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Gaspar

Matemática: a carga da Bolívia pronta, despacha?- pego meu radinho assim que escuto a voz do Matemática

Eu: conferiu?

Matemática: tudo certinho

Eu: confere de novo

Despiis de alguns minutos eu escuto a voz dele de novo

Matemática: tudo certo Gaspar

Eu: despacha, manda os soldados fazer as ronda até a fronteira, se eu perder carga o bagulho vai cair no peito de vocês

Matemática: firmeza

Jogo o radinho na mesa e olho pro meu pai que mechia no celular e me olhava

Eu: que foi?

Barao: tu tá muito estressado- reviro os olhos e ele revira junto

Eu: os mano do G.D.E tão querendo vir pro Rio, tão precisando de uma fortalecida dos mano daqui pra trazer eles

Barão: tão querendo vir de fortaleza pra cá pra que? Pesadelo num cabou de sair das tranca?- ele franze a sobrancelha e eu dou os ombros assentindo

Eu: falaram que era bagulho de família, vão ficar em Niterói, acho que um ou dois meses, resolve esse bagulho pra mim? Tô cheio de coisa pra fazer

Barao: resolvo pô, avisa pro Pesadelo que eu não quero bagunça aqui no Rio não viu, se for bagulho de família que venha mas nao de trabalho- assinto algumas vezes e foco no computador fechando os calculo da boca principal lá do começo do morro

Eu: eu já acabei, vou pra casa dormir, tô mortao

Pego meu celular e a chave do carro e me levanto, faço um toque com meu pai e saio da boca mas assim que eu piso o pé na rua eu escuto o bagulho de fogos estourando no céu me assustando

Eu: mas que caralho, porra - anfio o celular no bolso da bermuda e a chave no pescoço e vejo meu pai correr até mim segurando dois fuzil e me entregando um

Já descemos o morro a milhão escutando os tiros e os gritos de desespero dos moradores e dos soldados já feridos

A adrenalina já pulsou na veia, o coração acelerado pra caralho

Eu: QUEM É PORRA? - pergunto no radinho me encostando na parede e depois metendo tiro de novo escutando a voz do Marcinho, um dos vapores falarem no rádio

Marcinho: PMEJR esse filha da puta

Franzi a sobrancelha já atirando de novo e olhando pro meu pai que tava na parede do outro beco

A gente tem x9 nesse Batalhão, se o cara nao foi pego então mudou de lado de novo, e se ele tiver feito isso, nois vai tá fudido

Atiro nos rato fardado e já vejo vários deles caindo mas sem recuar

Eu: AVANÇA PORRA - grito avançando aturando vendo o Dedé parar do meu lado enquanto trocava o pente rápido e voltava a atirar

Eu: a carga da Bolívia conseguiu sair?

Dedé: saiu pouco antes dos rato invadir

Sinto os pingo fraco e gelado de chuva me molhar e eu suspiro ainda atirando, não demorou muito pra chuva engrossar mais

Avanço mais um pouco ficando na parede de outro beco e respiro fundo olhando pro chão do meu lado vendo um corpo estiçado ali, reconheci dois segundos depois

Era um morador, conversei com ele quando foi pegar a sexta básica na boca, ele e a filha, lembra dos olhos dele cheios de lágrimas enquanto ele olhava pro céu e agradecia a Deus e a mim. Por ter comida

E agora ele tava na minha frente, sem vida, com a chuva levando o sangue dele morro a baixo

o aperto no peito já veio

Pensando na família dele, na filha e na mulher e em como as duas iriam reagir, o luto, a perda, a tristeza

Coloco meu corpo pra fora do beco e Atiro mais, senti o dedo no gatilho vendo três dos policiais que estavam avançando cairem já sem vida

Avanso mais saindo daquele daquele sem querer mais ver aquele corpo sem vida ali

Corro pro outro lado ficando do lado de um dor vapores que atirava sem parar, olhei rápido pela rua vendo a chuva levar o sangue do chão, sangue de morador, envolvidos e vermes

Todos junto, tudo misturados

Me levanto de novo atirando nos verme e sinto a ardência na minha perna e ela sendo perfurada fazendo ela bambiar

Barao: GASPAR PORRA, COBERTURA CARALHO - senti meu corpo desequilibrar e braços me segurar por trás ao mesmo tempo em que o vapor que tava do meu lado fica na minha frente atirando, olho pro meu pai que me segurou e vejo o Dedé parar do meu lado

Sinto meu pai me puxando pro beco sinto minha perna formigar e ficar dormente

Eu não sentia nada, e eu sabia por que era pela adrenalina eu já tinha levados outros tiros antes

Vejo meu pai tirar a camisa e rasgar ela se ajoelhando na minha frente e vendo o sangue

Barao: não tem buraco de saída, tá lá dentro ainda, Dedé vai buscar um carro, JEY AQUI C
NO BECO AGORA, CORBERTURA - ele grita pro vapor do outro lado da rua enquanto amarrava o pano na minha panturrilha e eu vejo o Dedé correndo pelo beco e o Jey chegando

Eu: fica suave pai, não tá doendo

Barão: tá falando isso agora - ele se levanta me olhando rindo e eu reviro os olhos suspirando

É, quando a adrenalina passar, essa porra vai doer pra caralho

Minha Perdição Onde histórias criam vida. Descubra agora