Minha mãe tem me tratado melhor hoje. É a primeira vez em muito tempo que ela não grita, ou reclama, ou faz chantagens emocionais. Isso me deixou com o humor pra cima. Com uma vontade insana de fazer algo produtivo.
Então lavei o banheiro, varri a casa e estendi as roupas no varal. Ela me agradeceu com um: "É, com o tempo você melhora." e eu cochilei feliz em seguida. Não só por ela ter me tratado bem, mas também porque de certa forma, isso me impediu de pensar no Rafael.
Acho que eles despertam dentro de mim o mesmo sentimento. Aquela necessidade de agradar, de ajudar, de ser o suficiente.
— Como foi na escola? — mamãe me surpreende com essa pergunta no meio do jantar.
Olho pra ela e quase engasgo com o pão que estou comendo. Ela desvia o olhar com um arrependimento nítido em sua expressão.
— Normal. Como todos os sábados. — digo tentando não gaguejar devido ao meu ânimo.
— Sei. Juntando doações pra festa de carnaval...
— Natal, na verdade. — corrijo ela, que balança a cabeça.
— Isso. — ela põe sua louça na pia e saí em seguida.
Depois de comer, vou saltitando até o quarto me sentindo vitoriosa. Nos comunicamos, finalmente. Foi um dos diálogos mais longos que tivemos em anos. Abro os livros do colégio e respondo uns questionários que ainda não foram passados.
Isso me deixa menos desanimada quanto à escola. Apago depois de saber que respondi tudo certo. No dia da aula é só reescrever, cobrindo as marcas que a borracha deixou.
Meu celular começa à tocar. É o número da tia de Rafael. Meu coração acelera na hora, como se não ouvisse o nome dele há anos. Atendo no terceiro toque, pensando se minha mãe se incomodou com o som, caso tenha ouvido.
— Alô?
— Maria, é você? — ouço a voz da avó dele.
— Sim, senhora. — respondo e ela suspira aliviada.
— O Rafael saiu no início da tarde e ainda não voltou. Você sabe de algo?
— Não. Ele disse onde ia? — pergunto, ficando no mesmo nível de preocupada que ela.
— Claro que não. Parece que ele gosta de nos deixar desesperadas. — ela começa a chorar.
— Mãe, vai sentar. — a tia toma posse do celular. — Maria, não conhecemos ninguém da escola dele além de você. Será que você poderia procurar ele? Ou talvez perguntar aos outros alunos se sabem algo dele? Por favor.
— Claro, eu vou fazer isso agora mesmo. Logo depois eu passo aí pra falarmos pessoalmente. Fiquem calmas, ok? — levanto da cama num pulo e já vou logo guardando meus materiais.
Ela desliga e eu dou voltas no meu quarto, pensando em como começar. Rafael me assombra tanto.
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egoísta [r.l]
Fanficquando a atração pode ser dolorosa para ambos. AVISO DE GATILHO: alcoolismo, xingamentos/palavrões, masturbação, sexo e relacionamentos abusivos.