Capítulo 43| Mathilde

30 1 0
                                    

'Hoje eu quero coisas leves
E já defini que a noite não vai ter fim'

- Mandraka, Veigh

Sexta-feira, 12 de janeiro

Os ponteiros do relógio finalmente se alinham no extremo norte, indicando que é um novo dia. O dia do meu aniversário. O dia em que eu completo dezanove anos de vida.

Todos estão animados com a viagem e já deixamos tudo pronto para arrancar para o aeroporto. As bagageiras dos carros a abarrotar com as nossas malas.

- Parabéns! - Francesca e Valentina abraçam-me carinhosamente.

- Parabéns, cunhada. - Ricciardo deseja, batendo-me levemente no ombro.

- Parabéns, Mathilde! - Thiago também me felicita.

Ouço o barulho da rolha do champagne a estourar e vejo o moreno a despejar o líquido dourado nos copos enfileirados em cima da mesa de apoio.

- Aos 19 anos de puro charme da mulher mais bela deste mundo! - Ian estende o seu copo, iniciando um brinde.

Abro um sorriso tímido em sua direção, enquanto Francesca e Valentina trocam um murmúrio entre si. Fito-as desconfiada, mas elas rapidamente disfarçam, juntando os seus copos no centro. O tilintar do vidro consuma o brinde e, em poucos minutos, a garrafa está vazia.

Não demoro muito a subir para a suíte, procurando o ambiente calmo para descansar um pouco antes da viagem. O moreno acompanha-me, visivelmente ansioso.

- Espero que tudo esteja perfeito. - revela. - Fiz questão de procurar os melhores serviços para garantir que a nossa viagem seja incrível.

- Vai correr tudo bem, amor. - garanto. - Pelo menos, vamos estar juntos, longe de toda esta confusão.

- Às vezes, tudo o que eu quero é fugir daqui contigo. - confessa. - Começar uma vida ao teu lado longe de tudo. Sem me preocupar com o passado, sem temer o futuro. Apenas nós os dois e o que de nós advier.

- Parece-me promissor. - toco o seu rosto com carinho. - Todavia, não podemos simplesmente ignorar as nossas origens.

- Eu sei... - ele hesita por breves momentos. - Enfim, não interessa estarmos a supor o que quer que seja agora.

Concordo e deposito um beijo casto nos seus lábios, que rapidamente se transforma num beijo mais intenso. Ian acomoda-se contra o meu corpo, apertando-me firmemente. Deixo que as suas mãos desçam, fixando-se na minha perna e cintura. Porém, sinto-me febril, instantaneamente.

- Sempre tão quente, morena. - ele sussurra. - Descansa.

O silêncio apodera-se do quarto, enquanto eu tento desesperadamente não prestar atenção à nossa intimidade. Ignoro as minhas reações corporais e deixo-me cair num sono profundo.

Desperto subitamente, com a sensação de que estávamos atrasados. Felizmente, o meu pressentimento não se verifica. Ainda faltam cinco minutos para o despertador tocar.

Mesmo assim, levanto-me, ignorando as reclamações do homem que se enrosca nos lençóis para compensar a ausência do meu calor na cama. Sorrio com a imagem das suas costas nuas e bem definidas, com os músculos tensos devido à força que ele exerce ao apertar a minha almofada.

- Vou tomar banho. - anuncio. - Queres vir?

O meu convite parece ser o suficiente para o despertar, já que, em menos de dois minutos, ambos estamos debaixo do chuveiro.

Chegamos ao aeroporto com antecedência e fomos encaminhados para uma sala VIP, onde aguardamos pacientemente a abertura do portão de embarque. Os empresários à nossa volta esboçaram expressões curiosas quando nos viram, parecendo demasiado surpreendidos por partilhar o mesmo espaço com um grupo de adolescentes.

Ian teve o cuidado de garantir o nosso conforto durante a viagem, reservando três cabines de Primeira Classe. O moreno pensou mesmo em tudo e eu estou eternamente grata a ele por se preocupar em organizar uma viagem especial para mim.

- Pensaste em tudo, parceiro! - Thiago senta-se no largo sofá com uma sobremesa imponente em mãos.

- Petit gâteau! - declaro, captando a atenção de todos. - Um doce muito popular na gastronomia francesa.

- Esta mulher é um poço de cultura! - a ruiva exclama, provando o doce. - Isto é maravilhoso. Talvez a sobremesa mais saborosa que eu alguma vez consumi.

- Eles gostaram de ti. - o moreno sussurra próximo ao meu ouvido, causando-me um arrepio.

Noto os olhares que pousam sobre nós e abro um sorriso simpático em direção aos outros passageiros, que retribuem com um aceno discreto.

- Não preciso de me esforçar muito. - provoco. - Eu passo e encanto, amor.

- Não me obrigues a acabar com essa tua marra. - avisa com uma voz grave, após um riso enciumado e sarcástico.

- És o único que pode acabar com ela. - sussurro, demasiado perto do seu rosto. - Não precisas de marcar território constantemente.

Repentinamente, Ian cerca a minha cintura com o braço e beija-me com urgência. Apoio-me nos seus braços fortes, procurando alguma estabilidade, o que não é propriamente fácil, uma vez que sinto-me instantaneamente consumida pela intensidade do nosso contacto.

Forço-me a afastar-me dele, tomando consciência de que estamos em público. Embora seja difícil, é importante mantermos uma postura séria.

- Não estamos sozinhos, Ian. - repreendo.

- Não me controlo perto de ti, morena. - o sorriso malicioso faz-me fraquejar.

- Por isso mesmo. - reforço. - Parecemos dois desesperados.

- No fundo, é basicamente isso que nós somos. Desesperados um pelo outro. - pontua.

- Ninguém precisa de saber disso. - indago.

- Relaxa, amor. - ele parece descontraído, oferecendo-me um belo sorriso.

A sua tranquilidade acalma-me, pois significa que por uns momentos podemos desligar os nossos cérebros de todo o estresse diário.

Embarcamos no avião e ficamos maravilhados com o cuidado com que fomos recebidos. Em cima da poltrona, um bonito ramo de rosas vermelhas repousava, com uma carta de felicitações personalizada.

Ian acomoda-se, conectando o telemóvel à televisão e guardando as malas no armário acima da cabine. Tiro o sobretudo e penduro-o ao lado da janela, sentindo o calor do ar condicionado soprar acima de nós.

- Vou colocar um filme. - o moreno indaga. - Terror ou ação?

- Terror! - exclama e ele gargalha com a minha animação.

- Nunca conheci alguém que gostasse tanto de ouvir pessoas a gritar enquanto são perseguidas por uma assombração. - ele ironiza.

- É interessante observar as decisões estúpidas que os personagens tomam. - declaro. - Quem no seu perfeito juízo vai morar para um sítio assombrado?

- Quem não tem amor à própria vida. - conclui.

Ian deita-se ao meu lado e eu aconchego-me. Acabamos por ficar demasiado envolvidos no filme, tentando desvendar o mistério por detrás de toda a ação. Quase nem nos assustamos verdadeiramente com as cenas de perseguição, embora tivessem sido muito bem feitas. Alguns filmes possuem efeitos especiais muito mal projetados, mas esse não é o caso deste em específico.

A viagem não é muito longa e, quando o filme acaba, ouvimos o comunicado do co-piloto a informar que devemos preparar-nos para o pouso.

Em menos de vinte minutos, estamos fora do avião. A brisa amena atinge-nos. Paris chama por nós. As nossas passagens de Primeira Classe permitem-nos seguir pelo caminho de saída mais rápido. Dois táxis já nos esperavam na saída do aeroporto.

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora