De volta a montanha corta-vento eu precisei de um bom banho, porém, a sensação de estar com a faca cravada na versão criança de mim não saía por nada, tentei de tudo, mas nada funcionava. Daruucad estava tão silencioso que às vezes cheguei a pensar que ele estivesse morto, eu não sabia o que havia acontecido no templo, mas ele tinha desmoronado por completo e o fato de eu acordar com o diadema nas mãos não ajudou muita coisa.
Sentada na minha cama, fiquei observando o diadema, todas as pedras haviam sido reduzidas a pó colorido, e no fundo eu me sentia igual antes, não havia nenhum resquício que me fazia saber que o poder do diadema estava dentro de mim. A única coisa que eu precisava era saber como colocar a proteção em cima de todos as pessoas na montanha.
Ao lado do diadema, estava Cadaadis, a lâmina tormento, eu não conseguia parar de pensar em Joel toda vez que olhava para ela, eu torcia para que ele estivesse no palácio do céu, descansando ao lado de Gingar, Unsan e Maalavan.
Maldita profecia...
Alguém abriu a porta de pedra que estava entreaberta, Amanda apareceu na entrada com as mãos juntas na frente do corpo, olhei para ela e assenei positivamente. Lentamente a moça fechou a porta por dentro e caminhou até a minha cama, sentando na beirada de frente para mim. Eu permaneci em silêncio.
— Tudo bem? — ela perguntou pegando o diadema, encarando o artefato.
— Mais ou menos... — respondi.
— Ficou bastante tempo fora, onde esteve?
— Fui atrás disso aí — apontei para o diadema nas mãos dela —, é o olho de Riviera, o artefato sagrado que eu precisava para fazer com que todos vocês tenham imunidade contra a praga.
— Oh... — ela pareceu surpresa por estar segurando um artefato sagrado que antes tinha muito poder —, então... o poder que estava aqui dentro, agora está em você?
— Deve estar.
— Eu... sinto muito pelo que houve com...
— Por favor não toque neste assunto... é dolorido demais — interrompi.
— Desculpe...
Havia um vazio grande em meu coração, como se todas as minhas emoções tivessem sido drenadas, eu não sentia nada além de tristeza. Amanda ficou em silêncio, talvez pelas minhas respostas frias, a verdade era que eu não sabia o que responder a ela.
Além disso, haveria uma grande batalha e não demoraria ter início, o imperador precisava sentir o gosto amargo da derrota, e tirar dele todo o Norte seria uma ótima demonstração só que é perder. Mesmo que fosse arriscado demais.
Eu precisava atacar Zufreid e Vurian, dois grandes reinos do Norte e ao mesmo tempo, a margem de erro era muito grande e não tinha certeza se conseguiríamos vencer, entretanto, eu sabia que deveria matar o homem que o imperador mandou para comandar este lado da muralha.
— Conheci o Uriah, é uma gracinha — Amanda disse, tentando quebrar o clima ruim.
— Ele é um bom menino, sabe atirar flechas como ninguém.
— Você é como uma mãe para ele, foi Uriah quem disse.
— Eu apenas prometi que não o abandonaria — continuei fitando a lâmina da Cadaadis —, a família dele foi vítima da batalha que destruiu Kyvar, quando o imperador deixou o povo na mão do destino e tomou Millandus — havia um tom de ódio em minha voz.
— Um dia o imperador vai cair, e todo esse sofrimento terá um fim — Amanda repousou sua mão por cima da minha.
Olhei para ela e assenti devagar. Eu acreditava em suas palavras, mas o que me preocupava era o que perderia para vencer o imperador, já havia perdido tantas coisas apenas para se cumprir parte da profecia, mal conseguia imaginar o que mais eu poderia perder.
Amanda se levantou e saiu, deixando-me com meus pensamentos e indagações internas, deitei e fitei o teto, tentando descobrir o que fazer para lançar a proteção contra a praga nas pessoas que tirei de Millandus, talvez uma das Mestra-Sacerdotisas pudessem me ajudar, ou não.
Virei para o lado e fechei os olhos, estava cansada e dolorida, precisava dormir pelo menos um pouco, nem me recordava quando fora a última vez que dormi tranquilamente, talvez há quase três anos, quando eu era uma jovem que sonhava em entrar para a guarda real de Millandus.
Devagar o sono começou a me tocar e lentamente fui imersa em uma escuridão reconfortante enquanto meu corpo se colocava em hibernação.
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Os Ventos do Norte
FantasiaEm um mundo assolado por uma praga, Rosemary cresceu sozinha, dentro de um reino selado pelo medo de serem contaminados. Decidida a ajudar o exército real na luta contra os rebeldes conhecidos por Pesadelos, Rose descobre que há uma maneira de acaba...