta dela, como ele parecia desesperado para que ela olhasse, como ele implorava por algum sinal de retribuição, como ele passava todos os momentos lutando contra o impulso mordaz de colar os lábios aos dela, de se ajoelhar aos pés dela e adora-la pelo resto da sua existência.

porém, Julie foi mais rápida.

- Eu vi você com Kayla, Luke. Eu lembro de tudo que você me disse, tudo - todo o corpo de Luke ficou gelado - lembro de você dizendo que seu gosto ficou mais ficou mais refinado com o tempo, lembro de você me chamando de infantil, você disse que eu bagunço tudo, que eu sou uma covarde, disse que eu mexi com o equilíbrio de MayFar, que eu tenho uma personalidade desprezível, disse que foi melhor que eu tenha saído do seu caminho cedo, dijo muchas cosas, cosas que me duelen [...] - Luke parou de entender quando ela, sem parecer sequer notar, transitou entre as línguas, mas ele não precisava ser fluente em espanhol para saber que ela seguia pela mesma linha de raciocínio na qual começou a falar.

Ele soltou um som curto que se assemelhava a uma risada, exceto pelo fato, que era marcado por um tristeza tão profunda, e tão cortante que pareceu tirar Julie de seu transe. Ele engoliu a agonia que ameaça lhe destruir, porque não queria mostra-la, não queria que ela pensasse nem por um segundo que ele desistiria dela, não queria que ela sequer cogitasse a ideia de que ele não estava falando sério, porquê ele estava, com todo seu coração. Ele, de fato, não acreditava que a havia superado, e ele via nos olhos dela que não fazia a mínima ideia que o tinha nas mãos, porém, depois de ouvir todas suas palavras, não importava que ele a amasse tanto que chegava a ser quase tangível, ou que ele não queria passar nem um segundo longe de sua presença, a única coisa que importava é que pela primeira vez desde que Julie voltara a MayFar, Luke sentia que não a merecia.

Deja Vu ️‍🌈⃤ Juke (Julie and the phantoms)Onde histórias criam vida. Descubra agora