parte 33.

423 39 9
                                    

Ponto de vista: Rafael

Clarissa é o tipo de pessoa que consegue te arrancar a verdade, mesmo que você se esforce o máximo pra que isso não aconteça. Nos últimos dias nós nos aproximamos bastante, e eu me acostumei com o jeito dela. Ela disse que me ajudaria e tem provado que falou sério.

Contei tudo sobre a Maria. Achei que ela fosse ficar com ciúmes mas pra minha surpresa, a garota me veio com uma ideia absurda.

— Você desconta todas as suas mágoas e frustrações no álcool. O que nos leva à regra número um: consciência tranquila. Ou seja, você vai "corrigir" entre aspas, é claro, os seus erros. — ela explica assim que saímos da minha casa.

— O que quer dizer? — bufo.

— Vai pedir desculpas à Maria.

— O quê?! — paro e viro pra ela, que me olha como se ja imaginasse que eu fosse reagir assim.

— Para com isso, eu sei que você gosta dela e se arrepende do que fez. Depois de tudo que me disse, é compreensível que não queira uma relação agora, mas o mínimo que pode fazer é assumir as suas falhas.

— Você acha que é fácil simplesmente ir até ela e pedir desculpa? — aumento o tom de voz.

— Fácil não é, mas é justo. Você aceitou o desafio, não aceitou? Agora tem que ir até o fim. Acredita em mim, vai se sentir muito melhor depois disso. — ela segura minhas mãos.

— Eu não sei. — balanço a cabeça em negativo. — E se ela não quiser me ver?

— Acho que a pergunta certa é: você quer ver ela?

Não é possível, essa menina sempre sabe o que dizer.

— Não. — minto. — Tenho você agora, por que preciso dela? — digo, sarcástico.

— Viu? É exatamente isso. Você não pode ir trocando as pessoas só pelo que te convém. Você gosta da Maria, mas quer odiá-la. Não precisa dizer que gosta dela agora, mas essa merda tem que parar, Rafael. — ela fala com firmeza.

— Senão o que?

— Vai acabar morrendo solitário com as mãos nas bolas. — Clarissa volta à andar e eu levo uns segundos pra entender realmente o que ela quis dizer.

— Tá bom, tá bom. Eu gosto da Maria. Gosto demais, gosto mais do que já gostei de qualquer pessoa. Satisfeita? — corro para acompanhá-la.

— Bastante. Já fez o primeiro passo, que é admitir. Agora vai ser fichinha terminar. — ela sorri e começa a saltitar pela rua.

— Tá mas o que eu digo pra ela? — pergunto, sentindo um aperto do peito.

— Essa é a melhor parte. Na hora você vai saber. Quando gostamos de alguém, só olhando no rosto da pessoa já dá pra se dar conta de tudo.

Solto uma risada debochada.

— Só queria saber como isso vai me ajudar com a bebida. — reviro os olhos.

— Você é surdo? — ela resmunga.

— Tá bom, Clarissa. Já entendi.

— Ótimo, agora me mostra onde é a casa dela. — ela entrelaça nossos braços.

— Você quer que eu faça isso hoje?! — pergunto assustado.

— Sim. A sanidade de duas pessoas depende disso. Agora me fala, qual a direção certa?

— É pra lá. — aponto desanimadamente.

egoísta [r.l]Onde histórias criam vida. Descubra agora