Fiquei boquiaberta com o que vi. Amanda estava com um olho roxo, lábio inferior e sobrancelha cortados e diversos hematomas no rosto. Quem quer que tivesse feito aquilo, eu esmagaria com minhas próprias mãos.
— Quem fez isso?... — Me aproximei e Amanda não respondeu —, não ouse defendê-lo...
— Não vou...
— Quero que me conte tudo, não esconda nenhum detalhe.
— Certo...
— Foi seu pai... não foi?
— F-foi...
— Porque?... — Minha voz saiu nervosa.
— Ele... descobriu uma coisa, e não se aguentou de ódio... minha mãe não conseguiu fazê-lo parar...
— Sua mãe também sofre isso?...
Amanda balançou a cabeça positivamente.
— Em lugares que só ele pode ver... — Ela baixou a cabeça.
— Olha... vim aqui porque preciso falar com você sobre uma coisa... depois disso, vamos resolver essa questão com seu pai.
Expliquei tudo para Amanda sobre como a situação evoluiu de recuperar um livro, para evitar minha expulsão. Falei do trato, e para onde eu deveria ir para cumprir.
Sem recusar, Amanda concordou em ir e prometi a ela que cuidaríamos da questão sobre o pai dela, afinal, ele precisava de correção.
Era incrível a tamanha hipocrisia do pai dela. Na igreja, falava sobre a misericórdia e a bondade das deusas, em casa, agia como um animal violento e cruel.
Marcus iria adorar saber o que acontecia. Os Infeor sempre foram conhecidos por seus julgamentos, brutais em vários aspectos.
Combinei com Amanda que assim que voltássemos, resolveríamos a questão com seu pai, e garanti que ele pagaria. A garota no começo ficou triste, mas quando se lembrou do que sofreu, mudou de ideia rapidinho.
Sairíamos dali uma semana, eu teria tempo o suficiente para me preparar e fazer as provas. Podendo voltar antes dos resultados.
Desci a escada de volta e o vi. Seus cabelos eram curtos e sua expressão demonstrava uma pessoa culta e de extrema bondade, bem diferente do que era em casa.
— Quem é esta menina? — Perguntou o homem à sua esposa.
— Amiga da Amanda... veio da escola.
Os olhos como de víboras serpenteavam meu corpo, buscando algo que o denunciasse quando eu saísse, medo de que eu contaria para alguém.
Então com uma calma natural que me pegou de surpresa, o homem falou suavemente:
— Já viu o que acontecerá com você se espalhar como minha filha está. Lembre-se de quem sustenta ela, ou seja, eu, então a educação que dou é aplicada da minha maneira e pode muito bem se aplicar há uma fofoqueirinha — ele abriu um sorriso como se estivesse cantando uma música alegre.
Bom, você pode tentar. Pensei.
Me despedi da mãe de Amanda e saí da casa sem me importar para o que aquele homem nojento havia dito para mim, considerei aquilo o início de uma batalha, uma batalha pela liberdade da minha amiga.
E ele pagaria.
Em breve irá pagar.
Irei me certificar disso, Micael pagará por tudo que está fazendo, e vou adorar ver.
Voltei para casa e revisei meus equipamentos novamente, tudo estava em ordem. Me sentei no sofá e fitei a lareira apagada.
Tanto tempo havia se passado desde que matei pela primeira vez. Aquele dia me mudou, me transformou em uma pessoa fria que minha mãe não gostaria de ver.
Matar havia se tornado algo simples, embora eu ainda esteja treinando meu combate, era fácil lidar com a sensação de sentir a morte se esvaindo do corpo do inimigo.
Tantos inimigos que ainda precisavam ser derrotados, tantas vinganças sem um ponto final, tantas vezes que senti o gosto de ferro inundar minha boca todos os dias desde que matei pela primeira vez.
E naquele dia eu havia colocado mais um inimigo na minha grande lista, Micael. Senti novamente o gosto de ferro, e sabia que não podia esperar até depois da minha chegada de Rubria.
Teria de ser logo.
Ou eu mesmo faria aquilo.
O gosto de ferro para mim significava que uma chacina aconteceria em breve, e eu estaria no meio.
Apertei minha mão até sentir minhas unhas cortarem a palma. Continuei olhando para a fogueira, com ódio fervilhando dentro de mim, até que de repente a lenha crepitasse.
Fogo surgiu de repente, acendendo a lareira rapidamente. A casa se aqueceu enquanto a lenha queimava.
Me encolhi assustada no sofá, não entendendo o que havia acontecido naquele momento. De onde veio esse fogo?
Aproximei minha mão de lareira e senti a quentura. Não era de mentira, eu pensei ser coisa da minha cabeça.
Me recostei no sofá e observei a chama consumir a lenha. Preciso de mais lenha. Lembrei contando quanto tempo passou desde a última vez que senti a vida se esvair de um corpo.
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Os Ventos do Norte
FantasyEm um mundo assolado por uma praga, Rosemary cresceu sozinha, dentro de um reino selado pelo medo de serem contaminados. Decidida a ajudar o exército real na luta contra os rebeldes conhecidos por Pesadelos, Rose descobre que há uma maneira de acaba...