parte 38.

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Quem me recebeu foi a tia dele. Ela cortou o cabelo, está diferente. A avó continua exatamente igual, quem sabe até mais carinhosa que antes. Elas me serviram um copo d'água e o Rafael observou nossa curta conversa até as duas saírem da sala.

Ele se senta ao meu lado e um flashback surge na minha mente bem rápido.

— Não vai dizer nada? — Rafael pergunta, com as mãos apoiadas nas pernas. — O que tá acontecendo, Maria?

Não consigo encara-lo.

— Nada. — respondo fitando a parede.

— Pode me dizer ao menos com quem tá morando?

— Por que? — balanço a cabeça, fazendo pouco caso. Ele demora pra responder. — Me diz.

— Porque esse tempo todo eu me perguntei: Ela tá bem? Ela me perdoou de verdade? Ela tá irritada? Ela conseguiu superar o que eu fiz? — ele suspira.

— Eu tô bem, Rafael.

— Não, você não tá. Olha pra mim. — ele move meu queixo. — Eu nunca vou cansar de te pedir perdão. Posso pedir mais um milhão de vezes, se for preciso.

— Não é só por sua causa.

— Então é o que? — ele franze a testa, perplexo.

— Tudo. — encolho os ombros e olho em volta. — Nada tem graça. Ninguém me quer, ninguém gosta de mim. Nem minha mãe...

— Ela te expulsou de casa? Foi isso?

— Não importa. Foi o melhor. Mas nem sempre o melhor nos conforta. — torço o nariz.

Um silêncio se instala e nós ficamos nos olhando. Minhas pernas voltam à tremer.

— Eu posso te ajudar? — ele pergunta, o que me deixa meio envergonhada.

— Não. — respondo, engolindo seco. — Eu não devia ter vindo aqui. Parece que vai acontecer tudo de novo. Me dói muito ter que vir e olhar pra você outra vez. — encaro minhas mãos, juntas. — E você parece feliz e realizado. Eu não aguento mais. — abaixo a cabeça.

— Ei. — ele me puxa de leve para me abraçar. — Eu devia ter te procurado esse tempo que nos afastamos. Mas alguma coisa me dizia que se você negou aquela vez, foi porque cê tava bem do jeito que tava. Eu jamais podia imaginar que...Bom, eu segui com a minha vida, eu melhorei, mas não dá pra ficar bem se você não tá bem.

— Eu pretendia não falar com você nunca mais... — pisco lentamente, como se estivesse falando isso pra mim mesma.

— Eu te amo, Maria.

Olho pra ele em choque.

— Você acabou de dizer-

— É. Não consegui falar aquele dia na porta da sua casa, mas sim. — seus olhos estão vermelhos. — Eu nunca amei ninguém como amo você. E cê já devia saber disso, então mesmo que não adiante nada, eu tô aqui te falando tudo. E não é da boca pra fora, isso eu te garanto.

Mal consigo respirar, não acreditando no que acaba de acontecer. Isso foi como a flecha do cupido me atingindo, e ao mesmo tempo uma faca bem afiada.

— Impossível. — penso alto, ainda raciocinando.

— Entenda uma coisa: você precisa ficar bem. Eu não quero te ver triste desse jeito de novo. Mesmo que não queira minha ajuda, por favor, se cuide. Seu sorriso vale demais pra mim. — ele acaricia minha mão.

Instantaneamente um sorriso se forma no meu rosto e meus olhos se iluminam. Ele dá uma curta gargalhada e me dá um beijo na testa.

egoísta [r.l]Onde histórias criam vida. Descubra agora