parte 50.

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Ponto de vista: Rafael

Encarando meu celular por pelo menos uma hora, me sinto cansado. Levanto da cama e começo à andar de um lado pro outro, buscando a coragem necessária pra fazer o que quero.

Eu quero várias coisas, então fica difícil decidir. Essa é a parte complicada.

— Rafinha, meu amor... — minha vó entra no meu quarto com uma bandeja de comida.

— Eu não tô com fome, vó. — tento não ser grosseiro com ela, mas minha voz saiu exausta de impaciente.

— O que você tem, posso saber? — ela coloca o que segura no criado-mudo e se senta ao meu lado.

— Nada. — digo com incerteza. Eu devia confiar mais na minha família, todos me dizem isso.

Acho que é algo que ainda preciso trabalhar por um tempo.

— Quer que eu ligue pra Maria? — ela põe a mão na minha perna.

— Ela tá estudando pra recuperação. Eu queria ficar com ela. — falo olhando pra baixo, meio sem graça.

— Então fique. Acho que ela adoraria ter sua companhia enquanto estuda.

— Ela disse que é melhor não. Não posso insistir. — cruzo os braços.

— Ô menino complicado. — ela mexe minha perna com sua mão e eu levanto uma sobrancelha. — E já decidiu se não vai mesmo na festa?

— Sim, eu não vou. Vai ser uma merda. — resmungo e ela me olha incomodada. — Digo, vai ser ruim. — reviro os olhos.

— Então eu não sei o que fazer pra te ajudar, Rafael. Você não pode ficar cabisbaixo como se o mundo tivesse acabando, meu filho. É só até a prova, depois vocês vão ficar juntos.

— Eu não sei. Sempre tem algo empatando a minha f... — interrompo minha fala ao me dar conta do que ia dizer. Os mais velhos são cheios de mimimi, né? — Deixa pra lá.

— Quer ter algo pra fazer? Sua tia vai montar a árvore daqui a pouco.

— Eu passo. — sorrio sarcasticamente.

— Ótimo, então fique aí ansioso. — ela levanta demonstrando decepção, e provavelmente fazendo chantagem emocional comigo.

— Tá, eu ajudo. — a acompanho com preguiça.

As horas passam e finalmente o dia acaba. Deitado na cama, coloco os fones de ouvido e resolvo ouvir uma playlist natalina que um cara da minha sala compartilhou no status do WhatsApp. Uma das piores coisas que já ouvi, me fez gostar ainda menos do natal.

Eu sou um babaca, isso é fato, porém meio submisso também. Se a Maria me sugerisse escutar todas as músicas natalinas do mundo agora, eu aceitaria sem reclamar. Essa menina é tudo na porra da minha vida. Só gostaria de ficar com ela em todos os momentos.

Aos poucos, pensando nela, o sono vai chegando.

[...]

— Ela ainda não ligou? — Clarissa dá risada no meio do almoço.

— Não. — respondo sem ter saco pra olhar na cara dela em pleno meio dia.

— Ai, esses apaixonados... — ela comenta e minha tia gargalha.

— Perguntei alguma coisa? — rebato.

— Nossa, que grosso. — ela finge ofensa.

— Rafael, ela só tava brincando. — minha vó defende a palhaça.

— Deixa ele. Ô estressado, por que você não liga pra ela de uma vez?

— Você acha que eu já não tentei? — faço uma careta, irônico.

— Tenta de novo. Você não tem nada à perder. — minha tia fala.

— Só tempo. — Clarissa complementa, antes de rir de novo.

— Você tá engraçada hoje, né? — provoco.

— Desculpa. Se ela não atende, deve estar ocupada. A própria Maria disse que ia estudar muito pra prova, você sabe.

— Eu sei, mas...Ah! — pressiono a cabeça com as mãos, bagunçado meu cabelo e aumentando a dor de cabeça.

— Só tem um jeito de descobrir o que ela tá fazendo. — Clarissa fala inocentemente, e eu a encaro rapidamente. — Indo na festa. — ela conclui sussurrando.

— Que merda de conselho. Ela disse que não ia.

— Então, se você for e ela não estiver, quer dizer que ela tá mesmo estudando. Aí você aproveita e pergunta pra todo mundo se sabem dela. Ou vai até a casa do tio dela conferir pessoalmente.

— Até que a Clarissa tem razão. — minha vó diz.

— Não, ela tá louca. Como sempre. — levanto da mesa impaciente.

— Mas que drama. Relaxa um pouco, vai.

— Talvez eu esteja exagerando, mesmo. — sento novamente. — Uma vez idiota, sempre idiota... — murmuro.

— Quer ajuda? — Clarissa se aproxima e estende sua mão, para eu aperta-la.

— Sim? — falo com muita dúvida.

— Ótimo, vou te ajudar. Mas só depois das cinco.

— Que? Por que? — quase berro.

— Porque são quase uma da tarde, não é hora da gente se preocupar com essas coisas. — ela termina de tomar seu suco e em seguida faz um som de refrescância com a boca.

Elas recomendaram que assistíssemos algo juntos pra o tempo passar logo e eu esquecer do meu "problema", então assim fizemos. Dois filmes, um de suspense e outro que é uma animação da Disney, bem sem graça.

— Três, dois, um, e...Cinco horas! — pulo do sofá fazendo uma dança automática e impensada. Elas estavam tão concentradas no filmes que não perceberam a minha contagem regressiva enquanto olhava pro relógio do celular. — Vai, me ajuda.

— Tá bom, vai. — Clarissa revira os olhos e vem até mim.

Começamos à ligar pra todo mundo da minha sala. Ela achou que seria melhor falar com a escola toda, mas aí seria exagero e a notícia se espalharia rápido. Já estava começando à achar essa ideia uma completa bosta, isso até certa pessoa atender a chamada.

egoísta [r.l]Onde histórias criam vida. Descubra agora