parte 1.

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Estou me sentindo um pouco ansiosa. Talvez seja o efeito da grande quantidade de cafeína que ingeri antes de chegar no colégio. A coordenação resolveu arrecadar doações pra festa de natal, então todo o ensino médio se reúne aos sábados para juntar o que já conseguimos, e pedir mais nas ruas do bairro.

Faltam meses pro natal, eu me pergunto o porquê do adiantamento, mas não estou muito surpresa.

— Ei, Maria. — Joana se aproxima da arquibancada, onde estou sentada.

— Oi? — pergunto.

— A diretora quer falar com a gente no pátio externo dessa vez, não sabia? — ela põe uma mão na cintura e me olha com um meio sorriso no rosto.

— Ah. Não sabia. Vamos. — respondo e antes mesmo de levantar, Joana segura minha mão e me leva pro lado de fora.

Aos poucos os alunos que também não sabiam onde será a reunião de hoje chegam, e não muito tempo depois, a diretora. Ela sobe num banco e a coordenadora lhe entrega um microfone. A mulher dá três batidinhas e começa a falar em seguida.

— Bom dia, pessoal. — ela diz e todos permanecem quietos e desanimados. — Gente, que desânimo é esse? Estamos fazendo algo bom pra vocês terem a festa de natal que tanto querem!

— A gente nem quer essa festa tanto assim. — o pessoal comenta baixinho do meu lado.

— Cadê a animação?! — a diretora grita empolgada.

Nessa hora todos emitem sons — bem falsos — de animação. A diretora suspira decepcionada e continua seu discurso.

— Fico muito feliz que vocês estejam se esforçando pra atingirmos a meta. Quem dera que fosse assim com as notas altas também, mas enfim. Quem trouxe doações de casa pode colocar dentro daquela caixa ali... — ela aponta pro lado esquerdo, onde tem a caixa retangular azul perto de uma professora.

Alguns alunos vão até o objeto e colocam itens retirados de suas mochilas.

— Ótimo, obrigada. — a diretora agradece, gesticulando. — Agora vamos em ordem para a saída, mas lembrem-se de tomar distância, ok? Podem ir. — ela conclui e todo mundo sai de todos os jeitos, menos organizadamente.

Eu estava prestes à acompanhar os outros, quando meus olhos bateram numa pessoa. Rafael. O que dizer sobre ele? Estudamos na mesma sala, mas ele vive de mal humor. É raro trocarmos uma palavra sequer, mas no fundo eu tenho uma grande curiosidade sobre sua pessoa.

— Oi. — cumprimento ele da maneira mais casual que consigo.

Ele nitidamente percebe, mas resmunga algo baixo e sai andando. Fico o observando cabisbaixa até que ele se mistura com a multidão. Eu não sou um exemplo de pessoa extrovertida, nem um pouco, mas ainda sim me incomoda esse jeito dele.

egoísta [r.l]Onde histórias criam vida. Descubra agora