parte 22.

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Ele me serve e eu bebo rapidamente. Volto devagar pra pista e esqueço que todos dançam. Fico andando como se estivesse num labirinto, ou num elevador lotado. Me sentindo pequena e insignificante.

— Nossa você é um péssimo dançarino. — ouço várias vozes e entre elas a de uma garota. Ela está dançando (ou tentando dançar) com alguém.

— Eu disse. — seu par responde e eu olho para os dois.

Não pensei em achar Rafael junto de alguém assim. Ele não parece estar se divertindo, mas tá claramente bêbado. Paraliso aqui mesmo e não consigo sair, por mais que queira muito.

— Será que beija mal também? — a garota sorri e nessa hora o garoto desvia o olhar e ele acaba parando em mim.

Seus olhos azuis me fitam e parecem desesperados pra fazer alguma coisa. Antes que ele responda, a garota o beija ferozmente. Ele demora um pouco mas acaba cedendo ao ato.

Me viro e acabo dando de cara com Eduarda.

— Agora entendi. — ela me olha com certeza.

— O quê? — tento disfarçar meu incômodo.

— Você foi atrás do Rafael.

— Não, não. Impressão sua. — coloco uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

— Não mente. Eu tô bêbada, mas não tô cega.

— Você tá enganada, isso sim. — pego a garrafa em sua mão e bebo um gole demorado.

— Vamo dançar? — ela muda de assunto, finalmente.

— Vamo. — aceito depois de pensar por uns segundos. Talvez isso amenize a angústia que tô sentindo. — Eu fico desse lado. — troco de lugar com ela, agora conseguindo ver Rafael beijando a garota por trás da minha colega.

Dançamos juntas e ela se aproxima cada vez mais. Gostaria de dizer o que acho do jeito que ela tá invadindo meu espaço e me apalpando, mas não consigo desviar meu foco daqueles dois.

Rafael pega uma garrafa de cerveja de alguém que passou oferecendo. Ele bebe e volta à me olhar. Parece incomodado, frustrado. Na verdade, "embebedado" é a palavra certa.

A garota beija o pescoço dele e por algum motivo isso me deu prazer. Ao sentir o toque de Eduarda, imagino que quem faz isso comigo é ele. Mordo o lábio, sentindo arrepios. Ele dá uma leve revirada de olhos, o que me intriga.

Estaria ele sentindo o mesmo que eu?

Sou surpreendida com um toque mais profundo vindo da minha amiga. Ela segura minha nuca e me beija intensamente. Eu retribuo, imaginando a boca de Rafael distribuindo beijos molhados por todo meu corpo.

Quando ele nota o que fazemos, acaba cuspindo o líquido que ingeria na garota à sua frente. Todos ao redor se assustam com a cena, e a menina mais ainda.

— Que porra foi essa?! Seu nojento! — ela grita antes de dar dois tapas nele, e sair correndo em seguida.

Ele parece não raciocinar direito, e sai andando todo atrapalhado, olhando pra baixo e com uma expressão esquisita.

— Eu já volto, Eduarda. — tento ir atrás dele, mas ela me segura.

— Maria, não. Você já viu que ele não vale à pena. — ela diz, de uma forma tão lúcida que eu quase esqueci que está fora de si.

— Mas... — permaneço parada por um tempo, porém não consigo controlar minha preocupação. — Eu tenho que ir. — corro como se estivesse seguindo os rastros de Rafael.

egoísta [r.l]Onde histórias criam vida. Descubra agora