Os olhos acinzentados de Lincoln percorreram meu rosto. Sua expressão era de incredulidade, como se não acreditasse ao apelo que eu estava fazendo, me diminuindo para conseguir mais um tempo.
— Acha que eu sou burro? Depois que terminar de usar o livro, ele não terá utilidade para você — contestou ele.
— Tenho apenas uma semana para treinar, e depois do duelo de qualquer forma não me terá utilidade, então para que eu iria até Rubria sem um motivo?
— Pode esquecer, eu não darei o livro, há menos que tenha algo para substituí-lo até trazer meu tecido.
— Não tenho nada que possa substituir o livro.
— Algo que você goste muito?
— Não.
— Arranje algo para substituir o livro e eu o entrego. E se você não cumprir com sua palavra, pode ter certeza que o diretor vai ter o maior prazer em expulsar você — um sorriso se repuxou dos seus lábios e contive a vontade de socar seu rosto.No intervalo, Marcus observava minha expressão exausta e conteve um grunhido de tristeza por mim. Eu estava atolada de problemas até o pescoço.
Pensei, e pensei. O que eu tinha planejado havia caído quando Lincoln negou o trato.
— O que ele pediu? — Perguntou Marcus.
— Algo para substituir o livro... não tenho nada.
— Bom... então teremos que partir para Rubria antes do duelo.
— Como faremos isso? O rei notará minha ausência.
— Tenho um plano — Marcus lançou uma piscadela de olho para mim e mudou de assunto imediatamente quando Edward se aproximou com duas maçãs.
— Quero uma — estendi a mão.
Edward jogou a maçã para mim e mordeu a dele. Sua expressão era curiosa.
— Sobre o que estavam conversando? — Perguntou ele mordendo sua maçã novamente.
— Treinamento dela — Marcus interrompeu antes que eu pudesse dizer alguma coisa.
— Quando é o duelo? — Edward estava muito curioso, algo que começou a me incomodar.
— Quem é você? — Perguntei sacando minha adaga.
— Rose! Sou eu, Edward.
— Seu sobrenome — avancei dois passos.
— Rosário — respondeu ele, pálido como a neve.
— O que seus pais fazem.
Edward sorriu, ou quem quer que fosse aquela pessoa.
— Você é mais inteligente do que pensei, assim como meu mestre havia dito.
Em um minuto, ele Edward à minha frente, mas em um piscar de olhos, a aparência jovem e inteligente de Edward deu lugar a de um homem.
Eu reconheci as roupas pretas, Pesadelos.
— Mantenha-se afastado — falei segurando forte minha adaga. Marcus já assumia meu flanco direito.
— Ora, ora, para quê tanta violência.
O pátio imediatamente fora evacuado, restando apenas eu, Marcus, o inimigo e alguns guardas.
— O que quer? — Passei uma adaga para as mãos de Marcus em um único movimento.
Meu coração batia forte.
Embora o homem não fosse grande como que me atacara meses antes, ainda sentia medo, pois não sabia a obsessão que estes rebeldes têm comigo.
— Meu líder quer você, afinal, não conseguiu anos antes.
Não era um homem qualquer, percebi. Ele sabia do ataque à minha família quando eu era mais nova. Apertei o cabo da adaga.
— O que vocês querem comigo?
— Seu dom, você sabe coisas importantes, Rosemary Rigdor.
Contive o vômito ao ouvir ele falar meu nome. Não estavam me confundindo com ninguém, queriam algo que eu supostamente tenho.
— Seja lá o que seu líder quer, eu não tenho.
O homem sorriu.
— Tem certeza? E naquele dia? Vai me dizer que não usou seu dom para matar três homens adultos?
Vi Marcus olhar para mim com o canto dos olhos, como se não acreditasse no que estava ouvindo.
— Não senti nada, apenas lutei com garra para minha própria proteção — soldados entraram, assumindo uma posição em círculo ao nosso redor.
— No momento certo, Rosemary. Você vai descobrir, e quando isso acontecer, meu mestre estará alegremente esperando.
Sombras saíram dele, derrubando todos os soldados ao redor, mas assim que se dissiparam, ele havia desaparecido.
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Os Ventos do Norte
FantasyEm um mundo assolado por uma praga, Rosemary cresceu sozinha, dentro de um reino selado pelo medo de serem contaminados. Decidida a ajudar o exército real na luta contra os rebeldes conhecidos por Pesadelos, Rose descobre que há uma maneira de acaba...