Capítulo 7| Ian

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'Escúchame mami
Yo te estoy queriendo
Siento algo por dentro'

- Hasta el amanecer, Nicky Jam

Quarta-feira, 04 de outubro

Não conseguia acreditar que a morena aceitou o meu convite e, como foi uma situação inesperada, fiquei nervoso por não ter nada planeado.

Eu nem tinha a esperança de vê-la hoje, porque a reunião com os membros da equipa poderia se prolongar e as chances de me cruzar com ela no bloco de dormitórios não são assim tão favoráveis. Porém, a Valentina decidiu levá-las ao nosso encontro e eu não podia perder a oportunidade de me aproximar.

Mathilde abriu a pequena bagageira e retirou o capacete reserva. Assisti-a subir na moto e o seu belo rosto desapareceu dentro do capacete negro. Embora não tivesse acesso às suas íris escuras, sei que elas pairavam sobre mim.

A morena sabia das minhas intenções, especialmente porque eu retirei os apoios da moto. Subi no veículo e liguei o motor, esperando que Ricci também o fizesse para pisar no acelerador.

Gosto particularmente da adrenalina que a velocidade proporciona, ainda mais num veículo com apenas duas rodas. É excitante ver a rapidez com que tudo à nossa volta desaparece e eu sou um mestre a controlar a moto.

Ponderei sobre a velocidade com que iria fazer o trajeto, uma vez que levo um passageiro. Não quero que ela tenha uma experiência horrível comigo, mas parece-me que lhe agrada a adrenalina da mesma forma que me agrada a mim.

Inclinei o meu corpo, preparando-me para arrancar, e ela abraçou-me. As primeiras manobras que eu fiz tiveram o único intuito de colar o seu corpo ao meu. Ela aconchegou-se contra as minhas costas, fazendo-me arrepiar involuntariamente.

O Sol estava prestes a pôr-se e uma leve brisa envolvia-nos enquanto admirávamos a paisagem. Não posso negar que foi uma sensação maravilhosa desfrutar da sua companhia.

Embora tenha a minha moto desde os dezasseis anos, nunca tive passageiros. Mathilde é a primeira pessoa a viajar de moto comigo e dissipou toda a minha tensão. Foi tudo extremamente natural e quando me apercebi estava a divertir-me mais do que a tentar envolver-me com ela.

Paramos num parque mais afastado do centro da cidade, afim de conhece-las melhor.

Mathilde saltou da moto e retirou o capacete, guardando-o no mesmo sítio. O seu olhar focou-se em mim e eu sorri para ela.

- Isto foi de loucos! - exclamou.

- Estava à espera de um sermão. - respondi.

- Talvez na próxima eu faça isso. - declarou em puro desafio.

- Vai haver uma próxima vez? - aproximei-me.

Eu vi a confusão no seu olhar, mas também interesse, um profundo e perigoso interesse.

A morena apoiou os braços nos meus ombros e eu aproveitei para rodear a sua cintura e colar os nossos corpos. Os nossos rostos estavam demasiado próximos e a sua respiração em contacto com a minha pele fez a minha sanidade se esvair. Não resisti e, num impulso, tentei consumar um beijo.

Contudo, ela desviou-se assim que os nossos lábios roçaram e afundou o rosto no meu peito. Apertei o seu corpo firmemente contra o meu e afastei o mar de caracóis, deixando parte do seu pescoço exposto.

- Neste jogo só pode haver um vencedor, morena. - sussurrei ao seu ouvido e senti-a estremecer.

Um sorriso malicioso apoderou-se dos meus lábios. Enterrei o meu rosto na curva do seu pescoço, deixando beijos na sua pele enquanto traçava um caminho com o nariz.

Não preciso que ela se expresse para saber do que gosta ou não, pois as suas reações físicas denunciam-na.

Fomos interrompidos pelo barulho do motor da Yamaha de Ricciardo. A loira que o acompanhava exibia um sorriso gigante no rosto e eu assenti para o meu amigo, confirmando que tudo estava a correr na perfeição.

- Vamos comprar um gelado? - Francesca aponta para uma barraquinha.

- Como nos velhos tempos? - Mathilde anima-se com a ideia.

- Claro! - ela exclama correndo até o homem gorducho que servia cones de gelado a algumas crianças.

A morena lança-me um olhar puro de felicidade e eu retribuo com um sorriso. Acompanho-a até à barraquinha e pedi, educadamente, um cone com três sabores de gelado. Enquanto ela escolhia os sabores, eu fiz questão de pagar. Fi-lo de forma discreta, porque ela jamais aceitaria tal gesto.

O homem de barba rala e um bigode imponente aprovou silenciosamente a minha ação.

- Manga, morango e limão. - consegui captar o pedido dela e o seu bom gosto é evidente.

Acabei por pagar também o gelado de baunilha da Francesca, mas deixei claro ao meu amigo que, caso ela perguntasse, deveria agir como se tivesse sido ele a oferecer-se a pagar.

Eu e a Mathilde fomos até o pequeno lago que se localizava numa área mais afastada da entrada do parque e, consequentemente, era mais calma. Eu permanecia relaxado e deixei que a tensão se esvaisse do meu corpo. Queria aproveitar o momento ao máximo.

A morena encostou-se a uma pedra gigante, aproveitando a sombra para desfrutar da sua sobremesa fria.

- Posso provar? - questionei, realmente interessado.

Ela estendeu o cone na minha direção e eu tomei a pequena colher da sua mão. Retirei um pedaço de cada bola e provei, sendo atingindo por um sabor único e refrescante.

- Boa escolha, morena. - disse com a minha melhor voz de inocente.

- Não enganas ninguém, moreno. - afirma com um sorriso malicioso no rosto.

Seguiu-se uma troca de olhares intensa e eu permiti a minha mente imaginar inúmeros cenários com a mulher à minha frente. O meu olhar passeava pelo seu corpo, sem nenhuma descrição.

- Não compraste comida porque não quiseste. - o seu tom irónico fez-me desviar o olhar para encontrar as suas íris escuras.

- O que achaste da moto? - perguntei, desviando o assunto.

- As minhas expectativas eram altas e posso afirmar que foram ultrapassadas. - admite. - A BMW nunca me desilude. Foi uma compra de muito bom gosto.

- Não gosto de me adaptar a um veículo. Normalmente, compro-o em função das minhas características como condutor. - desabafo.

- És um bom piloto, Ian. A moto combina contigo. Fiquei mais surpreendida por ver o Ricciardo com uma Yamaha do que propriamente por dominares uma m1000r. - confessa.

- Obrigado pela apreciação. És uma ótima passageira, diga-se de passagem. - fui sincero e ela abriu um sorriso.

- Obrigada pelo convite. - retribui. - Diverti-me imenso.

- Não me agradeças por isso. - declarei. - Está a anoitecer, é melhor irmos para os dormitórios.

Caminhamos até ao estacionamento e encontramos os outros dois indivíduos a meio do caminho. Ricciardo estava demasiado sorridente, mas preferi ignorar e questiona-lo mais tarde.

Senti as mãos da morena no meu abdômen, quando subimos na moto, e ansiava por esta proximidade novamente. O seu bem-estar está nas minhas mãos durante alguns minutos e é de certa forma reconfortante saber que ela confia em mim.

Não me importava nem um pouco de repetir estes passeios de moto com ela todos os dias, até me cansar e passar para a próxima.

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora