Capítulo 35| Ian

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'Do you think I'm calling?
Do you think I'm calling out your name every night?
Girl, I have fallen for you'

- Genius, LSD (Labrinth, Sia & Diplo)

Segunda-feira, 01 de janeiro

- Boa tarde. Senhor Ian Scott? - o agente mais velho cumprimenta-me severamente.

- O próprio. - afirmo.

- Está informado sobre a acusação? - questiona.

- Positivo, senhor agente.

- Será ouvido em tribunal na próxima semana, numa primeira audiência. - informa. - Temos ordem de reclusão para garantir a continuidade do processo.

O meu mundo desaba por breves segundos e eu sou incapaz de responder, até ouvir uma voz doce que me acalma.

- Negativo. - Mathilde surge nas escadas. - Permita-me, como estudante de Direito, pedir ao senhor agente para reler o artigo referente à reclusão de um suspeito enquanto decorre o julgamento, previsto no Código Penal.

- A que propósito vem a sua intervenção? - o outro agente pronuncia-se com arrogância.

- Princípios de lei. - a morena assume uma postura de superioridade. - Tenho o direito de pedir informações adicionais sobre as ações de qualquer agente de autoridade, principalmente quando identifico uma irregularidade no procedimento interventivo.

- Não questione a legitimidade do nosso trabalho, a menos que queira acompanhar o senhor Ian até à esquadra. - ameaça.

- Senhores agentes, não há necessidade de deturpar a dimensão do processo. - interrompo. - Pretendo recorrer e entregar uma garantia em troca da minha liberdade. Vou assumir a minha inocência, não me acobardarei perante os magistrados. Tenho compromissos aos quais sou obrigado a comparecer, não posso ser preso, ainda que provisoriamente. 

- Procederemos a uma averiguação à residência, ninguém pode sair. - o mais velho ordena. - Vamos comunicar a resistência à detenção, também. 

- Estás seguro. - ela não tenta ser discreta. - Pede a presença de um advogado e, não importa o quão óbvia possa parecer uma determinada situação, exige sempre uma explicação. Querem derrubar-te e não vão conseguir. 

- Obrigado. - sussurro. 

Vejo os dois homens revirarem tudo. Agradeço mentalmente à Francesca e à Valentina por terem arrumado minimamente a confusão que a festa de ontem naturalmente causou. Se eles tivessem se deparado com a residência naquelas condições, com certeza teriam implicado.

- Voltaremos com a resposta do juiz de instrução. Está legalmente interditado de sair dos limites territoriais da cidade. - pronuncia, enquanto aponta qualquer coisa nos documentos oficiais.

- Continuação de um bom trabalho. - continuo com simpatia. - Espero contar com o profissionalismo de todos os envolvidos para concluir este processo em liberdade.

A morena rodeia o meu corpo com os braços, num aperto tão firme que quase me sufoca. Não reclamo, pois este abraço era o que eu mais precisava.

Terça-feira, 02 de janeiro

Aguardo pela morena dentro do carro, pacientemente. Mathilde insistiu que precisava de passar pela loja de eletrónicos, mas não me quis dizer o motivo. Ela podia ter vindo no seu carro, porém, eu ofereci-me para ser o seu motorista de serviço, até porque o meu veículo estava muito mais acessível.

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora