egoísta [r.l]

parte 24.

Minha mente está dando voltas lentas e levemente dolorosas. Ele não foi o único que exagerou, e eu não falo só de bebida. Ao ouvir o chuveiro sendo desligado, eu dou uma checada na rua. Minha mãe realmente esqueceu que tem casa, e uma filha.

Dou minha roupa mais larga pro loiro vestir e depois dele se jogar de novo na cama da minha mãe, corro pro banheiro. Terceiro banho do dia. Se meu pai estivesse aqui, contaria algum caso de infecção íntima que leu nos jornais.

Após vestir um pijama bem diferente do que tinha separado mais cedo, pego meu celular e ligo pra avó de Rafael.

— Oi Maria, algum problema? Onde está o Rafa? — ela atende na mesma hora.

— Ele tá aqui. Na minha casa. — digo com incerteza no meu tom. Não sei se estou fazendo a coisa certa.

— Fico feliz que ele tenha dito a verdade. Vocês estudaram muito?

— Oi? — junto as sobrancelhas.

— Ele disse que ia fazer um dever de casa aí.

— Ah. Sim, estudamos bastante. — minto. Vai ser melhor assim. Eu espero. — A senhora se importa dele dormir aqui hoje?

— Aconteceu algo?

— Não, é que tá tarde e chovendo.

— Tudo bem, querida. Amanhã é domingo, mesmo. Espero que ele se comporte.

— Certo. Até mais, senhora. — me despeço e ela desliga à seguir.

Vou até o quarto que será nosso por hoje. Nunca imaginei que o dia acabaria assim. Mas talvez isso seja um sinal de que ainda não acabou.

Me deito ao seu lado e observo sua postura ser movimentada pela sua respiração. De olhos fechados, Rafael parece bem menos nervoso. Não consigo me conter e passo meus dedos pelos seus cabelos loiros recém lavados.

Desço minha mão pelo seu pescoço, depois pela sua bochecha, até chegar em seu lábio inferior. Nessa hora, seus olhos abrem e ele me encara intensamente. Pupilas dilatadas, sua esclera avermelhada.

— Maria... — ele diz meu nome lentamente.

— Sim? — pergunto, com encantamento estampado em meu rosto.

— Me sinto tão mal. — uma lágrima cai sobre seu rosto.

— Eu sei, teimoso. Não se preocupe. Eu tô aqui. — acaricio sua pele e ele vira o rosto pra encostar sua boca na minha mão.

Ele dá um beijo nela. Rápido e quase imperceptível, mas eu estou muito apaixonada pra não ter visto. Inclino meu rosto e abraço ele, que não retribui e pega no sono logo depois.