Se estava se sentindo mal há uma semana atrás, nessa semana estava no inferno.
Não havia trocado uma palavra sequer com Luke desde que presenciou seu término, e recebeu uma mensagem com duplo sentindo em um grupo. Isso somado ao fato que Julian havia ido embora há um dia, a falta de sono, a frequência de pesadelos e a consciência pesada que ela carregava por aí, desde sentiu uma pontada de satisfação no peito ao ver Kayla terminando com Luke.
Ela era terrível! horrível! horrenda!
Ok, pensando melhor, talvez não fosse nada disso, talvez estivesse exagerando. Ela já tinha noção que era exagerada, quer dizer, a maioria das pessoas para superar um término, cortava o cabelo, chorava por dias, comia doces e se apoiava nos amigos, a maioria das pessoas não escreviam um livro de quatrocentas páginas sobre um mundo fantasioso e colocava seu ex entre os personagens, como uma forma de eterniza-lo. Como uma forma de tê-lo sempre por perto.
Isso era coisa de gente exagerada, gente louca, gente que não sabia lidar com seus sentimentos, gente que não deveria ter largado a terapia. Julie riu sozinha encarando a parede azul do quarto de hóspedes de Alex e Willie, ela sabia que não deveria ter parado o acompanhamento psicológico, mas parou mesmo assim.
Começou a frequentar o consultório da Dr. Paladin, dois anos após se mudar para Nova Iorque, continuou o processo até estar ciente de algumas questões não trabalhadas que tinha. Como problemas de abandono, por conta de sua mãe, ou complexo de inferioridade por conta de May Far. No entanto, ela parou assim que ficou ciente dos problemas, como não continuou, nunca chegou na parte em que a psicóloga ensinava como lidar com eles.
Riu de novo, como ela era idiota.
- É, você deveria. - A voz de Luke invadiu seus ouvidos, ela virou o corpo na direção dele e o encarou confusa.
- Deveria o quê? - Luke lançou um olhar perdido na direção dela.
- Você não lembra do que disse há cinco segundos atrás?
- Eu disse alguma coisa?
- Disse que deveria voltar para terapia. - Contou. Arqueou as sobrancelhas, ela deveria parar de deixar seus pensamentos escorrerem por sua boca.
Por que ela só deixava sua cabeça falar em voz alta quando Patterson. estava por perto?
Quando aquele momento esquisito passou, encarou Luke, o que ele estava fazendo aqui?
- Quer alguma coisa? - Cruzou os braços sobre a camiseta azul claro do pijama.
- Você sente falta de Julian? - Perguntou de repente. Luke havia invadido seu quarto as três da tarde para perguntar se ela sentia saudades de alguém que não via por apenas 24 horas?
Que garoto estranho!
- Julian foi embora antes de ontem, fazendeiro. - Respondeu, fugindo da pergunta principal.
- Eu sinto falta dele. - Cruzou os braços e encostou o ombro na batente da porta. Julie tentou não prestar atenção demais nos seus braços, ou no resto dele.
- Pensei que não gostava dele. - Disse antes de conseguir se parar.
- Eu tentei falar com ele, mas não deu certo, acho que ele quem não gosta de mim. - Observou, Julie prensou os lábios um contra o outro para não sorrir.
Os olhos de Luke brilharam com a oportunidade de captar um sorriso verdadeiro da mulher, ele não lembrava de como era o rosto de Julie com um semblante feliz. Será que ela ficaria mais bonita ainda?
Ele não descobriu, não naquele dia, pelo menos.
- Se você tivesse falado de seus hobbies para ele, talvez ele tivesse se interessado por você. - Comentou.
- Hobbies? - Arqueou a sobrancelha. - Como te irritar?
- Ha. Ha. Ha. Como você é engraçado, Abacaxi. - Revirou os olhos. - Você desenha, pinta, canta, toca instrumentos.
Julie podia jurar que viu uma faísca no fundo dos olhos dele, mas sumiu rápido demais para que tivesse certeza.
- Pelo menos, você costumava fazer isso. - Disse mais para ela mesma. - Sempre achei que você faria faculdade de artes.
Quando o silêncio perdurou por mais de cinco segundos, ela completou.
- Mas você se encontrou como fazendeiro. - Ela deixou seus olhos escuros escorrerem por ele. - Aliás, o visual de caipira lhe cai muito bem.
Luke abriu um meio sorriso, que logo fez questão de esconder.
- Não flerte comigo. - Resmungou, Julie mordeu o lábio inferior.
- Você quem começou. - deu de ombros. Ele franziu o cenho confuso, e ela o encarou incrédula. - "dói ainda mais porque não é a primeira gata que eu perco"
Ele soltou uma risada nasalar, Julie tentou, sem sucesso, não se afeiçoar muito pelo som.
- Quem disse que eu estava falando de você? - Ele a lançou um olhar divertido, que lhe prontamente foi retribuído.
- Não estava? - A voz dela saiu suave como veludo.
Os olhos se encontraram em uma intensidade não premeditada. Seus olhos verdes, salpicados de castanho e azul pareciam estar envoltos em uma luz, e os olhos escuros dela tão magnéticos quanto um buraco negro pareciam estar envoltos em mistério. Ele já sabia há um tempo que assim que ele a tocasse definharia, que não importava quanta luz emanasse de seu olhar, nenhuma partícula de brilho poderia escapar dela.
Ele sabia há anos que Julie Molina era devastação total embrulhada no papel de presente mais atraente já feito.
E, mesmo assim, se via indo em direção à ela, como um mosquito que pousa na lâmpada mesmo sabendo que vai se queimar. Era como quando passava por uma cerca elétrica na rua, ele sabia que era perigoso, mas ainda assim, algo em seu cérebro o incentivava a tocar, apenas para ver o que aconteceria, apenas para conferir se realmente se machucaria.
lutou contra si mesmo para afastar o olhar do dela, querendo que tivesse forças o suficiente para nunca mais lhe dirigir a palavra, mas não tinha. Julie Molina estava gravada em sua pele, em seus músculos, nos tecidos de seu corpo. Julie Molina estaca enterrada em sua mente, marcada em sua alma, esculpida em seu espírito.
Ela era sua ruína, ela o deixaria em pedaços, com apenas escombros para contar a história, mas ao mesmo tempo, era sua salvação, era o resgate da solidão que era viver sem ela.
- Acho que você vai ter que viver com a dúvida. - murmurou, ele se virou e se preparou para ir embora, mas antes que fosse, Julie o chamou.
- Você ainda desenha? - A pergunta o incomodou profundamente, ele havia desistido de seu sonho de artista para que a mãe não perdesse a fazenda, ele havia desistido de tudo, de sair dali e começar uma vida de verdade. Uma vida em que ele tomasse as decisões.
- Não, como você disse, era só um hobby. - A voz dele soou errada aos ouvidos dela, mas ele se foi antes que ela pudesse perguntar.
Ela revirou os olhos e levantou-se da cama. Quando pensou que poderiam ser, pelo menos, amigos, ele fez questão de se afastar de novo. É, claro que Luke estava falando sério quando disse que a odiava.
Ela queria tanto estar falando sério sobre isso também.
Se ele a odiava porque não a deixava em paz? Por que que aparecia na porta de seu quarto para contar que sente saudades de alguém que ela a ama, e flertar com ela?
- Garoto estranho. - Sussurrou irritada. - Garoto muito, muito estranho.
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Deja Vu ️🌈⃤ Juke (Julie and the phantoms)
Hayran Kurgu❝ - Vai embora! Você parece ser boa nisso. - As palavras cheias de mágoa e amargura saem da boca dele. - Você não tem o direito de jogar tudo nas minhas costas, não tem o direito de me chamar de egoísta. Não tem o direito de dizer que eu fui embo...