Capítulo 59| Ricciardo

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'Secrets I have held in my heart
Are harder to hide than I thought
Maybe I just wanna be yours
I wanna be yours, I wanna be yours'

- I Wanna Be Yours, Arctic Monkeys

Quinta-feira, 15 de fevereiro

Chegámos a casa relativamente cedo, por volta das nove da manhã. Um silêncio agradável envolvia o ambiente e a suíte do Ian encontrava-se trancada. Fitei a loira, que também estava surpreendida com a tranquilidade do lugar. 

Os carros na garagem indicavam que ambos estavam em casa, o que despertou a nossa curiosidade. Quero acreditar que o meu melhor amigo conseguiu engolir o orgulho e reconquistar a morena. Quero acreditar que, mesmo depois de tudo, Mathilde o acolheu e aceitou-o novamente. 

A reconciliação deles significa que podemos finalmente conviver sem farpas, viajar todos juntos e celebrar as conquistas individuais em grupo. Francesca ficaria muito mais tranquila ao saber que a prima tem o apoio do meu melhor amigo. De certa forma, eu também ficaria menos preocupado com o Ian se tivesse a garantia de que a morena está ao seu lado a todos os momentos. 

- Aparentemente, reconciliaram-se. - Francesca constatou. - Confesso que estava à espera de ver a casa revirada, loiça partida, sangue no chão. 

- Acho que estás a ser demasiado dramática. - brinco. - Eles até podem odiar-se, mas jamais se feririam fisicamente. 

- Eles não se odeiam. - a loira declarou. - Essa é a parte mais complicada no relacionamento deles. Se se odiassem mutuamente, era muito mais fácil lidar com a presença um do outro. Contudo, o que ambos mais querem é estar juntos. Isso é perceptível só pela postura dos dois quando têm de partilhar o mesmo ambiente. 

- Espero que tenham entendido isso. Estou cansado de ver o Ian no estado deplorável que tem estado nos últimos dias. Ele é demasiado teimoso para admitir, mas sei que lhe custa imenso estar naquela situação. - desabafo. 

- A falta de sexo muda drasticamente uma pessoa. - provoca.

Eu gargalho com a sua afirmação e envolvo-a num abraço, respirando a essência adocicada do seu cabelo. Francesca suspira, com um sorriso no rosto, apertando-me com força. 

- Se tiveram um dia tão maravilhoso quanto o nosso, demorarão a acordar. - ela sussurra, rindo com a sua própria insinuação. - Devemos arrumar as nossas malas e preparar o pequeno almoço. Quando acordarem, vamos fazer-lhes um interrogatório. 

- Deixo essa parte nas tuas mãos, doutora. - selo os nossos lábios num beijo rápido. 

O nosso quarto está impecável, pelo que não foi difícil organizar novamente os nossos pertences. Colocámos a roupa suja perto da porta e, depois de esvaziar as malas, eu guardei-as na prateleira do topo do closet. 

Estávamos a acabar de arrumar tudo quando ouvimos a porta do outro quarto abrir bruscamente. Francesca encarou-me assustada, mas o alívio retornou ao seu rosto quando ouvimos o tom humorado de Ian muito perto de nós. 

- Vais-me obrigar a fazer cardio tradicional logo de manhã? - o meu amigo diz, parecendo estar a entrar numa espécie de brincadeira.

Aproximámo-nos da porta lentamente, não querendo interromper o momento deles. Mathilde estava parada no final das escadas, com um sorriso divertido no rosto. A tensão esvai-se do corpo da loira ao meu lado quando se apercebe de que está tudo bem.

Repentinamente, Ian desata a correr pelas escadas abaixo. Apressámo-nos a sair para o corredor e vimos o exato momento em que ele encurralou Mathilde. Ela limitou-se a deixar-se cair nos braços dele, rindo enquanto ele a rodava no ar. 

- Bom dia! - Francesca exclama, fitando a prima com diversão.

- Bom dia! - ela responde sorridente. - Como correu a vossa estadia fora?

Encaro Ian com um olhar fulminante, tentando entender o que ele fez na nossa ausência. Ele discretamente desvia o olhar para a mão da morena, onde se destaca um anel de compromisso.

- Foi simplesmente incrível. - a loira suspira. - Este homem é uma caixinha de surpresas.

- Acho que posso dizer o mesmo. - Mathilde desvia o olhar para Ian, que parece completamente inebriado por ela.

- Nós queremos saber o que aconteceu. - Francesca pontua, buscando a minha confirmação.

- Pelas alianças, acho que podemos deduzir o que aconteceu. - afirmo.

- Vocês estão a namorar!? - a loira interroga surpreendida.

- Sim! - a morena responde, aproximando-se da escada para mostrar o anel.

Francesca desliza pelo corrimão, abraçando a prima com emoção. Aproveito para também descer e parabenizar o meu amigo por finalmente ter reunido coragem para obedecer ao seu coração.

- Consegui! - ele sussurra, com um sorriso enorme no rosto. - Obrigado, Ricci, pelo encorajamento. Foi perfeito.

- O mérito é todo teu, meu caro. - bato-lhe nas costas. - Agora, já sabes, não estragues tudo. 

- Tenho isso em mente. - diz com seriedade.

- Ficamos quites, Ian? - Francesca pergunta repentinamente.

- Com certeza! - o moreno exclama. - Acertaste em cheio na lista. Ela só não dormiu abraçada aos livros porque eu não deixei.

- Ele também adorou a camisola. Quer emoldurá-la e pendurar mesmo em frente à nossa cama. Vou ter de acordar todos os dias com a visão do símbolo do Real Madrid e a assinatura do Bellingham logo abaixo. - a loira comenta com falso aborrecimento.

- É o sonho de todos os homens, Fran. Quer dizer, quase todos, alguns têm mau gosto e preferem o Barcelona. - Ian revira os olhos.

- Não acredito que tinham tudo planeado e esconderam de nós este tempo todo. - Mathilde afirma, a sua expressão dura a revelar alguma inconformidade.

- De acordo. - alinho no jogo.

- Estão a reclamar de quê? Podem só admitir que somos incríveis. - a loira apoia as mãos no sofá, encarando-nos.

- Exatamente. Nós trabalhamos bem. - Ian cruza os braços no peito.

Fito a Mathilde e prendo o riso, tentando manter a postura, mas é impossível ficar sério enquanto dois indivíduos nos encaram à espera de uma reação.

- Acho que não faz mal amaciar o ego deles desta vez. - a morena declara. - O que dizes, Ricci?

- Eles sabem muito bem o quão gratos estamos. - afirmo. - Só querem um elogio.

- Idiota. - Ian empurra-me.

- É verdade, irmão. - reforço. - Sabes bem que eu não era nada sem a tua amizade.

Volto a atenção para as duas mulheres da casa e vejo-as abraçadas. As duas alianças a brilhar com a luz do Sol refletida.

Quando se separam, Mathilde contorna o sofá e senta-se ao lado de Ian, enquanto a loira se aproxima novamente de mim.

- Amo-te. - sussurro. - Obrigado por tudo.

- Também te amo, loiro. - afirma, ficando em bicos de pés para me beijar.

- Vocês não têm quarto? - a voz de Valentina sobressai no silêncio.

Olhamos todos ao mesmo tempo para a entrada e vimos o casal entrar com as malas.

- Tornaste-te no que mais temias, amor. - Thiago provoca.

- Sejam bem-vindos novamente a casa! - Ian exclama, voltando a focar-se na morena, sentada no seu colo.

Ninguém questionou nada, mas tudo estava diferente. Definitivamente, a nossa relação intensificou-se substancialmente de um dia para o outro.

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora