Capítulo 24: Maalavan

21 2 0
                                    


       Caminhei sendo seguido de perto por Yara e a moça que os caçadores salvaram. O som da comemoração se tornava cada vez mais distante conforme seguimos para a sala do silêncio. Malditos egoístas que pensam apenas no seu próprio bem. Pensei enquanto andava.
         Fath Hanms tentou mudar o povo por cinquenta anos, e agora que finalmente estava descansando, seria meu dever tirar o egoísmo das pessoas.
         Eles sequer ligavam para os feriados, nem para as famílias dos três caçadores que morreram em batalha para salvar o povo, e o mínimo que podiam fazer era prestar homenagem e respeito.
         No fundo, eu sabia que a culpa era minha, sou o responsável pelos receptores, e eles haviam desaparecido, quatro homens. Mesmo que fossem atrás deles para saber o que houve, todos sabiam exatamente.
         Era inegável que o exército imperial tinham interceptado eles, pois nunca ficavam fora do esconderijo durante a noite, sempre foi uma ordem nossa.
         A noite era sempre mais perigosa do que o dia, o hábito noturno dos espíritos carnívoros dificultava a nossa permanência do lado de fora quando o sol se punha.
        Os malditos Rädsla Sniffers, criaturas do próprio inferno que sentem o cheiro do medo e nos devoram. São invisíveis até que nos toquem pela primeira vez.
        Não tenho dúvida nenhuma de que o rei do império sombrio mande neles, existem diversos boatos sobre o que ele pode fazer, controlar um Rädsla Sniffer estava no topo do que mais diziam.
         Dei passagem para a moça entrar e Yara foi logo depois, fechei a porta e olhei para as duas. O cabelo escuro da moça que salvamos estava para trás, Yara me dissera uma vez que seu nome era Rose.
         Eu precisava ter a certeza de que a moça não era uma feiticeira infiltrada do império. Eles costumam usar Crucias para mandarem informações sigilosas sobre nós.
        — Você é algum tipo de feiticeira? Algo que não é deste mundo? — perguntei simplesmente e vi a expressão dela mudar.
        — Como assim?! Sou apenas uma pessoa normal — respondeu ela.
        — Você pode ser tudo, menos uma pessoa normal. Diga-me, o que o Fath disse a você?
        — Não disse nada!
        Me cansei, não acreditava na palavra dela, então estava na hora mostrar o que trazia no bolso. Retirei uma esfera de pedra com base plana, e a coloquei na mesa.
        A expressão da moça foi de total espanto, ela se afastou dizendo para tirar aquilo de perto dela. Yara explicou que era um Sol de Riviera, capaz de revelar segredos e mentiras, se Rose for uma feiticeira, a esfera a matará.
        — Quero que segure a esfera, se não tiver nada a esconder, não acontecerá nada — garanti com sinceridade. Por muitas vezes vi a esfera matar, mas quando a pessoa realmente estava falando a verdade, o Sol de Riviera era apenas uma pedra circular.
        A moça se aproximou dois passos e esticou a mão para pegar a esfera, havia em seus olhos a hesitação, como se tivesse medo de tocar naquele artefato sagrado.
        Devagar ela apanhou a esfera, mas nada aconteceu de imediato, até ela repentinamente ficar com uma expressão severa, mais fria que as geleiras deste lado da muralha.
         Seu corpo todo foi tomado por palavras na sagrada língua antiga. Senti o chão tremer e algo sair de dentro dela e preencher a sala. Seus olhos desapareceram em um brilho azulado e ela abriu a boca.
          Primeiro não disse nada, mas repentinamente uma voz misturada de vários tons começou a recitar palavras que por muitos anos estudei. Meu corpo gelou de medo.
          — En dag kommer en flicka att födas med hår svart som kol och ögon svarta som natthimlen. Den här flickan kommer från en annan plats och kommer att bära inom sig kraften att avsluta en kommande pest — começou dizendo.
         De repente a mesa se partiu em duas e cada parte foi arremessada para um lado diferente.
       — Det kommer att bli svårt att hitta henne, men Rivieras öga kommer att bli bekräftelsen, han kommer att behöva lämna över allt han har till henne och detta kommer att ses av många folk — continuou ela.
         O chão se encheu de rachaduras e o ar ficou rarefeito. Coloquei o braço na frente do rosto para me proteger da poeira que encheu a sala.
        — Den här tjejen kommer att marschera mot skuggor och mörker som vill uppsluka världen och stjäla den åt henne. Och hon kommer att lida, hon kommer att lida mycket tills hon förstår hennes uppmaning.
        Yara correu para o meu lado enquanto a voz medonha da moça escova na sala como se estivesse sendo ditas em nossos ouvidos.
        — Och han kommer att dominera den vitvingade draken och ta honom som sin egen. Och alla folk kommer att sjunga i hans namn och kämpa för drömmen att leva utan pesten.
Många kommer att hissa sin flagga och ropa sitt namn. Hon kommer att få alla kungadömen att lägga sina gräl åt sidan och gå samman i en enda allians, i namnet på en ordning skapad av deras fäder! — a moça gritou e tudo cessou.
        Ela caiu para trás com os olhos fechados. As escrituras começaram a desaparecer lentamente, e reconheci o que Rose dissera.
         A moça havia recitado toda a profecia de Lara Merfest na sagrada língua antiga, um idioma não usado há dois milhões de anos de acordo com os livros que estudei.
        — Vá pegar água, rápido Yara — falei abrindo a porta.
        Devagar a moça começou a acordar, corri em sua direção, enquanto lentamente seus olhos se abriam, ainda consegui ver os vestígios daquele brilho.
        — O que aconteceu?... — perguntou ela, saindo do seu torpor.
       Yara chegou, olhei para ela, e a vi com medo.
        — Leve ela para o quarto, e não conte a ninguém o que aconteceu aqui — falei me levantando.
        Corri pelos corredores até os mensageiros e pedi que enviassem uma mensagem para o esconderijo além de Vurian, para que mandassem um vidente.
         Minhas mãos estavam molhadas de suor, e eu não podia acreditar que aquela moça que estava na minha frente era a garota da profecia de Lara Merfest.
         Olhei para o teto de pedra e encostei na parede, ainda surpreso com o que havia acontecido. A garota da profecia, ali juntamente com meu povo, diante de mim.
         E eu sabia que Yara sentira também, a sensação de estar diante de um ser onipotente, como se a própria Riviera estivesse na nossa frente. 
        A garota da profecia.
       
  
   
        
        

Os Ventos do NorteOnde histórias criam vida. Descubra agora