111

3.1K 234 14
                                        

Maya
Poucos dias depois...

Mastigo e engulo outro pedaço de bolo batendo as unhas na mesa inquieta enquanto olhava pra minha mãe que fazia o almoço, hoje ela não abriria o bar, eu havia acabado de voltar da loja, daqui a pouco iria na casa abrigo pra entregar algumas roupas, calças moletom, casacos, roupas de frio em geral já que está chegando o tempo de frio

Observo minha mãe me olhar de solaio e meus pensamentos vão novamente para o fundo do meu guarda-roupa, na última gaveta, em baixo de vários tipos de carretéis de linhas, agulhas, estras, entre outras coisas que nem eu sabia que tinha lá

Como outro pedaço do bolo e olho para as minhas unhas novamente, Matias sabia que tinha algo de errado comigo, mas ele sabia que eu nao falaria nada até que eu não estivesse pronta, e sinceramente, aquela foto está tirando meu sono a noite

Diana: Maya??- saio dos meus pensamentos para olhar pra minha mãe que agora estava em pé na minha frente do outro lado da bancada me olhando fixamente com as sobrancelhas arquiadas

Eu: hm?

Diana: você tá bem Ya? Te chamei três vezes- ela desvia o olhar para a tabua onde el cortava algumas cebolas

Eu: eu só tava... Pensando

Ela me olha rapidamente e depois desvia o olhar para baixo de novo

Diana: sobre o que querida? Você é o Matias brigaram?

Eu: Não, não tem nada a ver com o Matias

Ela continua em silêncio esperando eu falar

Eu: mãe posso te perguntar uma coisa?- pergunto empurrando o prato já sem nada para frente e apoiando meus cotovelos ali na bancada

Diana: o que quiser querida

Fico alguns segundos em silêncio processando o que eu iria falar

Eu: você conheceu meus pais biológicos?- sua mão para o que estava fazendo por um milésimo de segundo e logo volta a cortar

Eu: eu.... Eu só estou curiosa, nao me lembro de ter perguntado isso antes, mas esses dias eu pensei nisso e.. Fiquei curiosa- explico gaguejando em algumas partes

Não queria que Diana pensasse que eu queria ir atrás dos meus pais, Diana sempre me tratou como filha, sempre cuidou de mim como uma mãe, ela era foi a minha figura materna quando a mulher que me deu a luz se drogou até morrer na minha frente, ela foi a minha figura paterna pra fazer aquelas "ameaças" quando na escola eu tive alguns "crushs" em alguns meninos que não diravam mais de duas semanas

Diana é a minha mãe, eu podia não ter sangue, mas ela ainda sim é minha mãe

Escuto um suspiro bem baixo dela e seu olhar se levanta no meu por poucos segundos

Diana: não conheci seu pai, cheguei no morro depois que ele foi embora, mas pelo que eu sei ele trabalhava para o Grego, não diretamente eu acho, não sei te dizer como ele era, só sei que algumas pessoas tinham medo dele... Sua mãe...

Eu: a mulher que me pariu, minha mãe e você Diana- a corrijo e vejo um sorriso brotar nos seus lábios e seus olhos brilhando na minha direção

Diana: bom... a mulher que te pariu

Nos rimos juntas e ela continua

Diana: todos do morro conheciam ela, Marcela o nome, a era... Bem difícil de lidar, tinha a personalidade forte, era brava, chata, mas ficava pior quando... Ela se drogava, pelo que sei ela ficou com seu pai bastante tempo, ela já usava droga na época e acho que ele foi embora por causa disso, depois piorou, ela se vendia pra conseguir drogas, até hoje não sei como ninguém percebeu que ela tinha uma filha, eu nunca percebi barriga nem uma nela, mas ela era bem magrinha por causa de tanta substância que ela usava 

Eu olho pra mesa pensando

Diana: no dia que eu te encontrei eu tava voltando da boca 13, tinha novamente ido pedir pra alguém dar um jeito no Arnaldo, eu passei pela frente da casa, escutei seus gritos, olhei pela janela e vi você no cômodo chorando encostada no sofá com o corpo dela jogado na cozinha, você tava... Pálida, me lembro até hoje foi horrível ver uma criança daquele jeito. Eu voltei pra boca 13, contei o que vi ele arrombaram a porta, eu peguei você e deixei eles vasculhando a casa, encontraram de tudo um pouco lá dentro, armas, vários tipos de droga, malotes de dinheiros, ela tinha tido uma overdose pelo que falaram, tinha morrido faz tempo também

Diana: as vezes eu ainda sonho com isso, você, na quela casa, sozinha, com fome, frio, e com uma pessoa morta no cômodo do lado - vejo as lágrimas brotarem nos seus olhos e eu me levanto indo até ela e passando meus braços pelo seu pescoço a abraçando escutando seu soluço em seguida de um suspiro

Eu: eu to aqui agora mãe, você me salvou, você me ajudou, me tirou de lá me deu esperança, você me adotou, você é um anjo na minha vida e eu nao poderia ter alguém melhor nela - falo baixinho sentindo ela me apertar e se separar um pouco de mim passando os dedos pelo meu rosto

Eu: eu amo você mãe

Diana: eu amo tanto você meu amor

Depois de alguns minhtos eu voltei a me sentar na bancada e ela voltou o que estava fazendo

Diana: ah, a mulher que te pariu era amiga da Valdete, elas eram bem amigas antes depois se separaram quando a Marcela começou a se vender e se drogar mais do que já se drogava

Eu: por que isso não me deixa surpresa?- Valdete andava com as mulheres mais cheias do morro inteiro na cola, isso isso certeza não me surpreendia

Depois de um tempo eu escuto minha mãe suspirar e me olhar

Diana: sabe que pode me contar o que for nao é? Te conheço May, você nunca se interessou por esse assunto, mas sauna que qualquer coisinha eu estou aqui

Suspiro fundo depois de alguns segundos

Eu: eu... recebi uma foto mãe, me entregaram na escola... E eu acho que eram meus pais

Minha Perdição Onde histórias criam vida. Descubra agora