parte 9.

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Ponto de vista: Rafael

— O que você acha, Rafael? — os caras sentados ao meu lado na sala de aula perguntam.

— O quê? Eu não acho nada. — respondo não dando a mínima pro que eles possam estar se referindo.

— Nossa, alguém tá viajando. — João debocha fazendo gestos com as mãos.

— Vai se foder. — imito os gestos dele, fazendo os outros rirem.

— O que tá acontecendo aí no fundo? — a professora pergunta em alto e bom tom. — Não me façam mudá-los de lugar de novo.

— Tá tudo bem, professora. Só estávamos comentando que o meu amigo Rafael aqui... — Miguel apoia sua mão nas minhas costas. Nessa altura do campeonato, todos pararam pra nos olhar. — Tá muito distraído hoje.

Bato minha mão no meu próprio rosto, cansado de se meterem na minha vida.

— Não importa. Apenas fiquem quietos, certo? — a professora diz o que eu queria que ela dissesse, finalmente.

Os moleques começam à rir baixo e eu me encosto na cadeira onde estou sentado. Olho pro lado e reparo que apesar do resto da classe não prestar mais atenção em mim, alguém permanece me encarando. Claro que é ela, a Maria.

Sua feição é triste como de costume. Fico olhando pra ela de volta na intenção de saber até quando a garota pretende me encarar desse jeito. Até que durou tempo demais, dou uma risada baixa e sarcástica, desviando minha atenção.

Já de volta em casa, vou direto pro banho. No almoço minha tia e minha vó ficaram me fazendo perguntas do tipo: como eu passei a noite, se tive pesadelos, se fiz amigos na escola, se a terapia vai bem. Eu sei que elas se preocupam e o culpado dessa merda toda sou eu, mas ainda sim sinto raiva por todos terem pena de mim.

Principalmente a Maria. Agora que ela sabe do meu problema, vai ficar na minha cola o tempo todo pra saber se eu estou bem, assim como minha família. Isso consegue ser ainda pior, porque quanto mais ela se aproxima, mais grosseiro eu sou com ela. E quanto mais grosseiro, maior é a minha ansiedade para que ela continue se preocupando.

Eu sou um otário. Um idiota. Um fracassado, problemático, depressivo. Eu na certa seria a pior coisa que aconteceria na vida daquela menina, se tivéssemos algo.

— Já vamos, Rafael. Qualquer coisa ligue! — minha vó grita da sala.

— Tá bom! — respondo depois de revirar os olhos. Ela falou isso bem na melhor parte do vídeo que estou assistindo.

Minha tia escondeu toda bebida alcoólica que tinha em casa. O que significa que ela levou pra casa de alguém, ou vendeu. Da última vez que esconderam, eu encontrei em meia hora sozinho. Dessa vez me sinto cada vez mais preso.

Quando o vídeo acaba, começo a sentir uma queimação no peito. Uma mistura de tristeza e raiva ao mesmo tempo. Largo o aparelho em cima da cama e vou rapidamente até a cozinha. Procuro algo que sirva como calmante, mas meus remédios também foram escondidos.

— Merda! — dou um soco no vento, sentindo a raiva crescer. — Por qu...Por que? — me sento atrapalhadamente numa das cadeiras em volta da mesa. Parece que minha cabeça tá girando de tensão.

Não consigo chorar. Já tentei, mas não consigo. Depois de uns cinco minutos, volto pra o quarto e pego novamente meu celular. Entro no grupo da sala e procuro o contato de Maria. Ao contrário do meu, o dela contém uma foto de perfil.

É uma foto bem bonita, está em preto e branco e nela Maria dá um leve sorriso. Seu cabelo longo e escuro solto, sua pele pálida, seus lábios finos. Tiro um print da tela e entro num dos links do Pornhub que colei no meu bloco de notas.

Me masturbo lembrando dos olhares que trocamos na sala de aula nos últimos dias. Isso não significa porra nenhuma, é claro, ela é só mais uma que tem pena de mim.

egoísta [r.l]Onde histórias criam vida. Descubra agora