Capítulo 2| Mathilde

108 7 0
                                    

'I've been tryna call
I've been on my own for long enough
Maybe you can show me how to love, maybe
I'm going through withdrawals
You don't even have to do too much
You can turn me on with just a touch, baby'

- Blinding Lights, The Weeknd

Domingo, 01 de outubro

O meu sonho de cursar direito na universidade finalmente se cumpriu e eu não poderia estar mais feliz por realizá-lo juntamente com a minha prima, Francesca. A nossa paixão pela magistratura não é algo recente e o apoio dos nossos pais foi fundamental para conquistarmos duas vagas na universidade mais prestigiada de todo o país.

Eu e a Fran somos praticamente inseparáveis. Crescemos juntas e, embora tenhamos personalidades distintas, completamo-nos. Considero-a a irmã que eu nunca tive, que está sempre comigo independentemente da situação.

Sempre quisemos ser independentes e morar juntas tornou-se um objetivo claro, mesmo que os nossos pais discordassem. Sair de casa foi um grande desafio.

As primeiras quarenta e oito horas foram de puro êxtase. Nós decoramos o dormitório, deixando-o acolhedor e um pouco mais pessoal, além de encher os armários da cozinha. Os nossos pertences também foram arrumados nos seus devidos lugares.

A convivência entre mim e a minha prima não seria tão íntima se a desorganização prevalecesse. Ambas temos a necessidade de deixar tudo imaculadamente limpo e arrumado.

O longo passeio que fizemos durante a tarde levou-nos a conhecer um pouco mais sobre a cidade. Os estabelecimentos mais famosos e os principais pontos turísticos não passaram despercebidos.

Estávamos sentadas na esplanada do salão de chá mais calmo da avenida quando eu vi a casa de jogos mais frequentada pelos universitários, do outro lado da rua. Estranhamente, reconheci o carro que estava estacionado em frente ao edifício, e quando vi os nossos vizinhos a sair do veículo tive a confirmação que necessitava.

A Porsche não me passou despercebida no estacionamento do bloco de dormitórios. Estava logo ao lado da minha BMW e eu demorei-me a aprecia-la. Não é todos os dias que vemos um carro tão esplêndido de perto.

Francesca apercebeu-se do meu pequeno transe e seguiu o meu olhar, mas não fez qualquer comentário.

- As aulas começam amanhã. - desvio a minha atenção dos dois indivíduos e fito-a.

- Ainda não me habituei a isto. - ela é sincera, abrindo um sorriso tímido.

- Tenho a certeza de que vamos adorar. - pontuo. - Afinal, estamos juntas. Nada pode correr mal.

- Tens razão. - admite. - Estou apenas a deixar que o medo se apodere de mim.

- É normal, mas daqui a uma semana esses receios desaparecem. - afirmo e estendo o meu copo em sua direção, anunciando um brinde.

O som dos copos a tilintar segue-se e nós sorrimos, antes de bebericar o champagne. Nunca seremos capazes de abandonar os vícios gastronómicos da família.

- Fromage. - declaro, degustando um pedaço de queijo francês.

- Formaggio. - a loira responde, levando um pouco de queijo italiano à boca.

Segunda-feira, 02 de outubro

- Olá, sejam bem-vindos à Universidade! - a voz do diretor ecoa por todo o auditório.

O mar de pessoas que se acomodam nas cadeiras acolchoadas parece eufórico, respondendo ao homem robusto em uníssono.

O Sr. Carlos parece satisfeito. Os seus dedos alisam o bigode grisalho, antes de ajeitar a gravata.

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora