parte 41.

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Observo esse lago e me imagino num conto de fadas, onde no fim as coisas sempre dão certo. É a primeira vez que venho aqui, e já me sinto em casa. O vento soprando meu cabelo, o som das folhas das árvores, o perfume das margaridas.

Levanto meu vestido, o retirando. Entro na água apenas de calcinha e sutiã e nado, sentindo a frieza e o toque das algas nas minhas pernas, na medida em que me movimento.

É tão bom me sentir livre, nem que seja por algumas horinhas. Meu tio me chamou pra vir fazer trilha na mata. É um programa diferente, por isso aceitei. Coisas extravagantes me fazem esquecer outras.

Aproveitei que todos se distanciaram e escapei, vindo até aqui.

— Maria! Maria! — ouço alguém me chamando, e nado até a borda, desesperada pra que não me vejam seminua.

Saio da água e me visto rapidamente.

— Maria! — a voz se aproxima e eu decido respondê-la.

— Eu tô aqui! — grito, e vejo alguém aparecer por trás de uma árvore. — Ah, é você.

— Você tava nadando? — Davi, um dos integrantes do grupo pergunta.

— Sim. — respondo incerta se faço a coisa certa.

— Nem me chama. — ele começa à tirar a roupa.

— Pois é, só que eu cansei de nadar. — sorrio dando as costas e andando pra longe.

— Espera! — ele recolhe suas vestimentas do chão e me segue. — Por que saiu da trilha? Por acaso não gosta?

— Gosto, mas eu quis me afastar. E eu poderia te fazer a mesma pergunta... — caminho sem olhar pra trás. Espero que ele já esteja coberto.

— Caramba. — ele ri e eu me viro, o encarando com uma interrogação. — Só achei engraçado, calma.

— Tudo bem.

[...]

Antes que reencontrássemos o grupo, eles nos acharam primeiro. Estranharam eu estar molhada e o Davi sem camisa, é claro.

— O que aconteceu? — uma menina pergunta, num tom malicioso.

— Nada. — respondo, dando ênfase.

— Melhor você se trocar, Maria. — tio Cristiano entrega minha mochila.

— Onde?

— Entre ali, foi onde eu fiz xixi. — uma moça diz, e eu seguro uma careta.

— Bom saber. — comento indo devagar até a direção apontada.

— Esperaremos aqui.

Troco de roupa calmamente e ao passar por uma pedra grande, esbarro com Davi.

— Ai! — exclamo com o susto. — Tava me espiando?

— Não. Claro que não. Só vim ver se você tá bem. — ele quase gagueja.

— Ah. — atravesso por ele.

— Maria, espera. — ele puxa meu braço. — Tô tentando chamar sua atenção desde o início da trilha. Percebeu?

— Não. — minto.

— Você tem namorado ou namorada? — ele ajeita seus óculos e lança um sorriso animado.

— Não. — alongo a palavra. — Mas não quero namorar você.

— Entendi. — ele abaixa os ombros.

— Não é nada pessoal. É só que...essas coisas são traumáticas pra mim. — digo qualquer coisa. Não tô raciocinando direito, gostaria de ainda estar naquele lago.

[...]

— Ai, como eu odeio mosquito. — a mulher do meu tio reclama, se abanando.

— Quer um repelente?

— Quero, me dá. — ela aceita e começa à passar o creme com cheiro forte no corpo.

Ando de braços cruzados, bem entediada. Davi se aproxima e começa à andar do meu lado. Ele me lembra eu mesma. Isso prova que eu sou tão apaixonada pelo Rafael que dispenso qualquer outra pessoa que se aproxima de mim nessa intenção.

Será que vai ser assim pra sempre? Eu vou ficar presa nessa paixonite e não me relacionar com mais ninguém?

Que tristeza, meu Deus.

— Você tá bem? — ele me acorda de um transe, e eu me dou conta que me afastei de novo do grupo.

Estou parada no meio da trilha, enquanto os outros estão lá na frente.

— Eu sou uma imbecil. — olho pra cima, tentando evitar que as lágrimas caiam.

— Não é não. Me parece muito agradável...e linda.

— Cê nem me conhece! — resmungo.

— É, mas eu gostaria de conhecer. — ele põe uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

— Sério? — pergunto inocente, e claramente carente.

Ele responde com um beijo perto da minha boca. Isso foi como um despertador, me avisando que é hora de acordar. Não tem problema se eu seguir com a minha vida, assim como Rafael.

Beijo Davi com desejo. Ele segura minha cintura e vai levantando sua mão devagar até meu pescoço. Ele parecia tímido até então, mas nesse momento provou que tem atitude.

egoísta [r.l]Onde histórias criam vida. Descubra agora