Capítulo 24| Ian

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'I only call you when it's half-past five
The only time I'd ever call you mine
I only love it when you touch me, not feel me
When I'm fucked up, that's the real me
When I'm fucked up, that's the real me, babe'

- The Hills, The Weeknd

Domingo, 05 de novembro

- Posso me sentar aqui? - pergunto.

- Desde quando pedes permissão? - a morena brinca.

Sorrio e sento-me ao seu lado, colocando a sua perna, que anteriormente ocupava o assento, por cima da minha. Ela encosta-se na cadeira e percebo que a nossa proximidade ainda a afeta. Depois de tanto tempo, ainda é desconcertante a nossa relação.

- O inverno é tão chato. - Ricci declara.

- Porquê? - Valentina ri.

- Não dá para andar nu pela casa. - digo seriamente e vejo as mulheres presentes na sala assumirem um semblante preocupado assim que Ricciardo e Thiago concordam comigo.

Solto uma gargalhada, o que faz a morena suspirar de alívio. Ela sabe que nós seríamos capazes de fazer isso facilmente. Depois da nossa crise de risos, começamos a discutir sobre motos. A nossa animação em relação ao assunto é evidente, porque amamos, efetivamente, todo o tipo de veículos.

Ricciardo expôs a sua vontade de comprar um veículo, embora os pais não tenham condições para lhe proporcionar um carro de topo de gama, como eu e o Th temos. Eu fico incomodado, repentinamente, e tento relaxar mantendo contacto físico com a Mathilde. Aperto a sua cintura firmemente e ela procura contacto visual comigo, tentando perceber o que está a acontecer.

Desbloqueio o meu telemóvel e começo a digitar o modelo do carro que Ricciardo mencionou. Ela entendeu a minha intenção de oferecer um carro ao meu melhor amigo. Sinto que lhe devo uma espécie de pagamento por tudo o que ele fez por mim e retribuir-lhe com algo que ele quer tanto parece-me a melhor junção do útil ao agradável.

- A minha melhor decisão foi ter comprado o Porsche. O conforto e praticidade não têm preço. Eu adoro a minha moto, mas ultimamente tenho usado mais o carro. - afirmo.

- Porquê? - Th questiona.

- Quando estou sozinho, prefiro a adrenalina. - comento. - Mas a moto não é tão segura como um carro.

- Desde quando tens essa perspectiva? - a morena interroga curiosamente.

- Desde que deixei de gostar de estar sozinho, pois isso significa que não estás comigo. - uno as nossas mãos. - Nunca vou pôr a tua segurança e conforto em causa, morena.

O seu rosto assume um tom avermelhado, pois ninguém estava à espera da minha demonstração de afeto repentina. Confesso que eu próprio fiquei surpreendido com a naturalidade da minha declaração.

Sinto-me livre dos fantasmas do passado quando estou com ela. Sinto-me um homem completo perante o cenário em que me vejo e idealizo. Estou financeiramente estável, consegui entrar na minha faculdade de sonho, além de continuar a jogar basquetebol, tenho um grupo de amigos excepcional e uma mulher incrível que pretendo conquistar. E estou a ser bem sucedido nessa minha missão.

Por esses mesmos motivos, convidei a morena a acompanhar-me durante a tarde. Ricciardo havia me dito que se ia resolver com a Francesca, custasse o que custasse. Embora a Mathilde esteja bastante apreensiva em relação a deixar a prima sozinha com o loiro, convenceu-se que seria o melhor para ambos.

Tenho noção de que ela só aceitará a minha proposta se todos tivermos uma boa convivência. Por outro lado, Mathilde parece confiar em mim de olhos fechados, o que me agrada imenso, pois sei que nunca a deixaria ficar mal.

Abro a porta do carro à morena e ela sorri com o meu ato de cavalheirismo. Logo recordo-me de que tenho uma pequena surpresa para ela nos bancos de trás. Pretendo levá-la até ao meu sítio preferido, no topo das colinas, um ótimo lugar para assistir o pôr-do-sol.

Ela não questiona o nosso destino e não se incomoda com o tempo da viagem. Apenas me assiste a conduzir, enquanto traça caminhos imaginários com os dedos no dorso da minha mão, que aperta firmemente a sua perna esquerda. O seu olhar intenso causa formigueiros pelo meu corpo.

Chegámos à colina, depois de longos vinte minutos de estrada. Estaciono o veículo longe da encosta e ambos saímos, recebendo o ar fresco em nossos pulmões. Mathilde afasta-se do carro e admira a bela paisagem. Aproveito para abrir a porta traseira e pegar o ramo de flores.

- Morena... - chamo a sua atenção.

- Diz, moreno. - responde, sem olhar para mim.

O meu silêncio fá-la encarar-me.

- Um belo ramo para uma linda flor. - estendo-lhe o buquê composto por rosas vermelhas e brancas.

- Obrigada! - o brilho no seu olhar destaca a alegria. - És um amor.

- Não me agradeças por te tratar como mereces. - declaro.

- Não me condenes por querer retribuir, então. - sorri perversamente.

Roubo-lhe um beijo, sentindo o gosto de morango do seu hidratante labial. A sua boca avermelhada e macia não desgruda da minha e nós prolongámos ao máximo aquele nosso contacto, até ficarmos sem fôlego.

A brisa amena levava as ondas do seu cabelo de forma rebelde. Fico a admirar o seu rosto angelical e uma sensação estranha atinge-me.

- Estás bem? - pergunta, provavelmente percebendo a minha hesitação.

- Melhor impossível. - indago, voltando a beijá-la.

Recuo dois passos assim que ela salta para o meu colo, enrolando as pernas na minha cintura e os braços no meu pescoço. Ela fascina-me de uma maneira muito diferente e consegue dominar-me com facilidade. As nossas línguas travam uma batalha ardente que nos incendia completamente.

- A nossa competição vai levar-nos à ruína. - sussurro.

- Eu nunca perco, Ian. - declara, desafiando-me.

- A tua resistência não te vai levar a lado nenhum, morena. Podes simplesmente entregar-te e permitir-te usufruir daquilo que é teu.

- Então és meu, moreno? - a malícia no seu tom de voz faz-me perder o juízo.

- Tu és minha, Mathilde. - afirmo.

- Odeio-te. - ela ri.

- E mesmo assim não consegues parar de me beijar. - provoco.

Desço beijos pelo seu pescoço, sugando a sua pele arrepiada. Mathilde solta um suspiro e ergue a cabeça, deixando o seu corpo completamente vulnerável.

- Não é mentira. - ela finalmente responde. - Ian, por favor, não comeces algo que não podes levar até ao fim.

- Eu posso levar tudo até ao fim, linda. Com um pouco de paciência e determinação. - o meu tom de voz é absurdamente baixo, pois a sua frase despertou com toda a minha vontade de a ter ali mesmo.

- Mostra-me. - a sua voz é trêmula, mas ela sorri.

- Vais-te arrepender das tuas palavras. Eu não vou ter pena de ti. - indago.

- Isso soa como uma promessa e eu gosto disso. - o sorriso não abandona o seu rosto.

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora