parte 5.

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Já faz um tempo desde minha queda no shopping e aquela conversa estranha com o Rafael. Se é que posso chamar aquilo de conversa, né? Não sei porquê mas me sinto estranha perto dele. Como se ele fosse superior à mim, ou mais velho, mais experiente, mais autoritário.

Não nos falamos desde então, mas eu o observei nas aulas. Seu olhar triste e cansado de sempre, suas olheiras marcantes. Suas pupilas dilatadas como a de um gato.

Venho tido sonhos com ele. Pensamentos sobre sua pessoa invadem minha mente à cada segundo. Sou culpada por ocupar minha mente com uma pessoa que não gosta de mim? Eu deveria tentar chamar sua atenção? Tantas questões, não consigo responder uma sequer.

— Atenção, classe. Fizeram o conto que eu pedi semana passada? — a professora de produção textual pergunta, interrompendo a conversa de alguns.

Murmúrios são ouvidos, o que deixa a professora estressada. Ela começa a dizer que contos são a coisa mais fácil do mundo e que adolescentes de dezessete anos deviam praticar mais sua expressão de escrita.

No meio da correção dos deveres, aproveito que faltam duas fileiras pra chegar minha vez e começo à desenhar um inseto na última folha do meu caderno. Depois das antenas, parto para as asas, e como um ato impulsivo, olho para o lado.

O que não esperava é que a pessoa que está sentada na primeira fileira do outro lado da sala estaria me olhando também. Desvio o olhar sentindo uma ansiedade, mas dois segundos depois torno à olhar naquela direção.

Ele olha pra outro canto agora. Junto as sobrancelhas ao encarar meu caderno e ver o inseto que desenhei no lado esquerdo. Eu tenho certeza que desenhei no lado direito. Isso me distraiu o restante da aula.

Na hora do intervalo todos saíram como cavalos numa corrida. Como sempre, Rafael é uns dos últimos à sair. Dessa vez só ficamos eu, ele e a professora na sala. Vi o garoto chutar de leve sua mochila e olhar pra mim em seguida.

Percebo nitidamente seus olhos descerem um pouco, como se mirassem minha boca, meu pescoço, ou até o resto de meu corpo. Me inclino pra levantar da cadeira e isso parece ter sido um choque pra ele, pois saiu desvairado logo depois.

Mais uma vez, ignorada.

egoísta [r.l]Onde histórias criam vida. Descubra agora