Aquela tarde na casa de Rafael mudou toda minha percepção sobre sua pessoa. Pela primeira vez ele me amou de verdade e aparentou reconhecer o tanto que eu gosto dele. Quando ele me abraçou antes de me acompanhar até a porta eu me senti completa.
Voltei pra casa antes das seis e não levei sermão da minha mãe. Dormi como um bebê depois de passar pelo menos meia hora sonhando acordada, lembrando de cada momento.
E agora, dois dias depois, não posso permanecer na empolgação de um momento que já passou. Acredito que o certo à se fazer agora é manter a calma e agir com maturidade.
Ontem quase não vi Rafael na escola. Todos da classe estavam bem atarefados com um trabalho que foi passado pra hoje. Fiz trio com duas meninas e nós acabamos de apresentar nossa tarefa.
Volto pro meu lugar e quando abro meu caderno, vejo algo familiar desenhado nele. Uma seta apontando pra folha seguinte. Quando viro o papel, tem um post-it azul. Me lembro exatamente da primeira vez que isso aconteceu. Eu tinha pensado que Rafael escrevera, mas não foi pois ele tinha faltado no dia. E agora, bom...ele não é disso.
"Vá ao banheiro feminino do ginásio na hora da saída." Que merda é essa?
Olho em volta na tentativa de flagrar alguém me espiando. Sem descobrir mais nada, tiro o post-it do papel e o amasso. No fim das aulas corro atrás do loiro pra conseguir falar com ele antes de ir pro ginásio.
— Ei. — puxo sua camisa de leve.
— Te conheço? — ele se vira e põe as mãos nos bolsos.
— Quê? — minha boca fala automaticamente.
— Ah, claro, você é a garota que eu tirei a virgindade no meu sofá dois dias atrás. — ele dá uma risada estúpida.
— Qual o seu problema? — balanço a cabeça de testa franzida.
— Foi brincadeira, Maria. — ele dá de ombros, mas não me parece muito convincente. — Desde quando você banca a difícil comigo? — ele me encara com seu rosto inclinado pra frente.
— Para de ser um idiota comigo. Eu falei que te amo e por isso acha que pode me provocar com isso?
— O que quer que eu faça, Maria? Que eu te chame pra morar comigo? Foi só sexo, não estamos namorando. Acorda. — ele diz do mesmo jeito de antes. Antes de transarmos, antes de eu salvar a vida dele, antes de ficarmos de bem.
Acho que nunca estivemos bem de verdade.
— Então você só me usou? Porque queria transar e eu era a opção mais fácil? — um nó começa à se formar na minha garganta, não faço ideia de como consegui responder isso.
— Maria, uma coisa que eu aprendi com aquilo que fizemos é que não podemos nos aproximar. Nunca. Foi um erro, entendeu? Só me fez sentir pior. — ele desvia o olhar e coça o nariz.
— Mas... — ele sai antes que eu consiga raciocinar direito. — Idiota! — me agacho no chão e o xingo, ficando mais triste à cada lágrima que cai sobre meu rosto. Inconformada também, por ter acreditado nas palavras dele.
Foi tudo enganação. Me sinto um lixo.
— Cadê você?! — chuto uma das portas do banheiro feminino, impaciente e querendo saber logo quem mandou aquele recado.
Ao chegar na terceira porta, a pessoa que está dentro da cabine a abre, dando visão à ninguém mais ninguém menos que a Eduarda.
— Calma, Maria. — ela sai fingindo um susto.
— Foi você? — acompanho os passos dela, a garota vai em frente ao espelho e passa os dedos em volta dos lábios, como se estivesse tirando os borrões de um batom.
— Fui eu, sim. Gostou? — ela me olha através do reflexo e dá uma piscadinha.
— Por quê? — levanto uma sobrancelha.
— Antes da festa você não fez nada à respeito do primeiro bilhete, então resolvi mandar outro. Só pra ver se o nosso beijo clareou sua mente.
— Hã?
— Deixa pra lá. Podemos ser amigas. — ela coloca uma mão no meu ombro.
— Eduarda!
— O que foi? Não me diga que ficou com medo de um post-it? — ela cruza os braços.
— Não. Eu só...Esquece. Hoje não tô bem.
— Foi o Rafael? — ela me olha com um ar de vidente.
— Não. — nego com raiva na voz.
— Claro que foi. Mas já que você não quer falar sobre, podemos relevar sua desilusão. — Eduarda me abraça de lado e nós andamos pra fora do banheiro. — Quer ir na minha casa?
— Pra quê? — tiro seu braço de mim.
— Pra fazer coisas que amigas fazem. Sem malícia, eu juro. — ela dá risada com seu rosto bem próximo do meu, o que fez eu de fato "clarear minha mente".
— Você bebeu? — pergunto ao sentir o forte cheiro em seu hálito.
— Não. Eu posso ter fumado um pouco, mas nada demais-
— Ah, mas que merda! — me afasto dela o mais rápido possível, apressando meus passos pra alcançar a saída antes que qualquer um.
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egoísta [r.l]
Fanfictionquando a atração pode ser dolorosa para ambos. AVISO DE GATILHO: alcoolismo, xingamentos/palavrões, masturbação, sexo e relacionamentos abusivos.