— Oi. — ele me disse, sorridente.
A primeira vez que o vejo sorrir assim. Parece feliz. Renovado.
— Oi. — isso soou mais como uma pergunta, eu digo com uma expressão surpresa no rosto.
— Desculpa por ser um idiota com você. Tá tudo bem? — ele se aproxima.
Olho para os lados e noto que estamos numa rua vazia. Mas do nosso lado está o carro da minha mãe, semiaberto.
— Você também percebeu? — deixo uma risada escapar.
— O quê? — ele levanta uma sobrancelha.
— Estamos sozinhos. Isso me dá um pouco de medo. — me encolho, sentindo um frio no corpo.
— Não precisa ter medo. Eu tô aqui. Não tô? — ele passeia suas mãos pelos meus braços, esquentando-os.
— Parece que sim. — sorrio mais leve dessa vez.
Ele se aproxima cada vez mais, até que me surpreende com um tapa. Um tapa tão forte que doeu até em partes que eu não pensei que doeria. Meu rosto vira com tudo pro lado, e eu coloco minha mão no local, saboreando a ardência.
Agora ele me olha com fúria. Como se quisesse me bater de novo. Respiro ofegante, impactada e completamente assustada.
— Maria. Maria! Acorda, pirralha. — sinto alguém me chacoalhar e abro os olhos lentamente, ainda com a agitação dentro do meu peito.
— Mãe? O que aconteceu?
— Você chegou da escola e nem trocou de roupa. Aliás, nem banho você tomou. Vai pro banheiro agora! — ela faz uma cara de nojo e aponta pra porta do meu quarto.
— Tá bom. — concordo sem questionar, aparentemente foi só um sonho.
Não sei se isso é bom ou ruim.
Depois do banho, visto um agasalho verde escuro que ganhei no natal passado dos meus avós. Pela iluminação das janelas, está de noite. Dormi a tarde inteira. Como fui pegar no sono assim que voltei pra casa? Às vezes não entendo meu organismo.
Mesmo sem fome, preparo um cereal e como com preguiça. Pelo menos estou de barriga cheia. Ou quase, não sei se um simples cereal é o suficiente pra jantar. Passo pelo quarto da minha mãe e vejo ela sentada no chão pintando as unhas.
Abro a porta da sala e vou até a rua. Caminhar faz bem, é o que dizem os mais velhos. Ainda um pouco abobada, me pergunto o que faço na rua sozinha essa hora, andando sem rumo. Daí lembro da praça onde já fui com o pessoal da minha sala algumas vezes.
Em pouco tempo chego e por sorte, encontro outras pessoas desfrutando do espaço. Não queria ficar sozinha aqui. Um grupo de crianças brincam nos balanços e nas gangorras. As mães observam sentadas nos bancos.
Com as mãos nos bolsos, caminho observando o movimento dos carros na pista e lembrando dos meus últimos dias.
Quando me vejo, já estou sentada num banco de madeira com os pés na grama. Aos poucos, uma respiração ofegante e barulhos de passos tortos chegam ao meus ouvidos. Olho pra trás mas não vejo nada, pros lados nada também.
Levanto e me aproximo da pista, alguém está cruzando a esquina andando em ziguezague, como se estivesse bêbado. O homem atravessa e um carro faz isso ao mesmo tempo.
— Para! — corro pra pista e paro no meio dela antes que o carro passe.
O motorista freia com tudo.
— Tá maluca, menina? Tá querendo morrer?! — ele grita comigo, com a cabeça pra fora da janela.
O cara bêbado tropeça e cai na calçada. Eu corro pra ajudá-lo e o motorista dá partida.
— Ei. Você tá bem? — faço o maior esforço pra levantar o moço mas perco as palavras ao olhar pro seu rosto. — Rafael...
— Você...Você... — ele tenta falar mas se embola todo.
— Por que você bebeu? — pergunto sabendo que ele não vai responder, sentindo o cheiro forte de álcool. — Esquece. Vamos.
— Não. Pra onde? — ele pergunta em pausas.
— Pronto socorro, você tá muito mal e eu não sei onde você mora. — apoio seu braço em volta do meu pescoço e começo à carregá-lo lentamente.
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egoísta [r.l]
Fanfictionquando a atração pode ser dolorosa para ambos. AVISO DE GATILHO: alcoolismo, xingamentos/palavrões, masturbação, sexo e relacionamentos abusivos.