36

6.5K 416 9
                                    

Maya

Eu: nos quase nos beijamos, quase, a Julia interrompeu a gente- suspiro me lembrando do baile

Falando em Julia, não vi ela esses dias, provavelmente estava com algum namorado do Sul

Diana: Julia, não gosto dessa menina Maya, já te falei pra ficar longe dela- ela fala e eu assinto

Eu: eu sei mãe, mas ela é prima da Maitê, não tem como eu não ficar perto dela - minha mãe suspira

Diana: tá bom, vamos subir, é perigoso ficar aqui em baixo, depois eu arrumo essa bagunça

Nos subimos pra casa e eu suspiro me jogando na cama enquanto segurava meu celular pensando no Gaspar e no convite dele

Será que eu ia mesmo? Eu nem conhecia ninguém, quase nunca sai do Vidigal, nunca fui em nem um outro morro

Mas em lembrar do nosso quase beijo me fazia querer aceitar

Procuro o contato da Maitê e aperto pra ligar pra ela depois de alguns toques ela atende

IDL

Maitê : menina que invasão é essa, mal começou e eu com dor de cabeça- ela fala assim que atende e eu riu de leve e escuto o Isaque choramingar do outro lado da linha e a Maitê dizer um "calma meu bebê Jaja passa"

Eu : nem me fale, aqui torcendo pra nem um inocente ser morto - suspiro fundo e eu escuto seu suspiro também

Maite: povo também sem noção, horário de pico - ela estala a língua resmungando - mas tu ligou pra outra coisa que foi? Aconteceu alguma coisa?

Eu: Éér...mais ou menos

Maitê: o que? Conta tudo

Eu: lembra do baile quando eu fui buscar a bebida? Então...- contei tudo, des de o quase beijo até agora pouco escutando ela rir animada em algumas partes fazendo eu rir junto, Eu ainda não tinha contado detalhadamente pra ela

Eu: então, você vai comigo ?- pergunto e ela ri

Maite: brincando? É logico que sim, vocês têm mó  química, mais quimica o que o cabelo das mina do morro - riu alto escutando ela rir do outro lado da linha

Maite: mas agora falando sério, eu não tinha te chamado no baile aquela hora, Julia deve ter inventado pra interromper vocês - ela Buda e eu reviro os olhos

Eu: que raiva - falo baixo colocando a mao  testa escutando ainda os barulhos dos tiros do lado e fora

Maitê: imagino, que ela tem mó inveja de tu, disso nois sabe, mas não tem justificativa pra ela interromper vocês

Eu: inveja de que? Nada a ver

Maitê: sério Maya? passou pra reparar em você, além de ser uma puta de uma gostosa tem o coração enorme e faz de tudo pra ajudar todo mundo sempre, geral gosta de tu nesse morro, diferente da Julia - reviro os olhos enquanto colocava no viva voz e pegava uma lixa no meu criado mudo pra lixar minha unha que tinha lascado

Eu: falando nisso onde ela ? Não vi ela esses dias - franzo a sobrancelha quando  de novo eu paro pra pensar nisso

Maitê: diz ela que em Angra, com aquele cara que ela conheceu na balada lembra que ela tinha falado? - tento me lembrar e logo me vem na memória, o cara era casado, e tinha três filho... Cara de pau desses filho da puta de deixar mulher e filhos em casa pra sair com outra na rua

Muita piranhagem

Eu: isso ainda vai dar treta, escuto o que eu falando - lixo o canto da minha unha e assopro

Maitê: deixa dar, oxi, cansei de avisar e aconselhar, mas é a mesma coisa de ter conhecelho pra uma porta, porra, entra por um ouvido e sai pelo outro, deixa se foder sozinha, tenho meu filho pra criar , ela grandinha tem que aprender a se virar - isso era verdade

Julia sempre arrumava BO por se envolver com homem casado, ou ser assumida como fiel de fulano e ficar com ciclano, apesar de não ter muito contato com a Julia assim como eu tenho com a Maitê, eu tentava aconselhar, ela jogava muita oportunidade fora, dispensou trabalho  de fora do país por que um cara de Sampa bancada ela quando vinha pra , depois o cara deu um na nunca dela e ela voltou com o rabo entre as pernas

A gente até tentava aconselhar, mas não adianta nada se a pessoa nao quer mudar

Maitê: vou tentar fazer o Isaque dormir ? Depois eu te ligo pra saber direitinho o dia e o horário que nois vai e pá - ela falava enquanto eu ficava minha unha e eu asentia com a cabeça mesmo sem ela não ver

Eu: bom, vou pergunta é depois eu te falo - digo e nos despedimos rápido e eu logo desligo

FDL

Suspiro ainda escutando os barulhos dos tiros lá fora, e eu levo minha unha na boca pra roer mas logo abaixo ela suspirando sentindo meu coração acelerar

Eu: tá tudo bem, vai ficar todo mundo bem - eu falava pra mim mesma, mas o medo tava ali, do meu lado, tinha medo pelo matemática, pelo Dedé, pelo Gaspar, até pelo tio dele que eu nem conhecia, eu tinha medo pela favela, tinha medo de algum inocente que nem fazia parte de nada disso acabar em um saco preto, morto, sem vida, deixando pra trás sua família, sua vida, seus amigos, seus sonhos...

Eu amava as pessoas daqui, amava os moradores por que todos sempre se ajudaram independente do comando do Grego, se algum dia eu sair daqui eu vou ficar com saudade, mas eu vou ficar muito aliviada por saber que eu não ia precisar passar por isso, por esse medo, essa angústia...

Minha Perdição Onde histórias criam vida. Descubra agora