Capítulo 19| Ian

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'Cause I wanna touch you baby
And I wanna feel you too
I wanna see the sunrise
On your sins just me and you
Light it up, on the run
Let's make love tonight
Make it up, fall in love, try'

- Dusk Till Dawn, Zayn feat. Sia

Domingo, 22 de outubro

- Fizeste uma boa escolha. - Leo cruzou os braços, assumindo uma postura superior.

- O teu grande amigo não veio? - Victor perguntou sarcástico.

- Está demasiado ocupado, trancado num dos cómodos com o teu novo brinquedo. - afirmo, ridicularizando-os.

- Podíamos ser nós, amor. - Alice surge no meu campo de visão.

Leonardo fica furioso, mas não se atreve a falar.

- A morena vai adorar saber que tens tanta intimidade com a tua ex. - ele provoca.

Todas as mulheres da sala me encaravam tão descaradamente que eu me senti desconfortável. Elas pareciam ter um grande desejo que me envolvia, mas, seja ele qual for, está muito longe de ser realizado. Só me interessa uma única pessoa: Mathilde da Cuñha.

Servi-me um whisky para me acalmar, porque tive a certeza de que a minha força física não seria necessária para tratar deste assunto. Eu mostrei-me indiferente a tudo ao meu redor, e só foquei o olhar na porta quando esta se abriu, revelando a Pâmela completamente descabelada e o Ricciardo bêbado.

- Finalmente todos presentes. - Victor comentou, mas não conseguiu disfarçar o seu incómodo.

Alice e Pâmela deram uma longa palestra sobre como se sentiam descartáveis pelo nosso comportamento, sobre como seria melhor para todos nós se ainda estivéssemos juntos.

Eu não tratei a Alice como ela deveria ser tratada, eu era um filho da puta e assumi um relacionamento com ela apenas e só para ter alguma garantia. Contudo, ela não é melhor que eu, sem dúvida. As circunstâncias do nosso relacionamento não foram as melhores.

De repente, ouvimos batidas na porta. Victor apressou-se a abri-la, revelando a morena com um semblante calmo. A Francesca e o indivíduo que ela beijou estavam mais atrás, estáticos.

Mathilde limitou-se a caminhar em minha direção e entregar-me o meu aparelho telefónico, que eu havia deixado em sua posse. Desbloqueio o dispositivo e vejo imensas notificações, talvez o motivo dela me ter procurado. Saiu, completamente muda, mas a sua presença foi o suficiente para despertar o interesse de todos os homens da sala.

Fui atrás dela, sem me preocupar com os assuntos que deixei pendentes. Eu precisava de me esclarecer com ela, com urgência. Apenas a alcancei no exterior da casa, perto do jardim onde algumas pessoas se perdiam em jogos arriscados.

- Ouve-me, por favor. - pedi. - Podes nunca mais falar comigo depois disso, mas ouve-me.

Ela fita-me, avaliando o meu pedido. John aproxima-se, consigo vê-lo atrás dela, ainda distante.

- Explica-te, somente para eu ficar de consciência tranquila. - indaga.

- O único sentimento que eu nutro pela Alice é raiva. Eu não a suporto. - afirmo. - Eu estava a tentar acabar com a obsessão ridícula dela, precisamente para não ter qualquer problema em estar contigo.

- Eu não quero saber o que estavas a fazer lá dentro. - pontua. - Nós não temos nada e tu és completamente livre. Eu vim porque tu me pediste, mas deixaste-me sozinha e não conseguiste ser sincero comigo. Quando soube que ela era a organizadora da festa, perdi a vontade de vir, mas fiz um esforço por ti, porque achei que seria um evento agradável, onde podia conhecer outros universitários. Como achas que me senti quando soube onde estavas? Tinhas-me dito que ias beber um copo com os teus colegas de equipa e voltavas num instante.

- Sabes perfeitamente que és mais importante do que ela. Apenas senti a necessidade de resolver o meu passado, morena. Nada mais do que isso. - admito.

- Gostas de me ver com o John, por acaso? - questiona.

O indivíduo mencionado estava cada vez mais próximo e ouvir o seu nome despertou ainda mais o meu ódio. Ele e a Alice podiam desaparecer juntos e ninguém sentiria falta deles.

- É diferente! - o meu tom de voz aumenta involuntariamente. - Ele quer te usar, Mathilde, será que não percebes isso? Eu não tenho a menor intenção de me envolver com a Alice novamente.

- Tanto faz. - suspira. - Eu vou para casa.

- Morena... - insisto.

- Não quero discutir contigo. Não adianta termos uma conversa agora. - disse decidida.

Ela continuou a caminhar em direção ao estacionamento e eu segui-a. Encontrámos o Ricciardo e a Francesca mais à frente, numa discussão acesa, talvez devido ao rapaz que a acompanhava.

- Nós não somos diferentes, somos os dois extremamente complicados e determinados, não podes negar. A nossa relação faz-me bem, motiva-me a ser melhor a cada dia que passa, em todos os aspetos da minha vida. - digo calmamente. - Eu não quero afastar-me de ti e tu também não me queres distante. Os nossos corpos reagem um ao outro, eu procuro constantemente as sensações que descobri quando te conheci e só as encontro em ti.

A sua imobilidade e falta de expressão deixaram-me desesperado. Eu aproximei-me, procurando alguma reação dela, mesmo que essa reação não me agradasse. Eu prefiro que ela grite comigo do que permaneça em silêncio.

- Se achas que tudo o que aconteceu entre nós não foi um erro fica, por favor. - declarei.

- Eu não vou a lado nenhum. - sussurra.

Não escondi o sorriso que se apoderou de mim por ouvir exatamente o que eu queria vindo dela. Eu precisava que ela dissesse que quer estar comigo, que não é indiferente a mim. Selei os seus lábios com um beijo longo e totalmente correspondido.

- Eu não consigo expressar-me com maestria como tu, morena. Tu és incrível, mereces mais do que o universo, bem mais do que aquilo que eu te posso oferecer. Deves idealizar alguém estável, que te possa proporcionar momentos inesquecíveis, que tenha uma boa reputação e seja um bom partido. Um indivíduo que, evidentemente, é muito melhor do que eu. - faço uma breve pausa, pois as minhas próprias palavras custaram-me mais do que aquilo que eu pensava. - Eu sei que não posso, ou melhor, não devo, prender-te a mim, muito menos prometer-te exclusividade, mas eu não suporto sequer a ideia de ver-te com outro e não consigo estar com outra sem pensar em ti. Nunca foste apenas mais uma. Nunca quis que fosses um caso de uma noite. Porém, a nossa situação neste momento não está muito favorável.

Os seus olhos escuros emanavam ansiedade e eu vi-me obrigado a confessar os meus pensamentos mais íntimos.

- Para além de todos os meus defeitos, eu faria de tudo para te ver sorrir. Eu viajaria o mundo contigo, eu esbanjaria todo o meu dinheiro por ti e faria questão de te relembrar todos os dias o quão preciosa tu és. - sussurro, abraçando-a fortemente, como uma garantia de que ela não fugiria dos meus braços.

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora