Capítulo 52| Ian

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'I'm not just trying to get you back on me
'Cause I'm missing more than just your body
Is it too late now to say sorry?
Yeah, I know that I let you down
Is it too late to say I'm sorry now?'

- Sorry, Justin Bieber

Sábado, 3 de fevereiro

Os últimos dias têm sido impossíveis. Não consigo dormir, não tenho apetite e preciso de estar constantemente sob efeito de analgésicos. Isso é péssimo, ainda mais para alguém que sempre foi saudável e tem uma carreira como atleta.

Porém, desde que eu presenciei a morte da minha própria mãe, nada parece importar mais do que a morena. A sua segurança, o seu bem-estar, a sua felicidade.

O vazio no meu peito aumentou todas as manhãs que acordava sem ela ao meu lado. A saudade estava a matar-me aos poucos.

Estar no mesmo quarto que ela, a dividir uma cama novamente, parecia um sonho. Queria falar com ela, mas decidi esperar que fosse a morena a iniciar um diálogo.

- Espero que saibas que só estás aqui devido ao teu estado. - declara, de costas para mim.

- Estou suficientemente sóbrio para ter uma conversa séria, que já está a ser adiada há demasiado tempo. - noto.

O suspiro dela indicou-me que aquilo era extremamente difícil e desgastante para si.

- Morena... - aproximei-me.

Mathilde tentou afastar-se, negar o contacto entre nós, mas eu senti o seu corpo implorar para que eu a tocasse, traindo a sua mente que lutava para se manter longe de mim.

Toquei ligeiramente a sua cintura por cima dos cobertores, virando-a para mim. As suas íris escuras encontraram as minhas e eu perdi-me na escuridão do seu olhar. Os seus lábios estavam comprimidos com a tensão que se originou pelo meu toque.

- O teu passado claramente implica com o teu presente. - sussurra timidamente. - Eu procurei trazer estabilidade para a nossa relação, por nós os dois, e nunca pensei em largar-te na primeira dificuldade. Contudo, é impossível eu fazer isto sozinha.

- Não tens de o fazer sozinha.

- Tu não estás preparado para um relacionamento sério. - interrompe-me. - Acredito que tudo o que aconteceu entre nós foi real, mas talvez esteja na hora de seguirmos em frente. Estamos em fases diferentes da vida, já não somos compatíveis.

Eu não podia perdê-la, pelo menos não agora que conheci como é a vida ao seu lado, sem vícios prejudiciais nem prazeres momentâneos fúteis. Ela é o meu motivo para me manter firme e enveredar por bons caminhos.

- Nós sempre fomos compatíveis. - o meu tom é grave e fá-la estremecer. - Nada mudou.

Beijo-a com urgência, deliciando-me com o sabor característico do seu hidratante labial. O gosto do álcool torna-se adocicado com o leve aroma a morango à medida que aprofundamos o beijo, ambos sedentos por mais.

Mathilde apoia-se na cama com um braço e eu puxo a sua perna para cima do meu corpo, afastando o seu cabelo logo depois.

Gemo quando a sua língua desliza pela minha, um sinal claro de que ela também sentiu a minha falta. Não me atrevo a ceder aos meus impulsos carnais e deslizar as mãos pelo seu corpo quente. Limito-me a respeitar o seu ritmo.

Mathilde afasta-se, ofegante, e encara-me com algum ressentimento. Rapidamente, vira-se de costas para mim e acomoda-se na almofada.

- Amanhã resolvemos isto. - diz, cansada.

- Boa noite, morena. - digo num suspiro, mantendo-me longe dela para a minha própria sanidade.

Preciso de muito esforço para resistir ao ímpeto de a abraçar, e só consegui fechar os olhos quando a sua respiração era ténue ao meu lado.

...

Senti uma movimentação na cama e despertei rapidamente, vendo-a paralisar. Mathilde tentava fugir das consequências do dia seguinte, mas eu não a deixaria escapar.

Assim que os nossos olhares se cruzaram, ela suspirou, endireitando-se.

- Enquanto continuarmos a acordar na mesma cama, não vamos superar o que aconteceu. - declara, olhando fixamente para o teto. - Se não superarmos o que aconteceu, não vamos conseguir ser felizes novamente.

- Nós somos felizes juntos. - rebato. - Tu sabes disso, não podes simplesmente apagar as memórias.

- Infelizmente. - o seu olhar é vazio e frio. - Eu não sei o que fazer e tu só tornas este processo mais complicado do que aquilo que já é por natureza.

- Este processo nem sequer devia existir. - comento, sentando-me na cama. - Eu amo-te, tu amas-me. Eu tenho noção de que errei, mas também tenho noção de que isto está a ser doloroso para ti. Deixa-me compensar-te, amor, por favor.

- Deixa-me em paz, Ian. - o seu tom de voz é fraco e ela fecha os olhos, procurando a força que não dispõe no momento.

- Eu deixar-te-ia em paz, se sentisse que era realmente esse o teu desejo. - digo suavemente. - Eu serei paciente, prometo, mas tens de ser sincera contigo mesma.

Levanto-me da cama, deixando-a entregue aos seus próprios pensamentos com algum pesar. O ar tornou-se denso, o ambiente constrangedor.

Mathilde apressou-se a entrar na casa de banho e eu fechei a porta da suíte, permanecendo alguns segundos ali antes de finalmente descer as escadas.

A mansão estava silenciosa. Ninguém estava acordado, embora já fosse relativamente tarde. Aproveitei para exercitar-me um pouco e descarregar todo o estresse dos últimos dias.

O ginásio era espaçoso e suficientemente longe da residência para eu conseguir distrair-me. Não me apercebi da presença do Ricci e do Thiago até eles falarem.

- Como vai isso? - Ricciardo cruza os braços, encarando-me com divertimento.

- Muito bem, sendo sincero. - respondo com um sorriso presunçoso, o suor a formar uma camada fina sob o meu corpo.

- Não me referia ao treino. - ele afirma, mas não insiste.

- Há algum tempo que não te dedicavas tanto aos treinos. - Thiago nota.

- Estou a tentar recompôr a minha vida. - admito. - Além disso, os campeonatos não se ganham com preguiça e despreocupação.

- Tens razão. - o loiro parece satisfeito com a minha postura. - As meninas ficaram a fazer o almoço, devíamos despachar-nos.

- Já terminei por aqui. - afirmo.

À medida que me aproximava do terraço conseguia ouvir mais claramente o tom animado de Mathilde, além de sentir o maravilhoso cheiro do cozinhado. Se tivesse de escolher apenas um dos seus muitos talentos, com certeza seria o seu encanto pela gastronomia.

- Bom dia. - cumprimento-as com um sorriso bem-humorado.

O meu olhar foca-se exclusivamente na morena e reparo no exato momento em que a sua atenção se prende no meu corpo, mais especificamente no meu abdómen descoberto.

Uma faísca de desejo trespassou o seu corpo e eu retirei-me, antes que fosse impossível esconder a tensão sexual entre nós.

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora