Passaram-se dois dias desde que mandamos nossos espiões, não conseguia me conter de preocupação e qualquer som que parecesse de cavalos eu corria para ver se tinham chegado.
Minha preocupação era com Gingar e Unsan, afinal, eles entrariam dentro do castelo para dar a mensagem à rainha. Era uma tarefa perigosa e me arrependi profundamente de ter designado os dois para cumpri-la.
Eu andava de um lado ao outro no quarto que desocuparam para mim, Joel não me deixou ficar no quarto comunitário, disse que uma mulher precisa ter sua privacidade.
Parei e abri a janela para observar a extensão branca do lado Norte da muralha, sentir o vento no rosto trazia calmaria para meu coração. Respirei fundo aquele ar gelado e fechei os olhos, lembrando das sensações de atrevessar o que o povo Manak chamava de Deserto Gelado.
Caçar um Halab seria extremamente relaxante, mas eu tinha que me concentrar na missão, não podia deixar que a preocupação me atrapalhasse.
Escutei alguém bater na porta e fechei a janela antes de permitir que entrasse. As pessoas do lado Sul pareciam muito sensíveis comparadas ao meu estado atual.
Permiti que a pessoa entrasse e Joel apareceu na entrada, sua expressão era calma, porém seu rosto era selvagem e fiquei me perguntando o que ele sofrera nestes dois anos que estive morta.
— Algum problema? — perguntei me afastando de janela.
Ele olhou para a bandeja em cima da cama, depois voltou a fixar seus olhos em mim.
— O que há com você? Não anda comendo direito.
— Veio aqui para me dar um sermão? Eu tenho vinte anos agora, contando com os dois anos que passei morta.
— Está preocupada, posso ver em seus olhos, conheço você desde os dez anos se não se lembra.
— É claro que me lembro.
— O que te preocupa?
— Meus amigos estarão rodeados de inimigos por todos os lados, estou preocupada com isso.
— Rose, você tem que confiar mais nos seus homens.
— Eu confio! Não confio nos inimigos, já estive diante do imperador e sei o quão cruel ele pode ser.
— Pense na grande experiência que seus homens tem Rose, eles não são descuidados, ficarão bem.
Fiquei em silêncio, Joel tinha razão, Gingar e Unsan eram de fato muito experientes. Entretanto, minha mente lançava diversas alternativas e consequências com cada uma delas, apenas uma de várias resultava em sucesso.
Joel deve ter percebido que eu estava pensando e me tirou da minha perturbação dizendo:
— Você beijou Amanda?
Olhei para ele surpresa com a pergunta e senti minhas bochechas queimarem.
— Beijei — respondi sem rodeios —, porque?
— A história se espalhou, Amanda teve que lidar com alguns problemas até o rei se pronunciar.
Meu estômago se embrulhou repentinamente, eu havia esquecido que a beijei na frente de um exército inteiro.
— Não machucaram ela, machucaram?
— O rei me mandou escoltar ela sempre.
— Ah... — me sentei na cama —, acha que talvez ela tenha me esquecido?
— Esquecido você?
— É... já que passei dois anos morta.
— Não sei o que vocês sentem uma pela outra, mas Amanda nunca se aproximou de ninguém desde que você sumiu, nem deixava que alguém chegasse perto. Samuel até a defendia.
— Samuel? O Azarir?
— Sim, ele mesmo.
— Mas... porque?
— Ele disse que sabia de algo, que Amanda também sabia, e queria proteger essa informação.
— E o que era?
— Samuel nunca acreditou na sua morte, e disse que revelaria apenas para você.
Baixei a cabeça e fiquei pensativa, tentando lembrar de algo que ele tenha dito que remetesse a uma mensagem codificada. Os Azarir tinham conhecimento infinito sobre códigos.
Fechei os olhos e passei a percorrer cada lembrança minha, até que diversos mapas surgiram na minha mente, em cima de uma de taverna.
Era uma lembrança do dia em que Marcus apresentou os mapas com as movimentações territoriais dos Azarir, em comparação com a dos Rosário. De repente fui imersa em outra visão.
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Os Ventos do Norte
FantasíaEm um mundo assolado por uma praga, Rosemary cresceu sozinha, dentro de um reino selado pelo medo de serem contaminados. Decidida a ajudar o exército real na luta contra os rebeldes conhecidos por Pesadelos, Rose descobre que há uma maneira de acaba...