Capítulo 6| Mathilde

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'No, no I won't tell nobody
You're on your level too
Tryna do what lovers do'

- Unforgettable, French Montana

Quarta-feira, 04 de outubro

Valentina convidou-nos para visitar o seu dormitório e nós fomos obrigadas a aceitar. A ruiva tem sido uma ótima amiga e eu quero retribuir.

Quando entrámos na sala, deparamos-nos com algumas novatas, que só tínhamos visto no auditório, no dia da apresentação. Tina explicou que são suas amigas da escola e tinham, coincidentemente, se encontrado na universidade.

Tentei entender se Pâmela e Alice estavam naquele espaço, mas cheguei à conclusão de que a nossa amiga havia cortado o contacto com as duas. Foi um alívio saber que não teria de conviver com as ex-namoradas obcecadas dos nossos vizinhos.

A ruiva ofereceu-nos café e bolo de cenoura, feito pela mãe dela, que tinha um aspeto delicioso. Nós insistimos que não era necessário, mas acabamos por aceitar de bom grado.

A determinado momento, a equipa de basquetebol surgiu como assunto principal. Elas falavam animadamente sobre o facto de Thiago, Ricciardo e Ian terem sido convocados e a beleza de todos os membros da equipa. Posso jurar que os olhos de todas brilharam quando se referiram ao moreno.

- A Alice tentou entrar em contacto com ele, mas aparentemente ele bloqueou-a de todas as formas possíveis. - uma delas comentou.

- Ela ainda não o superou. - outra notou. - Não a julgo, também não superaria aquele gostoso.

Francesca e até mesmo a Tina olham-me para verificar a minha reação, mas eu continuei plena. Não ia deixar que um simples comentário me afetasse, até porque eu não tenho nada com Ian.

- A Pâmela e a Alice foram informadas de que eles andam com duas novatas. - Julia, a primeira rapariga que tocou no assunto, confessa.

Arregalo os olhos surpresa com a rapidez com que a novidade se espalhou. Nós fomos vistos uma única vez juntos, mas já há rumores.

- A Pâmela mandou-me um áudio. - Sophia declara. - Ela agora está com um rapaz chamado Gustavo, mas ainda não esqueceu o Ricciardo. Escutem.

- Eu só queria a minha vida de volta. O Ricciardo nunca ficaria com outra mulher se ainda tivesse contacto comigo. O Ian também nunca deixaria a Alice e nós teríamos dinheiro de sobra para ostentar nas festas. Agora aqueles dois idiotas caíram na lábia de duas novatas. O Gustavo é só uma distração para mim, enquanto eu não conquisto o meu loirinho novamente. Ele ainda se vai arrepender de ter terminado comigo.

O áudio só me provoca ainda mais repulsa. O discurso de Pâmela prova que as suas intenções não são puras.

- O Ricciardo nunca foi o vilão da história. - Julia pontua e todas concordam.

- A equipa está no café perto do campus. - Tina informa.

- Podemos ir lá. O Th com certeza consegue convence-los a nos receber. - Sophia diz maliciosamente.

Valentina intercala o olhar entre mim e a minha prima. Eu assinto e Francesca acaba por concordar.

Quando chegámos ao café, atraímos a atenção de todos os presentes. Não é comum ver um grupo tão grande de novatas, ainda por cima a acompanhar a equipa de basquetebol. Notei a necessidade da Valentina de mostrar que Thiago está comprometido e comecei a perceber que fidelidade não consta no dicionário da maioria das pessoas ali presentes.

Muitas mulheres, mesmo acompanhadas, olhavam para o Ian como se quisessem estar na sua cama. O moreno, porém, para surpresa geral, convidou-me a sentar ao seu lado. Eu concordei em silêncio, sem esboçar nenhuma reação.

Ambos ficamos quietos durante algum tempo, observando tudo à nossa volta. Não me agradou nem um pouco ver todos os olhares maliciosos que nos eram dirigidos e o diálogo desinteressante dos atletas, juntamente com as gargalhadas forçadas das novatas, fizeram-me revirar os olhos algumas vezes.

- Por acaso a senhorita está interessada em algum dos membros da equipa? - o seu tom cortante fez-me encara-lo.

- E se eu estiver? - questiono, permitindo-me abrir um sorriso.

Ele não aprova a minha resposta e não esconde a sua insatisfação. Confesso que entender o moreno é algo muito complexo, principalmente porque não o conheço.

- Temos um problema, linda. - sussurra.

O meu corpo reage automaticamente ao apelido que é proferido por Ian. A minha tentativa de disfarçar o efeito que ele possui sobre mim falha quando sinto a sua mão na minha cintura, obrigando-me a aproximar-me ainda mais. Acomodei-me confortavelmente, na esperança de não atrair olhares curiosos, mas foi em vão. Ian deslizou a mão até tocar a minha perna e deu um aperto firme que me fez suspirar.

- Parece que incomodámos muita gente. - comenta, referindo-se à atenção que recebemos.

- Cuidado. Estou a prejudicar os teus futuros casos e a culpa é exclusivamente tua. - digo exatamente o que penso, porque tenho noção de que Ian fazer parte da equipa de basquetebol lhe irá render muitas mulheres interessadas.

- Eu não me importo. Se aceitares o convite que te fiz ontem. - declara, fazendo-me procurar as suas íris escuras.

O sorriso no rosto do Ian era visível a quilómetros de distância. Penso na sua proposta, mantendo o contacto visual. Tenho a certeza de que o deixei nervoso, pois a ansiedade transparecia no seu rosto bonito. Por fim, acabei por aceitar, pois não posso perder a sensação de adrenalina que a velocidade me traz.

Ricciardo tinha o braço apoiado nos ombros da minha prima e ela parecia estranhamente confortável. Ian ainda mantinha o contacto físico entre nós, acariciando despreocupadamente a minha perna. Eu preferi distanciar-me das restantes pessoas e trabalhar um pouco através do telemóvel. Eu estava tensa devido à proximidade do moreno e concentrar-me em fazer dinheiro foi a solução que arranjei para me abstrair das sensações que o seu toque me provocava.

- Apetece-me andar de moto. - Ricciardo declara, dirigindo-se a Ian.

- Vamos acompanhados, parceiro. - o moreno informa.

- Não quero atrapalhar os vossos planos. - aviso, ciente de que a Fran tem receio de veículos com menos de quatro rodas.

- Nada disso. - Ian pontua. - Damos uma volta pela cidade e depois vamos para casa.

- Importas-te? - questiono a minha prima que me olha com convicção.

- Claro que não! - exclama. - Nada melhor do que um pouco de adrenalina para terminar o dia.

Sorrio em sua direção. Ela superar os seus medos apenas para acompanhar-me é um ato de companheirismo puro. Contudo, também tenho noção de que a loira quer impressionar Ricci.

Os dois despediram-se de todos os membros da equipa com um aperto de mão firme. Eu apenas me preocupei em acenar para a Tina e o Th, antes de ser puxada pelo moreno até o exterior do estabelecimento.

Eu poderia soltar-me do seu abraço e repreende-lo, mas, de facto, eu não interpretei o seu gesto como algo que atingisse o meu ego. Consigo perceber o quanto ele está ansioso, pois os seus batimentos cardíacos estão acelerados.

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora