Capítulo 47| Ian

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'We just need to slow the motion
Don't give that away to no one
Long distance, I need you
When I see potential I just gotta see it through
If you had a twin, I would still choose you
I don't wanna rush into it, if it's too soon'

- Work, Rihanna & Drake

Sábado, 20 de janeiro

O julgamento foi encerrado, o caso foi arquivado por falta de provas. Estou livre, fui declarado inocente, a justiça foi feita.

O tribunal fica em silêncio. O olhar fulminante do meu pai atravessa-me como uma flecha e sinto o meu estômago revirar-se. Tudo mudou desde que eu saí de casa. Se antes eu tinha o mínimo de respeito pelos meus progenitores, agora nem os consigo ver sem ficar indisposto.

Mathilde percebe a tensão e encosta-se a mim. Não hesito em abraçá-la. Ela manteve-se ao meu lado, mesmo com todos os desafios que teve de enfrentar. A morena viu-me no meu pior estado e, ainda assim, ficou. Quando a minha própria família me abandonou, mais uma vez, ela estava lá para me apoiar incondicionalmente. Tudo o que fez por mim foi puro. Ela nunca me cobrou nada e não esperava nada em troca da sua bondade.

Eu não mereço tanto. Não mereço o amor de alguém tão generoso. Eu sempre fui egoísta, sempre desvalorizei os sentimentos dos outros. Eu devia estar a colher o ódio e a indiferença que plantei, não o seu carinho. Depois de tudo, ter uma segunda oportunidade para ser feliz não me parece certo.

Sinto-me curado, no entanto. Já não sou o jovem revoltado que era, e devo isso a uma única pessoa. Mathilde abriu-me os olhos para a positividade e permitiu-me desfrutar da melhor versão do mundo, enquanto eu me martirizava. É por ela que estou disposto a viver, mesmo que não consiga deixar de pensar que a vou prejudicar de alguma forma.

Lembro-me subitamente do dia em que Mathilde confessou que sentia-se livre e poderosa quando estava comigo e pondero se tenho tanto impacto na sua vida como ela tem na minha. Chego à conclusão de que, definitivamente, precisávamos um do outro para encontrar a paz que ambos ansiávamos.

Ainda assim, sinto que não deveria arrastá-la para o caos da minha vida. Mathilde sempre mereceu melhor do que eu. Porém, só o pensamento de a ver com outro homem faz o meu sangue ferver.

Estou num impasse. Quero oficializar o nosso relacionamento, dar-lhe estabilidade, construir um futuro magnífico com ela. Por outro lado, não tenho a certeza se isso não pioraria a nossa convivência.

A morena convidou-me para conhecer a família dela, o que indica que não me vê apenas como um amigo com benefícios. Pergunto-me se ela idealiza-me como o homem que quer a seu lado, embora não veja nenhum motivo para tal.

O processo de mudança para a residência foi particularmente simples. Todos somos flexíveis e conseguimos adaptar-nos bem. É reconfortante ter companhia vinte e quatro horas por dia e ver a casa cheia, pois isso diminui bastante o sentimento de solidão.

Ricciardo ficou radiante por dividir o quarto com a loira e, logo na primeira noite, o som da cama a bater contra a parede não nos deixou dormir. Pelo menos a isolação acústica abafou os outros sons. Mathilde não deixou de tecer comentários maliciosos durante a madrugada, fazendo-me gargalhar.

- Que pressa para testar a resistência da cama. - boceja.

- Não julgo. - admito. - Não sabemos se seríamos nós caso não estivesses em recuperação e eu demasiado cansado.

- Não vamos conseguir dormir. - reclama, colocando a almofada à frente do rosto.

- Relaxa. - puxo-a para mim e ela aconchega-se contra o meu peito. - Sabias que eu adoro observar-te enquanto dormes?

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora