parte 14.

502 45 6
                                    

— Você não falou nada o caminho todo. — digo quando paramos na frente da minha casa. Me pergunto se ele pensou nas coisas que eu disse mais cedo.

— O que quer que eu fale? — ele dá de ombros e seus olhos tremem de novo. — Que a sua casa é bonita?

— Não. Eu sei que não é. — digo entre risos baixos.

— Ah, por favor...Se liga nessa belíssima parede verde água descascada. — ele aponta pro muro de forma exagerada, imitando a voz de sei lá quem. Eu caio na risada. — E que tal esse moderno portão marrom com grades pontudas?

— Ok, é uma casa horrível, já entendi. — respondo deixando escapar um sorriso envergonhado. Lembro dos sonhos que tive com ele, onde conversávamos assim, fazendo piadas um com o outro.

Continuamos rindo por longos segundos, até que um silêncio se instala. Sua expressão se fecha e ele fica sério. Observo sua linguagem corporal e procuro algo certo pra dizer.

— Eu vou embora. — ele se vira e começa a andar.

— Espera! — sigo Rafael dando uns dois passos até que ele para e vira pra mim.

— Quê? — ele me olha de baixo à cima rapidamente.

— Posso te dar um abraço?

— Não! — ele se afasta de forma bruta. — Não. Vai pra sua casa, Maria. Vai. — o loiro conclui como se estivesse tentando "corrigir" o modo como disse anteriormente.

— Eu-

— Você fala demais. Esqueceu que eu tenho que voltar pra casa rápido? — ele levanta as sobrancelhas.

— Tudo bem. — respondo casualmente. — Tchau. — aceno e ele volta à andar. Esperei por um gesto de despedida, mas não aconteceu.

Entro batendo a porta forte, sem ligar caso minha mãe grite. Ele já foi embora mesmo, e ela sempre grita. Passo pelo seu quarto e vejo seus pés imóveis na cama. Presumo que ela já foi dormir.

Apago as luzes da varanda e tomo um banho quente. Ao lavar meu rosto, lembro das mãos de Rafael segurando-o e ele pronunciando meu nome. Mordo o lábio dando um sorriso de excitação.

egoísta [r.l]Onde histórias criam vida. Descubra agora