parte 32.

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— Honestamente Maria, você não merece que eu te leve pra canto nenhum. Não faz porra nenhuma dentro de casa, sai quando bem entende, só lava o banheiro com má vontade, não sabe usar a porcaria de um forno se não for pra queimar as coisas...Sério, você é uma inútil. Eu sou muito boa em ter aceitado... — ela tá falando as mesmas coisas desde que entramos no carro.

Já faz uns dias que eu praticamente não como, e isso tinha que gerar alguma consequência então eu acabei passando mal. Tive que pedir pra minha mãe me levar na emergência, e por algum motivo na hora ela não reclamou. Mas agora que estamos no caminho pro local, em plenas nove horas da noite, acho que ela mudou de opinião.

— Mãe, eu não lavo o banheiro de má vontade-

— E quanto às outras coisas? Eu não joguei tudo isso na sua cara pra nada, Maria. Me diz. — ela manda, virando seu rosto pra mim algumas vezes. Respiro fundo e tento não revirar os olhos. Eu literalmente desmaiei na sala de casa e ela não tá nem aí. — Maria eu tô falando com você, não vai responder? — ela insiste e eu procuro algo certo pra falar, mas não sai nada. — Quer saber? Eu vou voltar. — ela move o volante prestes à fazer o retorno, mas eu seguro seu braço à tempo.

— Não! — grito. — Me desculpa, mãe. É isso que quer que eu diga, né?

— Ai, Maria, Maria... — ela emite um som de decepção, mas pelo menos continua no percurso pra emergência.

Assim que chegamos, mamãe passa na minha frente pra pegar uma senha e em seguida sentamos nas cadeiras da recepção. Não demorou muito e o número da senha apareceu no telão, indicando para entrarmos numa das salas. Ela me acompanhou como se eu tivesse doze anos, me senti um pouco mal por isso pois eu sei que não é porque ela se preocupa, e sim porque acha que eu não sou capaz.

— Boa noite. — a senhora apontou pra eu me sentar na única poltrona da sala.

Ela fez umas perguntas, como o meu nome completo, minha data de nascimento e outras coisas. Depois pôs uma espécie de pregador no meu dedo e em seguida uma pulseira verde no meu pulso.

Voltamos pra recepção e eu tive que passar por mais alguém pra enfim entrar na lista de atendimento. Assinei os papéis e depois de pouco mais de uma hora esperando, fui chamada.

— Entra, Maria! — minha mãe exclamou ao me ver parada em frente ao consultório, o qual eu não sabia se era o certo.

Sento na cadeira em frente à mesa da doutora e encolho os ombros. Me sinto péssima e intimidada.

— Oi, moça. Então, o que houve? — a mulher de óculos e jaleco branco pergunta docilmente.

— Ela passou uns dias sem comer, e hoje passou mal. Eu avisei, eu sempre aviso. Mas não me dá ouvidos. — minha mãe responde antes de mim.

— Certo. — a doutora alonga a palavra, creio que querendo dizer que não é necessário tantos detalhes. Ela começa à digitar freneticamente no teclado do seu computador. — Você está sentindo dor?

— Só uma fraqueza. Não comi nada antes de vir também.

— Porque não quis, pois eu mandei. — minha mãe acrescenta, e eu lanço à ela um olhar de raiva.

— Por que não quer comer?

— Eu não sinto fome. — minto. Na verdade eu nem sei direito porque não como mais.

— Mesmo assim, não faz bem ficar sem se alimentar. Vou mandar te prepararem alguma coisa, tá? E você vai tomar um remédio também. — a doutora pega uma caneta e anota uma prescrição. Em seguida entrega pra minha mãe, que olha com receio. — Só um momento, pode se sentar na maca se quiser.

Eu faço o que ela disse, e após esperar uns minutos, decido me deitar. Uma moça de uniforme azul e touca aparece com uma bandeja.

— Vamos comer? — ela pergunta com simpatia. Deixo escapar um sorriso, estou começando à me sentir bem por ter vindo. É bom quando as pessoas por mais profissionais que sejam, nos fazem sentir importantes.

Mesmo sem a menor vontade, como o sanduíche de atum que me foi servido, e ao terminar, percebo que gostei bastante.

— Pode ir naquela salinha ali? Vamos te aplicar um remédio. — a moça diz, fazendo um carinho no meu cabelo.

Minha mãe reclamou horrores nos vinte minutos que esperamos alguém chegar com o tal remédio. Fiquei ainda pior quando vi que não estávamos só nós duas na sala. Tinha um moço sentado no canto, ouvindo tudo. Desejei a morte, até que a mesma enfermeira de antes deu as caras.

O remédio está dentro de uma seringa. Ela procurou uma veia saliente nos meus braços, e eu acabei sendo furada na mão. Doeu bem mais do que no braço, mas por alguma razão eu apreciei isso.

Mais tempo esperando, até que finalmente tive alta. Cheguei à pensar que passaria a noite no hospital. De volta pro carro, mamãe ligou o rádio e colocou qualquer música, só pra não pegar no sono. Já passa de uma da manhã.

Ela não reclamou mais, então fiquei um tanto tranquila. Passeio o dedos no curativo, pensando na minha dor interna. A dor que nenhum curativo esconde ou melhora. A merda da dor que é amar um idiota. Me pergunto o que ele tem feito esses dias que não nos falamos.

Ainda bem que a playlist da minha mãe não é sentimental ou romântica, senão eu choraria.

>esse capítulo foi inspirado na minha
noite de ontem<
ultimamente não ando bem, por isso demorei um pouco pra atualizar a fic
mas enfim, espero que gostem <3
vou tentar escrever mais hoje

egoísta [r.l]Onde histórias criam vida. Descubra agora