Capítulo 26| Ian

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'You know you want me, baby, you know I want you too
They call me Superman, I'm here to rescue you'

- Superman, Eminem

Sexta-feira, 24 de novembro

Observo os alunos sair apressadamente da sala e permaneço sentado, analisando minuciosamente o meu projeto pela última vez. Fui o único que cumpri com o prazo de entrega, o que me faz repensar muita coisa, pois à alguns anos atrás eu reprovaria quem fizesse isso.

De facto, eu tornei-me no aluno exemplar, que entrega todas as tarefas atempadamente, não interrompe as aulas e tem as melhores notas. Não me importo com as piadas dos meus colegas de curso, porque, no final, serei eu a passar como primeiro classificado e ingressarei numa prestigiada equipa da Fórmula 1. Esse é o meu grande objetivo e nada me desviará dele.

- Excelente trabalho, Ian! - o professor admira a minha maquete com bastante interesse.

Fico orgulhoso da minha produção, que me custou imenso esforço e dedicação, mas valeu a pena todo o tempo que investi.

- Obrigado, professor. Demorou imenso a construir. - sorrio e cumprimento-o.

- Tens a cadeira praticamente feita. - informa, folheando os seus apontamentos. - Só precisas de mais dois pontos. És o melhor aluno do curso.

- Não faço por menos, senhor. - declaro. - Tenha um bom dia.

Saio da sala e apresso-me a contactar a morena, para lhe dar a boa notícia.

- Bom dia, linda.

- Bom dia, moreno. - a sua voz finalmente soa, sobressaindo-se do ruído que a rodeia.

- Manhã ocupada? - questiono.

- Imenso! - exclama. - Vais me salvar deste martírio?

- Posso sempre ser o teu super herói, morena. - brinco. - Só te queria dizer que já ganhei o dia.

- Então porquê? - a sua curiosidade desperta. - Não me deixes ansiosa!

- Calma. - rio perante a sua impaciência. - Tive nota máxima no projeto do semestre.

- Parabéns! - exclama efusivamente, comovendo-me. - Tens imenso talento e depositas toda a tua energia nas tarefas que te são atribuídas. Mereces todo esse reconhecimento que estás a receber.

- Obrigado, amor. Vais ao meu treino? - questiono, torcendo por uma resposta positiva.

- Claro. Se quiseres que eu lá esteja, com certeza estarei. - declara.

- Quero sempre que estejas presente. - afirmo, descendo as escadas até ao salão principal. - Vejo-te daqui a pouco. Cuida-te.

Encontro o Ricci perto das máquinas de venda automática, acompanhado por um casal que eu desconheço. O loiro avista-me e pede para eu me aproximar, preocupando-se em apresentar-me os seus novos amigos. Gustavo é um estudante do segundo ano do nosso curso e a namorada é filha do coordenador da faculdade de engenharia.

Sofia estava a observar todos os estudantes, procurando alguma anomalia para reportar ao pai, quando avistou Ricciardo sozinho e se aproximou. Eles rapidamente engataram uma conversa animada sobre as bases do curso, à qual eu me juntei, realçando o meu projeto. Gustavo deu-me alguns conselhos que eu gravei na minha mente e reforçou a importância de ter excelentes resultados desde o início.

Eles acompanharam-nos até ao pavilhão gimnodesportivo, onde já decorria o aquecimento. O casal percorre o curto caminho que nos separa do coordenador e, pela linguagem corporal de Sofia, percebo que ela informa o pai sobre a nossa pequena interação. Tenho a sensação de que o Sr. Roberto avaliará o meu progresso universitário.

Como de costume, algumas novatas apressaram-se em vir ao meu encontro, embora eu as ignore constantemente. Prefiro procurar a morena nas bancadas e facilmente a encontro. A sua gabardina preta atribuía-lhe um ar sofisticado, juntamente com as pernas deslumbrantes, descobertas pelo seu vestido cinzento claro que abraças as suas curvas até ao meio das coxas. E, assim, com o cabelo imaculadamente preso, de forma a realçar os seus caracóis negros, apresentava-se numa posição de superioridade em relação às restantes mulheres presentes. Mathilde tem um brilho próprio e isso deixa-me cada vez mais extasiado.

