parte 43.

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— Quem era? — Davi levanta do sofá assim que eu volto pra sala.

Passei um bom tempo no quarto do meu tio, pensando no que pode ter acontecido com Rafael. Ele não tava nada bem, mas espero que possa me explicar quando chegar aqui.

— Acho que é melhor você ir embora. — seguro seus ombros e o conduzo até a saída.

— Por que? — ele questiona, fazendo força pra me impedir de "expulsa-lo".

Ou em outras palavras, "convida-lo gentilmente à se retirar". Como ele sabe meu endereço?

— Eu nem te chamei! — resmungo, ficando irritada.

Depois que ficamos no dia da trilha, creio que Davi criou uma ideia sobre minha pessoa pra si mesmo. Ele me ligou algumas vezes me chamando pra sair, ou ir em sua casa pra ficarmos de novo. Me sinto um pouco culpada por isso. Eu não devia ter beijado ele.

— Mas Maria, você não gosta de mim? — ele dá uma risada nervosa.

— Senta aqui, Davi. — aponto pro sofá e o menino faz o que peço. — Olha, me desculpa mesmo, não quero ser chata com você. Mas não podemos ficar juntos. Nem aqui, nem na sua casa, nem em lugar nenhum.

— Nossa... — ele pisca várias vezes. — Por que? O problema sou eu?

— Não. Não tem nada de errado com você. É que eu gosto de outra pessoa.

— Você devia ter dito isso lá na mata. — ele rebate.

— Davi, meu Deus! — me estresso, mas na mesma hora tento manter a calma. — É complicado. Não posso e nem quero te contar toda a história. Apenas saiba que isso que você acha que temos não vai pra frente. Foi só aquela vez, como dois jovens que fazem coisas impensadas, sabe?

— O que quer que eu faça, então? — ele cruza os braços.

— Vá embora? — sugiro levantando as sobrancelhas, me esforçando pra não ser rude com ele.

— Tá. — ele vai até a porta. — Só mais uma pergunta: era com a outra pessoa que você tava falando no telefone?

— Sim. — olho pra baixo.

Davi se vira pra girar a maçaneta, porém na mesma hora alguém bate na porta, nos assustando.

— Acho que-

— Merda. Vem! — puxo o garoto pelo punho até o banheiro. Antes que eu o "prenda", Davi bloqueia com sua perna e me olha preocupado.

— Por que tenho que me esconder? — ele sussurra.

— Eu não quero que ele te veja, só isso. — sussurro de volta.

— "Ele"? Eu ficaria menos enciumado se fosse uma garota. — ele balança a cabeça, desapontado.

— Ah, pelo amor de Deus! — fecho a porta com tudo e corro.

— Maria? — ouço a voz de Rafael vinda do lado de fora. Já com o portão aberto, o loiro me observa com seu olhar penetrante.

— Oi. — dou um sorriso tímido.

Na mesma hora ele me puxa pela cintura e me beija, fazendo eu perder totalmente o raciocínio e esquecer tudo à nossa volta. Mas de repente, algo me vem à mente.

— Ei. — empurro ele de leve. O garoto arregala os olhos. — E a Clarissa?

— Eu não quero falar disso. — ele coça a nuca.

— Rafael. — o encaro com repreensão. — Não vai me contar o que houve?

— Acha que eu viria aqui se estivesse com ela?

— Não sei. — dou de ombros, desviando a atenção desse ser tão lindo e tão complicado.

— Eu tava com saudade... — ele murmura encostando nossos narizes. Deixo escapar outro sorriso e ele me beija novamente.

Não consigo me conter e me entrego ao momento. Entramos agarrados e antes que partamos pra algo mais sério, me recordo de algo. Merda, o Davi! Os dois se verem será menos pior do que o que imaginei por um segundo.

— Espera. — interrompo o beijo.

Rafael se distancia e eu vou até o banheiro. Ao abrir passagem, Davi sai de forma introvertida.

— Oi. — ele cumprimenta Rafael.

— Quem é ele? — o loiro pergunta, com um incômodo nítido em seu rosto.

— Ele tava de visita, mas já vai embora. Né?

— É. — Davi gagueja e eu o acompanho até a saída.

— Desculpa mais uma vez. Você tá bem? — falo pressentindo que ele vai responder algo estranho.

— Não. Mas vou ficar. Não existe só você de menina no mundo, certo? — ele ajeita sua roupa e faz pose de quem não liga.

— ...Certo. — alongo a palavra, com mil interrogações na cabeça.

Assim que fecho a porta, suspiro e não deixo de reparar na reação de Rafael.

— Aquele cara tava trancado no banheiro?

— Eu não quero falar disso. — repito o que ele disse anteriormente, o provocando.

— Aham, tá. Entendi, Maria... — o rapaz se aproxima devagar e leva suas mãos até meu rosto.

Ele me beija lentamente, me deixando excitada bem aos pouquinhos. Só de estar na sua presença, eu me sinto em chamas. Como pode alguém despertar uma paixão tão grande assim na gente?

É como estar dopada de uma droga potente. Essa droga se chama amor.

egoísta [r.l]Onde histórias criam vida. Descubra agora