parte 44.

343 36 10
                                    

— É muito bom te ver assim. — digo enquanto acaricio a pele macia de seu rosto.

— Assim como? — ele pergunta num tom rouco.

— Tranquilo. — respondo calmamente.

— Agora eu tô. Mas não sei se por muito tempo... — ele vira a cabeça.

Estamos deitados no chão da sala. O que impede a frieza do piso é o tapete enorme que meu tio comprou há algumas semanas.

— Me conta. — peço, deslizando meu dedo pelo seu lábio avermelhado.

— Clarissa e eu brigamos e ela terminou comigo.

— Ah. — suspiro me sentindo mal. Agora eu virei a "amante não-amante". Aquela que consola o cara pra ele esquecer a desilusão que acaba de sofrer.

— O que mais me deixa angustiado é que talvez a culpa não seja minha. Eu me sinto culpado, mas a situação diz outra coisa.

— Como assim?

— Estávamos na casa dela, e o pai tava lá. Ela me tratou diferente, como se não quisesse que ele soubesse que éramos namorados.

— Por que? — digo quase num cochicho.

— Ela não disse. Saiu da minha casa furiosa, chorando e dizendo que também tinha problemas.

— Mas ela terminou com você, mesmo?

— Ela disse pra eu deixar ela sozinha. Isso disse tudo, não? — ele põe sua mão sobre minha cintura à mostra.

— E agora você veio pra aliviar sua tristeza com a segunda opção? — o questiono com indignação.

— Maria, que porra você tá falando? — ele junta as sobrancelhas. — Não entende? Você sempre foi a primeira opção.

— Não. Eu não entendo. — mudo de posição, agora sentada e abraçando meus joelhos. — Ela te ajudou, Rafael. Ela praticamente salvou sua vida. Eu não sou nada...

— Para com isso. Venha. — ele me puxa pra ficar por cima de seu corpo. — Você me prometeu que se cuidaria. Quero saber se tá cumprindo a promessa.

— Você mudou de assunto.

— Depois dessa asneira que você falou? Fiquei sem palavras. — ele sorri, sarcástico.

— Se quer saber, sim, tô fazendo terapia. — volto à me deitar ao seu lado. — As coisas estão melhorando aos poucos, eu acho. Mas aquele seu "eu te amo" mudou completamente minha perspectiva.

— É mesmo? — ele provoca, estreitando os olhos.

— Sim. — dou ênfase.

— E seu tio? É legal?

— Ele é de boa. Aceitou pagar a psicóloga sem nem questionar. Minha mãe não faria isso.

— Acha que ela sente sua falta? — ele beija meu ombro.

— Não me importo. Nem um pouco. — afirmo e ele solta uma gargalhada. — O que foi?

— É que por muito tempo tive medo de te conhecer. E ultimamente isso só tem me agradado.

— Eu sempre quis te conhecer. — digo honestamente.

— Não sei porquê. Eu não era ninguém. — Rafael olha pra baixo.

— Não diga isso. Você é importante e sempre foi. Só precisava se encontrar. Eu só lamento não ter sido a responsável por isso.

— Você foi. Lá no fundo. — ele garante, acho que só pra me fazer sentir melhor.

— Não. Não fui.

— Foi sim.

— Não fui.

— Foi sim.

— Ai, tá bom. Essa discussão não vai acabar nunca. — gargalho, o abraçando.

— Estamos bem? — ele pergunta, roçando nossos lábios.

— Estamos bem. — junto nossas bocas num selinho demorado.

egoísta [r.l]Onde histórias criam vida. Descubra agora