'We play our fantasies out in real life ways and
No Final Fantasy, can we end these games though?
You give me energy, make me feel lightweight
Like the birds of a feather, baby
We real life made for each other'- Streets, Doja Cat
Sábado, 21 de outubro
Estou sentada no sofá do dormitório deles, encarando a televisão sem absorver o conteúdo que está a ser transmitido, com Ian a dormir calmamente no meu colo. Os meus dedos acariciam os seus fios negros, buscando algum tipo de distração.
Sinto-me perdida, porque finalmente me apercebi que estar com ele é essencial para eu estar tranquila, sem me preocupar com os problemas que invadem a minha vida. Isso assusta-me. Nunca pensei que fosse depositar todas as minhas esperanças em alguém tão instável, alguém que não está bem resolvido consigo mesmo.
O meu refúgio é instável. O meu refúgio pode me rejeitar a qualquer momento, desaparecer, esquecer a minha existência. Afinal, foi exatamente isso que eu lhe pedi para fazer. Fui ingénua ao pensar que, se ele sumisse de uma vez por todas, conseguiria apagar o incêndio que ele acende sempre que está por perto. Sinto-me queimar, nas chamas que o moreno alimenta simplesmente com a sua proximidade.
Ele remexe-se, colocando os seus braços ao redor da minha cintura, e aperta o meu corpo como se precisasse disso para sobreviver. O seu rosto sereno está agora no meu campo de visão e um sorriso toma conta dos meus lábios.
Ouço sons vindos do dormitório ao lado e posso adivinhar o que Francesca e Ricciardo estão a fazer, mas prefiro ignorar. Se a minha prima está feliz, eu também estou. Não vou perder a oportunidade de infernizar a vida deles com piadas, mas isso faz parte da nossa relação amigável.
Respiro fundo e encosto a cabeça no sofá, fechando os olhos. Não posso permitir que as lembranças me atormentem, que influenciem de alguma forma o meu futuro.
- Nunca pensei que fosse encontrar o paraíso na terra. - a voz rouca do moreno faz-me procurar as suas íris escuras, focadas em mim. - Acordar com a visão de uma deusa tão encantadora é a melhor sensação do mundo.
- Em que momento substituíste as tuas provocações por palavras cativantes? - questiono, tentando disfarçar o efeito que ele causa sobre mim.
- No exato momento em que percebi o que te conquistar exige. - afirma. - E eu estou disposto a ultrapassar todas essas exigências.
Sinto o meu rosto queimar e prefiro afastar-me. Ele não esconde o sorriso vitorioso, o que me faz revirar os olhos. Levanto-me do sofá e vou até à cozinha, procurando no frigorífico água fresca. Vejo uma garrafa com limonada e questiono se posso beber um pouco.
- Estás em casa, Mathilde. Faz o que tu quiseres. - pisca o olho, tirando um frasco de manteiga de amendoim do armário acima do frigorífico.
Assisto-o a preparar duas torradas e barrar a manteiga de amendoim, depois de cortar algumas frutas, dispondo-as no prato estrategicamente.
- Parece que eles terminaram a diversão deles. - Ian comenta perversamente e eu bato no seu ombro, repreendendo-o.
- Que foi? - esfrega o local onde lhe acertei. - Eles não fazem questão de serem discretos. Aposto contigo que qualquer pessoa que passa pelo corredor consegue ouvi-los.
- Eles não guardam nenhum segredo. Não nos cabe a nós julgar. - encerro o assunto.
- Podíamos ser nós, mas tu não colaboras. - Ian indaga, prendendo o meu corpo entre o balcão e ele.
- Não podemos! - tento afastá-lo.
- Tens medo de descobrir as sensações arrebatadoras que eu sou capaz de te proporcionar. - declara. - Eu tenho curiosidade de descobrir as maravilhas que podes oferecer.
A sua mão desceu até a minha cintura e os nossos corpos colaram-se abruptamente. O moreno iniciou um beijo intenso, que nos incendiou de uma forma completamente diferente, capaz de criar uma conexão absurda entre nós.
O seu toque era o suficiente para me fazer fraquejar, sem eu ter consciência disso. Ian distribui beijos pelo meu pescoço, arrancando-me arrepios que eu não consegui disfarçar. Repreendi o gemido que estava prestes a soltar, porque eu queria que ele provasse do seu próprio veneno antes de ter esse privilégio.
Permiti-me tatear o corpo dele e senti os seus músculos enrijecerem sob o meu toque. Os nossos lábios descolaram-se brevemente e os nossos olhares cruzaram-se. Ian impulsionou o meu corpo, sentando-me em cima do balcão, e instalou-se no meio das minhas pernas.
- Eu realmente não te quero. - sussurrei, perigosamente perto da sua boca.
- Qual é a tua ideia? - ele devolve a minha provocação com uma questão impossível de responder, pois nem eu sei exatamente onde eu quero chegar com esta nossa proximidade.
O moreno usa a língua na perfeição e senti-la explorando a minha pele, ainda que somente em determinadas circunstâncias, faz-me querer provar um pouco mais do pecado. Sem saber o que fazer, apenas beijo-o novamente.
- Pareces viciada. - profere convencido.
- E se eu estiver? - questiono.
- Se for só para me provocar, morena, podes parar. Sabes perfeitamente que já me tens nas mãos. - admite.
- Talvez eu precise de mais... - confesso.
Ian carrega-me até ao quarto e deita-me na sua cama, onde eu já havia estado antes, mas eu assumo o controlo. Não consigo ignorar as suas reações corporais, embora ele pareça fazê-lo com maestria.
- O que é que tu queres de mim? - ele prende-me na cama, segurando os meus pulsos, como se precisasse de uma resposta clara para viver.
- Sentir-te. - a confissão sai-me naturalmente, fazendo-o perder a força por instantes.
- Perdeste a vergonha, morena? - ele assume um ar mais relaxado.
- Achaste que eu não era capaz de verbalizar os meus desejos? - pergunto ironicamente. - Está claro desde o nosso primeiro beijo o que eu quero de ti.
- Tenho outros planos para nós, linda. - declara, aproximando o seu rosto do meu. - Prometi-te algo e vou cumprir.
- Homem de palavra, estou a ver. - brinco, recebendo um sorriso em resposta.
Ian deita-se ao meu lado e puxa o meu corpo para perto. Apoio a minha perna nele, confortavelmente, e sinto os seus dedos passearem numa carícia deliciosa pela minha cintura. O silêncio que se instalou entre nós é estranhamente acolhedor e sinto-me bem na sua companhia silenciosa, na comodidade dos seus braços.
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Não me deixes
RomanceEm diversas situações, a emoção sobrepõe-se à razão. O amor e o ódio estão separados por uma linha ténue. Inseguranças e dúvidas fazem parte da vida dos jovens adultos que se preparam para enfrentar os desafios do futuro. Haverá espaço para um roma...