parte 10.

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Ponto de vista: Rafael

Agora sábado se tornou o pior dia da semana pra mim. Além de acordar cedo, tenho que buscar doações com todo o ensino médio, e claro, ver Maria. Ficou ainda mais difícil depois do tanto de punheta que bati pensando nela.

Penso nessa menina tanto quanto penso no álcool. Me pergunto qual dos dois é mais destrutivo.

— Anda logo! — duas garotas começam a se enfrentar na frente de todos.

— Anda você! — a outra responde, empurrando a colega.

— Meninas, parem com isso. — a coordenadora repreende as duas. Elas se afastam e nós tornamos à andar tranquilamente, ou quase.

Tem tanta gente que eu me sinto sem espaço algum. Lembro do incidente no shopping, onde Maria caiu e eu à ajudei a levantar. Procuro ela no meio de tantas cabeças desinteressantes, até que virando meu rosto pra trás, encontro a garota caminhando num canto da calçada, à uns três metros de distância.

Diminuo a velocidade dos meus passos, chegando à ficar mais próximo dela. O que merda estou fazendo? Acabamos ficando quase lado à lado, separados por uma outra menina, a Joana.

Em pouco tempo alguns grupos se separam pra parar na frente das casas dessa rua e pedir doações aos moradores. Maria se misturou com o grupo de sua amiga e eu sem pensar duas vezes fiz o mesmo.

Fomos até a casa número 24 e quem se prontificou à falar com o dono da casa foi Joana e um garoto que não conheço. Nessa hora Maria e eu ficamos literalmente lado à lado.

Ela tirou sua mão da alça da mochila e relaxou o braço. Consigo sentir nossas peles se tocando suavemente, de forma quase imperceptível. Acho que não notou minha presença ainda. Isso até eu respirar um pouco mais forte do que de costume e ela virar seu rosto pra mim.

Seus olhos se arregalaram e nessa hora eu me senti um lixo humano. Preciso sair daqui. Ela moveu seus dedos, triscando-os nos meus, chegando à entrelaça-los. Meu coração está batendo tão forte que eu chego a pensar que ela possa estar ouvindo.

Antes que Maria diga alguma coisa, eu me afasto bruscamente. Ando pro outro lado da rua sem olhar pra trás, afim de me encaixar em outro grupo.

egoísta [r.l]Onde histórias criam vida. Descubra agora