parte 19.

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Ponto de vista: Rafael

[...] Horas atrás

— Rafael, não quer caminhar com a gente? — minha vó pergunta ao entrar no meu quarto. — O dia tá lindo lá fora.

— Não. — respondo sem olhar pra ela, apenas focado na tela do meu celular.

— Você tá bem? — ela se aproxima e acaricia minha perna.

— Tô. — respondo mais ríspido do que pretendia. Me arrependo ao ver sua feição de decepção. — Só quero ficar aqui pra me preparar pra sair depois.

— Sair?

— É, eu ia te perguntar daqui à pouco. A Maria me chamou pra estudar na casa dela às nove. Eu posso ir?

— Maria? Sério, querido? — ela abre um sorriso enorme e vem me abraçar. — Vocês se aproximaram? Já são amigos?

— Sim. — respondo tentando não deixar transparecer o sufoco que foi falar isso.

— Que bacana. Tem prova na segunda?

— Não, é só um dever de casa.

— Tá bom. Você pode ir. Mande lembranças à ela, ok? Quer levar uns pedaços de bolo pra vocês comerem? — ela começa a falação.

— Não, vó. Talvez eu demore à voltar. Tudo bem pra vocês?

— Tudo. Mas se demorar muito, eu ligo pra você. A família dela pode se incomodar, sabe? Você tem que ser muito comportado.

— Claro. — dou um meio sorriso e ela sai quase saltitando.

Coloco pra tocar uma música que lembra Maria e automaticamente me arrependo. Depois do refrão, começo à me sentir mal. É uma merda esse tanto de sentimentos. Muita raiva, muita angústia e ao mesmo tempo muito tesão.

Depois de um tempo imóvel, entro no nosso chat do WhatsApp e respondo o "oi" que ela me mandou um dia aí, o qual não lembro.

[...] Agora

— Eaí, galera. Fiquem à vontade, tá? A festa é de vocês. — Pereira nos recebe no corredor. Por sorte encontrei os caras da minha sala na entrada.

— De boa. Parece tá muito foda.

— Eu vou tentar achar as meninas. Quem sabe o álcool deixe elas menos chatas hoje...

— Que papo de assediador. — reviro os olhos. Eles riem e me acompanham.

Esbarramos com uma multidão de pessoas até chegar no bar. Me prontifiquei a ser o primeiro à pedir, e na maior satisfação, peguei dois copos. Um de tequila e outro de vodka.

A maioria do pessoal pediu energético, e os outros alternaram entre cerveja e pinga.

— Ei, Marcos, vem cá. — chamo um deles e beberico um pouco da minha tequila. Coloco um pouco do copo dele no meu e depois misturo.

Faço isso com a bebida de todos eles, o que me fez ser o alvo de piadas. Que bom que eu vou ficar muito doidão pra ligar pra isso.

— Mano... — João gargalha altíssimo.

— Ficou melhor. Acredite. — bebo meu drinque inteiro em poucos segundos.

— "Acredite". Se acalma, tá alcoólatra? — ele diz em forma de piada, e nessa hora agradeci internamente por eles não saberem da verdade. Ou do que pode ser verdade. O que os benditos médicos dizem.

— Se fode aí, vai. — resmungo voltando a beber.

Peço mais dois copos e a galera vai se misturando com os desconhecidos. Me sento num dos bancos perto do balcão e fico enchendo a cara. Ou em outras palavras, me preparando pra melhor parte.

Não vai demorar muito pra fazer efeito.

— Maria, Maria, Maria... — fico repetindo seu nome freneticamente enquanto sinto a acidez descer pela minha garganta. — Maria...

— Oi, licença. — uma menina se aproxima e eu viro meu rosto rapidamente pra ela.

— Oi.

— Qual seu nome? — ela fica cada vez mais perto.

— O meu? Por que? — junto as sobrancelhas, querendo ser difícil.

— Tá com medo de falar? — ela ri.

— É Rafael. E o seu?

— Luísa. Quer dançar? — ela aponta pra pista.

— Eu tô ocupado agora. — olho pros drinques.

— Bebendo? — ela levanta uma sobrancelha.

— Não, plantando tomates. — digo, sarcástico.

— ...Tá bom, então porque veio na festa? Pra perder tempo no bar? — ela passa a mão no meu ombro.

— Basicamente. — encaro ela, que agora morde o lábio do mesmo jeito que uma atriz pornô fez num dos meus vídeos favoritados. Esquece.

Isso quase me deixou excitado, mas eu não quero sair beijando qualquer uma.

— Você tem quantos anos?

— Por que? — pergunto e ela ri.

— Você é sempre desconfiado assim? Eu só tô puxando assunto.

— Tá. Tenho dezessete. — digo com a borda do drinque próxima do meu lábio.

— Eu tenho dezoito. Fiz há umas semanas.

— Legal. — respondo no maior desinteresse pela vida dela.

— Já chega, ô Rafael. Você vai dançar comigo agora, não quero saber. Vem. — ela me puxa forte.

— Ei, espera! Eu não sei dançar... — distraído em tentar fazer ela me largar, acabo deixando a bebida em cima do balcão. Luísa me leva pra pista de dança e eu já consigo sentir minha cabeça girar.

egoísta [r.l]Onde histórias criam vida. Descubra agora