A cabeça de Julie doía bastante.
Todos os sentimentos conflituosos que um dia já sentira por Luke giravam furiosamente em um espiral eterno dentro do seu cérebro, e pela primeira vez em algum tempo ela não tinha ideia do que dizer ou do que fazer. Olhou através dos quadros, dos rabiscos e dos desenhos de seu próprio rosto e viu que escondido entre eles haviam outros quadros, outras pinturas, desenhos da mãe dele, da árvore alta que ficava no bosque perto da cidade, de Alex, Reggie, de Willie, da oficina do al, da cafeteria de Reginald, da igreja no centro da cidade, do jardim em frente a casa de Alex, uma caricatura de Jax, de Flynn, de Nick, de Flynn e de Nick juntos, e uma de Carrie.
O cérebro de Julie ficou totalmente silencioso de repente, focado naquele pequenino quadro encostado contra a parede azul-petróleo, Carrie sorrindo vestida com uma blusa curta rosa cheia de florezinhas. Julie se lembrava de quando Carrie comprou a blusa, na única loja de fast fashion de MayFar. Luke nem sequer conhecia Carrie antes, ele conheceu nesse verão quando Julie a arrastou com ela para aquele fim de mundo. E mesmo assim... Mesmo assim ele tinha olhado para ela e dito que não pintava mais, nem desenhava mais, que tinha deixado de ser um artista, que não estava mais interessado naquilo, mas na frente dela estava prova que Luke Patterson era um mentiroso muito mais profissional que Julie Molina.
Julie virou-se lentamente em direção a ele, que prestava atenção em cada ação da mulher. Ela estava tentando decidir o que fazer, decidiu repassar os últimos acontecimentos em ordem cronológica para buscar algum sentido em tudo que acontecia. Ela havia tentado transforma-los em amigos, depois eles brigaram, depois decidiram que nunca poderiam ser amigos, se beijaram no meio da cidade e depois eles tinham ido pro apartamento dele e dormido, como se fosse algo comum. Depois que acordaram se encararam, até que como pessoas normais - finalmente!- resolveram conversar, estavam esclarecendo as coisas quando brigaram novamente, bom, Julie brigou com ele e ele se declarou para ela. Luke sempre se declarava para ela no momento errado, lembrava bem da primeira vez que o havia feito doze anos atrás, no meio do celeiro, decidiu que era o momento para dizer que a amava e engatar em um relacionamento sério, que até cinco minutos atrás ela tinha absoluta certeza que não queria, mas Luke sempre a fazia se esquecer do que queria e não queria, até que a única coisa que ela quisesse fosse ele.
Repassar as últimas horas não foi tão esclarecedor quanto ela pensou que seria, só a mostrou o quanto os dois eram esquisitos, adultos que agiam como adolescentes, brigavam como crianças e amavam como jovens. Ela olhou por cima do ombro para ver as obras dele mais uma vez, naquele quarto ele tinha pintado tudo que amava, e ela não podia deixar de notar que o número de pinturas sobre ela eram muito maiores que o número de pinturas das outras pessoas e que não havia nenhuma pintura de Kayla. Voltou sua cabeça na direção da dele, não sabia o que dizer, nem como dizer, não sabia se perguntava sobre as pinturas, se acusava-o de mentiroso, se questionava porque nenhum de seus amigos parecia saber que ele ainda pintava, nem mesmo sua mãe. Não sabia se perguntava por qual razão ele não havia investido nisso quando claramente era extremamente talentoso, ou porque ele nunca havia procurado por ela quando ela se foi, ou porque ele não reagia quando ela o dizia que pensava em fugir, ou porque naquele quarto não havia nenhuma pintura do seu pai, porém o que ela falou foi algo completamente diferente.
- Você me ama.
- Amo - não era uma pergunta, mas Luke respondeu mesmo assim.
- Você me ama - repetiu calmamente como se estivesse se acostumando com a ideia.
- Claro que amo - confirmou mais uma vez - e você me ama também.
As sobrancelhas dela subiram até a raiz de seus cabelos, e ela continuou no mesmo lugar, tinha medo de se mover e acabar correndo até suas pernas cederam, ela não tinha um histórico muito bom em aguentar conversas sérias, ou aceitar sentimentos positivos dos outros, ou falar sobre os próprios sentimentos.
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Deja Vu ️🌈⃤ Juke (Julie and the phantoms)
Fanfiction❝ - Vai embora! Você parece ser boa nisso. - As palavras cheias de mágoa e amargura saem da boca dele. - Você não tem o direito de jogar tudo nas minhas costas, não tem o direito de me chamar de egoísta. Não tem o direito de dizer que eu fui embo...