Os exercícios individuais terminam e, repentinamente, o meu treino torna-se uma competição pela sua atenção, na qual eu estou incluído, mesmo sem necessidade nenhuma, uma vez que ela repara exclusivamente em mim.

O jogo começa e eu consigo recuperar a posse de bola e ganhar todos os duelos, criando bastantes oportunidades e marcando incontáveis cestos. Ouvia o meu nome ser proferido incansavelmente, mas a única pessoa que prendia a minha atenção fora do campo era ela. Quando o apito do treinador soa, sinalizando o fim do treino, toda a equipa técnica cumprimenta-me e parabeniza-me pela minha boa exibição, fruto do meu empenho e dedicação.

A mentalidade que se solidificou na minha mente durante as últimas semanas deve-se, essencialmente, às observações que eu fiz dia após dia da morena num ritmo frenético, correndo atrás da nota máxima em todas as avaliações. Ela quer ser a melhor e eu quero ser o melhor, por isso, juntos somos os melhores.

Algumas pessoas invadem o campo e Mathilde aproxima-se calmamente, fugindo da confusão. Desloco-me em sua direção e ela envolve-me num abraço apertado.

- Estou suado, amor. - comento, não desejando arruinar a sua apresentação perfeita.

- És incrível, moreno. Destruíste-os dentro das quatro linhas. - ela elogia, ignorando o meu comentário, e um largo sorriso toma conta do meu rosto.

- Obrigada, linda. Ficas a saber que todos os pontos que marquei foram exclusivamente dedicados a ti. - deposito um beijo nos seus lábios avermelhados.

- Se a proposta ainda estiver de pé, adoraríamos mudar-nos para a casa depois do Natal. A Fran animou-se imenso com a descrição que lhe dei e mostrou-se bastante disposta em estar mais próxima do Ricci. - Mathilde parece atravessar um misto de emoções, das quais a ansiedade e empolgação se destacam.

- Quanto mais depressa isso acontecer, melhor. Penso todos os dias nisso. Mal posso esperar por concretizar esse cenário de felicidade e, certamente, realização para todos nós. - indago.

- É quase um sonho. - a morena admite.

- Vou levá-los para conhecerem todos os cantos da propriedade. Também te quero mostrar as projeções que fiz para os cómodos. - confesso.

- Vamos para os dormitórios, agora. Preciso mesmo de relaxar. - ela desabafa.

- Uma sessão de hidromassagem ajudava? - não escondo a malícia na minha voz.

- Seria fantástico. - sussurra.

- Não vens, Ian? - um dos veteranos interrompe-nos.

- Não posso. Tenho algo mais importante com que me ocupar. - pontuo, apertando a Mathilde firmemente contra mim.

John encara-me com desprezo, enquanto os restantes ficam aborrecidos com a minha ausência constante. Cada vez mais me afasto deles, pois não me identifico com o estilo de vida que eles levam.

- Essa vossa rotina péssima, com hábitos tão prejudiciais, limita o vosso rendimento a todos os níveis. O próprio treinador já nos deu um sermão em relação a isso. Repensem as vossas prioridades. - a minha resposta sai um pouco mais rígida do que eu estava à espera.

- Calma, campeão. - todos riem.

- Não precisas de assumir o meu papel de capitão. - o silêncio paira depois da breve declaração do atleta mais respeitado da universidade.

- Se calhar até preciso. - desafio-o.

- No último dia do mês, decidimos aqui quem é melhor. Eu, tu e o treinador. Vamos ver quem fica com a braçadeira. - ele praticamente cospe as palavras.

- Ian.. - Mathilde sussurra, tentando impedir-me de alinhar em algo tão fútil, mas não é bem-sucedida.

- Aceito. - estendo a mão em sua direção e ele aperta-a com força.

Trocámos um olhar mortal e depois cada um seguiu o seu caminho. Ele acompanhado pela equipa e eu pela minha mulher.

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora