parte 30.

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Ponto de vista: Rafael

Eu fui um completo imbecil em achar que transando com a Maria todos aqueles sentimentos passariam. É assim que eu sempre achei que funcionasse.

Maior mentira de todas. No momento eu me esforcei até os ossos pra não dizer à Maria que eu a amo. Mas pelo contrário, eu só quero ela mais ainda agora que me adentrei nela, literalmente. Parece a porra de uma obsessão, eu não aguento mais. Essa ansiedade toda vez que fico perto dela, o tesão em lembrar do seu nome.

Ontem ela me chamou na hora da saída e eu voltei à ser ríspido. Creio que dessa vez eu à despedacei por inteira, mas foi melhor pra ela. Pior que ser o cara que rejeita ela depois de transar, é ser o namorado oficial dela. Isso não funcionaria por mil motivos, e o principal é que eu sou um fodido.

Ao chegar em casa depois de mais um dia entediante na escola, sento na minha cama e masco um chiclete que comprei no caminho, querendo me encher de álcool. A terapeuta disse que é como um alarme automático, você nunca sabe quando vai vir a vontade de novo. Por isso o chiclete. Me distrai de quase tudo.

As horas passam e eu decido sair do quarto, depois da minha tia insistir bastante.

— Tudo bem? — ela pergunta quando eu me sento à mesa junto dela e minha vó.

— Não. — respondo honestamente.

— O que houve? — minha vó fala com exaltação na voz.

— Não aguento ficar sem beber. Só isso. — pego um pão e o mordisco.

— Aos poucos você vai esquecer. Acredite, Rafa. Já fazem o que? Duas semanas? — ela aperta minha mão, um gesto de encorajamento.

— Deve ser. Vocês não vão caminhar? — mudo de assunto.

— Não, vamos receber um amigo da nossa antiga igreja, o Henrique. Ele vai trazer os filhos dele aqui. São uma graça.

— Por que?! — pergunto exaltado.

— Rafael, eles são legais. Você pode até fazer amizade com a Clarissa. — minha tia diz.

— Quem é Clarissa? — levanto uma sobrancelha, fazendo pouco caso da situação.

— A filha mais velha. Ela tem sua idade. Aposto que pode ser até melhor que a Maria. Afinal a família dela tem proximidade conosco.

— Impossível... — sussurro.

— Hã? — elas resmungam.

— Nada. Eu ajudo vocês à receberem eles. — levanto e vou até a geladeira.

Elas me fizeram tomar banho e vestir uma roupa "apresentável". Pelo menos não tive que arrumar meu quarto, já fazem meses que não mudo nada de lugar.

A campainha toca e eu vou atender.

— Olá, você deve ser o Rafael. — o tal Henrique me cumprimenta.

— Sim. Você é o Henrique, né? — retribuo.

— Sou. Esses são meus filhos, Bruno e Clarissa. Filha, Clarissa, ei! — ele chama a atenção da filha que está concentrada em seu celular.

— Oi. — ela diz com um tom de desinteresse. Parece nem ter me visto aqui.

— Oi! — o pirralho Bruno acena pra mim.

— Podem entrar. — abro espaço e eles entram.

— Como estão sua vó e sua tia? — Henrique pergunta.

— Você já vai saber.

Em pouco tempo as duas aparecem na sala e recebem as visitas com beijos e abraços. Me pergunto porquê eu nunca os vi na vida, se são tão íntimos assim.

— Já jantaram? Podemos fazer um lanche. — minha vó pergunta toda sorridente enquanto eu tô morrendo por dentro aqui nesse sofá.

— Eu adoraria. Crianças?

— É, pode ser. — Clarissa dá de ombros.

— Eu quero! — Bruno dá pulos de euforia.

Bufo aborrecido quando eles todos vão pra cozinha. Em pouco tempo minha tia volta e me puxa pra lá também, dizendo que eu tenho que socializar.

O que será que Maria está fazendo agora? Chorando por mim ou beijando uma amiga pra me esquecer? Adoraria beijar seu corpo de novo. Sentir a pele dela. Talvez até o fim da noite eu decida escapar e ir procurá-la. Brincadeira. Isso seria burrice...

egoísta [r.l]Onde histórias criam vida. Descubra agora