parte 45.

343 34 4
                                    

Ponto de vista: Rafael

Tem momentos que as coisas parecem mais simples do que realmente são. A noite de ontem foi assim. Ao acordar e ver Maria do meu lado, me senti uma nova pessoa. Alguém bom, com mais sorte na vida, porém ao mesmo tempo um completo fodido.

Eu quero ser o melhor possível pra ela, e jamais fazê-la sofrer de novo. Mas algo aqui dentro me diz que aquele Rafael de antes não desapareceu completamente. Tenho muito medo de fracassar e me tornar um peso pra quem está ao meu redor.

Exatamente como era no passado.

— Você tá bem? — ela pergunta ao chegarmos na porta da minha casa.

— Sim. — tento não deixar minha dúvida transparecer.

— Tá com a chave? — ela ri.

— Não sei. Acho que não. — bato as mãos nos meus bolsos, mas não sinto nada.

Ela se adianta e toca a campainha. Já passou da hora do almoço, mas espero que minha vó não tenha tirado a comida da mesa.

— Droga...! — Maria faz uma careta.

— O quê?

— Hoje é sábado. Não fomos pra coleta de doações.

— Não tem problema, as aulas já tão quase acabando. Com certeza já conseguiram o suficiente. — dou de ombros.

— É, talvez.

— Rafael! Fiquei preocupada! — minha tia dá um leve tapa em meu braço ao abrir a porta.

— Eu mandei uma mensagem. — rebato juntando as sobrancelhas.

— Ah, é que faltou energia. Mas mesmo assim, você devia ter avisado. Foi fazer as pazes com a Clarissa? — ela segue falando sem nem ao menos reparar na presença de Maria.

— Então... — indico com a cabeça pra ela finalmente se tocar.

— Maria. Quanto tempo! — elas se abraçam. — Entrem.

Chegamos na cozinha e minha vó está na mesa sentada bebendo um suco.

— Podem esquentar no microondas. — tia diz ao retirar as sobras da geladeira.

— Mariazinha, você tá uma moça. — minha vó segura a mão da garota, que abre um sorriso lindo. — Como tá indo na escola?

— Vó. — reviro os olhos, resmungando. Às vezes ela fala demais.

— Deixe ela, menino. Sabe como sua vó é. — minha tia a defende, e todas elas riem.

— Tá tudo indo. Acho que vou passar. Eu espero. — Maria encolhe os olhos e suas bochechas coram.

Almoçamos com as três falando sem parar. Eu queria ter um momento a sós com Maria, mas parece que terei que dividi-la com minha família. E agora que notei, falar "família" não é tão estranho quanto antes. Eu costumava sentir raiva e vergonha ao pronunciar essa palavra. Principalmente quando se tratava da minha família em específico.

Pra me distrair do falatório, decidi lavar toda a louça. Fiquei cantarolando internamente enquanto esfregava uma esponja nos pratos da refeição. De repente a campainha toca e Maria me olha com uma interrogação estampada em seu rosto. Como eu vou saber quem é?

Em pouco tempo minha tia volta acompanhada de Clarissa. Arregalo os olhos, fazendo a mesma cara que Maria fez segundos atrás.

— Oi. — a garota cumprimenta todos, porém olhando apenas pra mim. Me pergunto se ela percebeu a presença de certa pessoa.

— O que tá fazendo aqui? — questiono.

— Eu... — ela coça a cabeça olhando pra baixo. — Maria?

— Oi. — Maria à cumprimenta.

— Fala, Clarissa. — apresso a menina, que parece não saber o que dizer.

— Eu vim falar com você.

— Depois de ontem? Você terminou comigo por algo que eu nem sei direito o que foi. — cuspo as palavras, soando mais agressivo do que pensei.

— Eu não terminei com você.

— O quê? — uma pergunta que saiu sozinha da minha boca, automaticamente.

— Temos que conversar. — ela diz com convicção.

— Vocês querem uma água? Um café? — minha vó quebra o silêncio que ficou.

Ninguém responde.

— Eu vou embora. — Maria levanta da cadeira e caminha até a porta.

— Maria, espera. Espera! — tento impedi-la de ir embora, mas Clarissa segura meu braços me "acalmando".

— Depois você fala com ela. Agora a gente vai resolver isso de uma vez. Vem. — ela puxa minha mão e me leva até meu quarto.

egoísta [r.l]Onde histórias criam vida. Descubra agora