egoísta [r.l]

parte 7.

*Aviso de gatilho: alcoolismo*

Depois de retirarem toda a bebida de Rafael, os médicos o liberaram. Tive que descobrir o telefone dos familiares dele pra avisar e pedir que alguém o buscasse. Consegui o de sua avó, aparentemente ele mora com ela e a tia.

Disseram que ele quase teve uma overdose de tanto álcool que ingeriu. Fiquei tão preocupada que fiz questão de esperar a tia dele chegar no pronto socorro e acompanhar até a casa deles.

— Obrigada. Muito obrigada, mesmo, Maria. — a avó dele me entrega um chá na sala de estar.

— Não tem problema. — digo com minha voz um pouco trêmula por conta do susto.

Beberico o chá enquanto ouço a senhora choramingar.

— Sabe, o Rafael tem problemas com álcool há um tempo. Eu pensei que estivéssemos sendo cuidadosas e prestando atenção, mas...

— Eu não sabia. — é tudo o que consigo dizer.

— Ele nunca quis compartilhar isso com ninguém. Acho que o tratamento não tá fazendo efeito.

— Tratamento?

— Ele toma antidepressivos tem mais de um ano. Eu sei que o processo é lento, mas eu não aguento ver meu neto assim. — ela chora desolada e eu fico sem saber agir.

— Eu sinto muito.

— Você parece se preocupar com ele. São muito amigos? — ela me olha torcendo pra que a resposta seja sim.

— Um pouco. Sim. — dou um sorriso amarelo e na hora ela percebe a falsidade.

— Tudo bem. Eu entendo. Rafael não é fácil. Ele disse que fez amigos, mas nunca apresentou ninguém pra gente. Também não cita nomes, não comenta nada.

— Eu estranhava o jeito dele. Agora as coisas fazem mais sentido. — digo, olhando pra caneca de chá.

— É...Bom, mais uma vez, obrigada. Imagino que agora a mocinha precisa ir pra casa. Seus pais devem estar preocupados. — ela recolhe a caneca, agora vazia, e alisa de leve meu cabelo.

— Pois é. — digo tentando esconder minha tristeza com a palavra que ela disse..."pais".

Só lembro um pouco do meu pai. Ele saiu de casa quando eu tinha uns seis anos. Nunca mais voltou. Mas eu me lembro de certas coisas, como ele jogando seu cinturão em mim pra me manter calada.

A senhora me acompanha até a saída e me pega desprevenida com um abraço aconchegante. Caminho de volta pra casa pensando no que falarei pro Rafael se ele for amanhã pra escola.