Capítulo 16| Ian

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'Soon as you see the text, reply me
I don't wanna spend time fighting
We've got no time'

- One dance, Drake feat. Kyla & Wizkid

Sexta-feira, 20 de outubro

Não suporto ver um indivíduo que claramente a deseja tão perto dela. O sangue sobe-me à cabeça quando penso na possibilidade de outro alguém tocar no corpo que é suposto ser meu, sentir e apreciar algo que apenas pode estar disponível para mim.

Sou um idiota por permitir isso. Arrependi-me instantaneamente de a ter ignorado nos últimos dias. Embora os meus motivos sejam nobres, foi extremamente difícil não estar perto dela, estar longe do seu calor e dos seus lábios irresistíveis. Queria protegê-la, deixá-la longe de toda a confusão entre mim e a Alice, mas acabei por deixar o caminho livre para outros tomarem o meu lugar.

- Nem te atrevas. - ela impede-me de desferir uns quantos socos na cara dele e obriga-me a voltar à razão.

Fito as suas íris escuras sem vida, com raiva devido à minha agressividade, com mágoa devido à minha distância, confusas e perdidas devido a toda a situação. A imensidão do seu olhar inunda e ela tenta segurar as lágrimas.

- Vem comigo. - imploro, com o mesmo tom de voz baixo.

- Porquê? - questiona, visivelmente cansada. - Esquece-me, Ian. Não te metas em confusões.

Não permito que ela se afaste e seguro o seu braço delicadamente. Aproximo-me ainda mais, ficando a milímetros de distância.

- Por favor. - sussurro meigamente contra os seus lábios. - Ambos precisamos de um tempo a sós.

Ela hesita perante o meu convite, mas eu sei que ela não o consegue negar. A nossa conexão é inexplicavelmente forte e jamais poderíamos estar longe um do outro sem qualquer explicação.

Ricciardo e Francesca empurram-nos para fora do estabelecimento para evitar mais confusão e nós seguimos até ao bloco de dormitórios.

Ela não me olha em nenhum momento, evita-me a todo o custo. Isso incomodava-me de certa forma, mas eu entendia a sua postura. Eu dei-lhe motivos para ela não querer estar comigo.

Estaciono o carro em frente ao prédio e desligo-o, encarando-a. Mathilde mantém o seu olhar baixo, numa postura de fragilidade.

Suspirei, lembrando de todas as noites que, sem conseguir dormir, vagueei pelas ruas à procura de algum consolo. Eu queria tê-la ao meu lado. Esse seria o meu único refúgio.

- Preciso de uma bebida. - ela suspira, finalmente procurando o meu olhar.

Estranho a sua declaração, mas não quero questioná-la neste momento. Ela estará sempre segura comigo e isso é o que realmente me importa. Dirigi até sair da cidade, procurando um bar calmo, onde não seríamos reconhecidos. Assim que entrámos no estabelecimento, todos os olhares foram direcionados a nós, talvez por sermos rostos novos naquele local. Encaminhei a morena até à mesa mais reservada, localizada no canto, e pedi um whisky e um coquetel de morango.

- Então, suponho que tenhas algo a dizer-me. - ela diz, sem grande vontade de estar perante a minha presença.

- Eu não fui inteligente ao afastar-me sem dar qualquer tipo de justificação. - admito, com um suspiro. - Contudo, se eu te contasse o meu plano, tu reprová-lo-ias.

Mathilde arqueia a sobrancelha e as suas íris escuras encontram as minhas pela primeira vez desde que saímos do café.

- Pensei que seria o melhor a fazer para preservar a tua segurança. Resultaria, porque Alice pensou mesmo que eu tinha perdido o interesse por ti, se o John não estivesse à espera que eu me distancia-se para atacar. - sinto o meu corpo queimar só com a menção àquele indivíduo.

- Qualquer pessoa pensaria o mesmo. - reforça. - Não te importaste minimamente comigo, nem quiseste saber o que eu senti quando me ignoraste, vezes sem conta.

- Desculpa, morena. - sussurro. - Eu não podia simplesmente alimentar as paranoias dela. Não suportaria ver-te incomodada por algo que não tens culpa nenhuma.

- Sabes o que me incomodou profundamente? - o seu tom amargo era evidente. - Procurar respostas, dia após dia, para todas as interrogações que se apoderavam de mim, sem que eu tivesse qualquer controlo sobre elas.

- Eu não tinha a intenção de te magoar... - procuro as palavras certas para obter uma reconciliação.

- Não o fizeste. - ela é firme na sua resposta. - Eu não te daria tal poder.

O silêncio instala-se entre nós e prolonga-se por bastante tempo. A cada palavra que ela me dirige, sinto a sua mágoa. Ela tem razão em tratar-me de forma indiferente. Não tinha noção de que isso me incomodaria tanto.

- Quero ver-te sorrir, linda. - afirmo. - Consegues fazer isso por mim ou vou precisar de sugar essa tua tristeza?

- Eu não funciono assim, Ian. Sou monogâmica, aceito somente exclusividade. - declara.

- Sabes perfeitamente que não tenho mais ninguém, e não tenho qualquer intenção de me envolver com qualquer outra pessoa. - confesso.

- Não me interessa. - estende o seu copo vazio e, depois de remexer na sua mala, deixa uma nota na mesa.

- Eu pago. - imponho-me, levantando-me.

- Não preciso da tua caridade. - Mathilde murmura.

Viro-me, ficando frente a frente com ela, e aproximo-me, encurralando-a contra o banco.

- Eu também não tenho a obrigação de fazer o que faço, mas sinto-me melhor assim. - sussurro e o seu olhar cai para os meus lábios.

Ela continua imóvel e eu aproveito a sua vulnerabilidade para a beijar. Tinha saudades de sentir os seus lábios doces e macios em contacto com os meus. O sabor a álcool que se misturava nas nossas línguas fez-me recordar do nosso primeiro beijo, do seu corpo em cima do meu, das suas provocações que, por momentos, fizeram-me perder a sanidade.

Senti as suas mãos procurarem apoio nos meus braços e ela retribuiu o beijo com a mesma vontade, com a mesma saudade.

Não estava minimamente preocupado com a atenção que, naturalmente, atraímos. A atração de dois seres não pode ser impedida por esse mero detalhe, é um ato audacioso que não deve ser reprimido.

- É um erro medirmos o nosso orgulho, Mathilde. - sussurro contra os seus lábios, apertando firmemente a sua cintura.

Ela suspira e fecha os olhos, incapaz de suportar a nossa proximidade. Sinto o seu corpo amolecer nos meus braços, a morena perde a sua postura, e entrega-se, cansada de resistir.

Embora apenas tenha bebido um copo de whisky, não me considerava sóbrio, porque, de certa forma, ela consegue mexer comigo ao ponto de me deixar cego.

Entreguei-lhe o dinheiro que ela havia deixado em cima da mesa e dirigi-me ao balcão, pagando o nosso consumo. Encontrei-a perto do carro e Mathilde apoiou, voluntariamente, os seus braços nos meus ombros, beijando-me novamente.

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora