15● Relógio no pulso vazio

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As noites em Nova York não eram limpas, como as em May Far. Conseguir ver um céu azul, com milhares de estrelas brilhando, era uma das coisas que Julie mais sentia falta.

Ela observava o céu pela janela da cozinha da casa de Willie. Era tão lindo, tão vasto. Era infinito.

Imponente, poderoso. Ela poderia passar o resto da madrugada pensando em cada vez mais sinônimos para descrever os céus.

Sempre foi muito boa com palavras escritas, ela era uma escritora, afinal. No entanto, não teve a mesma sorte quando se tratava de palavras faladas. O lado verbal não era o dom dela.

Ela culpava aquilo no fato dela ser emocionalmente retardada, e culpava o seu retardo emocional na sua mãe, no seu pai, no céus. Nela mesma.

— Você poderia me dar licença? — A voz profunda viajou até seus ouvidos, ela virou-se lentamente e viu Luke Patterson, com um pijama verde de mangas compridas, e os cabelos castanhos por todo lado.

Seus olhos verdes brilhavam tanto quanto as estrelas que ela havia encarado.

Tentou pensar em uma coisa espertinha para dizer, mas não conseguiu. Ser pega sozinha encarando o céu as 01:00 da manhã por Patterson, parecia pessoal demais.

E ela odiava o pessoal. O impessoal era tão mais... seguro.

Então, apenas deu um passo para o lado, e deixou-lhe passar. O garoto foi para o filtro da água.

Julie parou atrás dele, ainda tentado ver o céu. Tentado recuperar sua antiga linha de raciocínio, aquela que elogiava o céu sem parar.

Era difícil se concentrar com Luke tão perto, a um metro de distância. 

Ele tinha cheiro de verão, se isso sequer fazia algum sentido. Talvez seus olhos estivessem apenas ligando o bronzeado do homem à um cheiro semelhante.

— Quando você vai embora? — Ele perguntou, seu tom sugeria que ele preferia que fosse agora.

— Quando eu achar que devo. — Respondeu simplesmente.

Ouviu um suspiro cansado escapar dos lábios dele.

— Você sempre faz isso, não é? — Perguntou subindo os olhos para o céu.  Julie encarou suas costas sem saber do que ele estava falando. — Sempre bagunça tudo.

Ainda não havia entendido do que ele estava falando, mas parecia que aquele era território sentimental, pessoal. Território estritamente proibido para ela.

— Eu nunca foi conhecida por ser organizada. — Ergueu as sobrancelhas e deu um passo para trás. 

Ele soltou uma risada baixa magoada, e virou-se na direção dela.

— Olha, só. Julie Molina fugindo, eu não deveria estar surpreso. — Seu rosto estava impassível. 

— Não sei do que você está falando, eu estou aqui. — Ela disse.

— Você está sempre fugindo. — Luke não a esperou terminar. — Fugiu quando éramos adolescentes, e foge toda vez que alguém tenta chegar perto. Foge toda vez que uma conversa fica séria. Foge toda vez que perguntam sobre seus sentimentos.

Julie deu outro passo para trás, as palavras de Luke Patterson a rasgavam por dentro, queimavam sua pele.

— Se você diz. — Ela fez o possível para deixar a voz neutra.

Ele negou com a cabeça. 

— Você sabe como chamam quem passa a vida fugindo? — A voz dele soou perigosamente baixa. perigosamente calma.

Deja Vu ️‍🌈⃤ Juke (Julie and the phantoms)Onde histórias criam vida. Descubra agora