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Maya

Ando de um lado pro outro na sala enquanto escutava os tiros lá fora e via minha mãe com o terço na mão rezando baixinho

A o tiroteio rolava solta a um tempo já, e o medo

Porra... O medo tava ali do lado, a angústia, o medo de gente inocente morrer, o medo de amigo envolvido não voltar pra casa

O medo de acontecer alguma coisa com o Matias

Eu já tinha passado por isso antes, o medo é a angústia angústia acontecia alguma invasão, mas porra hoje... tava foda

Talvez por eu saber que era o Matias que tava lá fora

Saber que era ele que tava correndo o risco lá fora

Eu não podia perder ele, não denovo

Acho que o motivo de eu não ter tido uma das minhas crises ainda foi por causa do meu remédio, ele me deixava meio dopada, com sono

Me sento no outro sofá ali e apoio meus cotovelos nas minhas coxas me inclinando um pouco pra frente e interlaçando meus dedos um nos outros fechando os olhos

Pai nosso que estás no céu
Santificado seja o teu nome...

...

Os tiros tinham parado totalmente a uns 20 minutos mais eu ainda tava pilhada

Olho o celular de bovo novo as mensagens que que tinha mandando pro celular do Matias, mas elas nem aviam chegado ainda

Eu: Você bem? (02:12
Eu: preoculpada Matias, aconteceu alguma coisa? (02:30)
Eu: alguém se machucou? (02:31)
Eu: Matias me responde pelo amor de Deus!!!(02:37)

Bato o celular na mao de vagar alguns algumas vezes tentando me acalmar e largo ele no sofá fincando as unhas as minhas mãos pela anciedade

Diana: filha ta tudo bem, eles so devem estar cuidando do morro você sabe que isso demora - minha mãe passa a mão nas minhas costas tentando me aclamar, só tentando mesmo

Eu: mas ele ia ter visto as mensagens, ele sempre vê as mensagens, e se tiver acontecido alguma coisa? Se ele tiver machucado? - já senti os meus olhos se encherem de lágrimas e o coração apertar so de pensar na possibilidade

Vejo meu celular acendendo a tela e vejo o nome do matemática brilhar

Pego o celular atendendo

Eu: Gabriel tudo bem? - pergunto com a voz embargada

Matemática: Maya, eu sei que você não falando com o Gaspar e , mas ele aqui no postao do morro, não é nada sério não, ele tomou um tiro na perna, tirou a bala mas ele preoculpado com você, de você ter se assutado com os tiros ou tido outra crise - ele termina baixo mas eu so consegui pensar na parde do "ele aqui no postao, ele tomou um tiro"

Eu: ele bem Gabriel? - pergunto assim que ele termina meio desesperada, meu coração ficou pequeno e meu corpo arrepiou

Matemática: po ele bem

Suspiro fundo vendo minha mãe me olhar

Eu: você pode passar aqui em casa e me levar prai? Por favor

Matias

Eu: Porra pai já falei que que tô bem, deixa eu sair daqui po, tô cheio de coisa pra fazer por causa desses verme pô

Barao: fica sentado aí Matias porra - ele fala sério e eu bufo me jogando encostado na cama de novo e fazendo uma careta pelo enconodo na perna

A invasão tinha acabado já, e meu pai não queria deixar eu sair do postao, a perna tava doendo po, mas eu tinha mais o que fazer, tinha que falar com as família, saber o que aconteceu com o x9, ver quantas baixas tivemos e ainda ver a Maya

Porra eu tava preocupado com ela

Eu: qual foi o prejuízo?- olho pro Matemática e pro Dedé

Dedé: três vapores mortos, três moradores, e dois feridos, a afiação da 17 tá toda fodida de novo -suspiro passando a mao na cabeça e vejo meu pai me olhar e puxar o Matemática de canto e falar alguma coisa pra ele

Eu: fala com as famílias, faz as parada tudo dos velório, manda alguém concertar aquela porra de afiação direito- falo e ele assente saindo ao mesmo tempo que o Matemática

Eu: Matemática foi a onde?

Barao: fazer um favor ai pra mim- ele sorri fraco e eu cerro os olhos pra ele e desvio o olhar pra porta assim que um doutor é uma enfermeira passam por ela

Doutor: boa noite - eu e meu pai fizemos um cumprimento com a cabeça

Barao: ele ta bem mermo né? Não tem nem risco nem nada

Doutor: ele está bem sim Seu Barao, como a enfermeira Vânia havia dito antes, recolhemos todos os estilhaços da bala, e ela não acertou acertou uma veia ou nervo nem um, está tudo Ok, apenas fiz um raio-X para ter certeza mas este nao apresentou nem uma anormalidade, vou receitar apenas um anti-inflamatório e um remédio para a dor, tirando isso está tudo bem

Vejo meu pai suspirar e passar a mão no rosto agradecendo a Deus bem baixinho

Eu entendia ele taligado, a preocupação dele, o medo

Ele era meu pai, e ele tinha visto a minha mãe, o amor da vida dele sendo morta bem na frente dele, comigo no colo

Eu entendia ele

Eu: eu posso ir embora então?

Doutor: pode sim, vou apenas escrever a sua receita e trazer a alta para ser assinada e você já pode ir pra casa

Eu assinto e ele sai, e no momento que ele sai eu vejo uma cabeleira cacheada aparecer na porta

Cabeleira chacheada essa que eu conheço muito bem e que já fez meu coração acelerar

Olho pros olhos da Maya que estavam cheios de lágrimas e vi ela me olhar rápido, olhar pro meu corpo todo conferindo se eu estava todo no lugar, vi a Diana parar atrás dela e a Maya suspirar fundo avançando até mim subindo na cama e me abraçar enfiando o rosto no meu pescoço fazendo eu ficar surpreso mas já passar os braços pela cintura dela

Ergo os olhos pro meu pai que sorri fraco e eu já entendi que na hora que ele tinha pedido pro Matemática avisar ela, vejo ele sair e fechar a porta e eu sinto meu pescoço molhado pelas lágrimas da Maya e eu suspiro fundo sentindo o cheiro bomzao dela



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